A ousadia de ser jovem

A ousadia de ser jovem

Muito mais que um estado de vida, a juventude é um estilo de vida!

É penoso perceber o envelhecimento precoce de nossos jovens, aqui denomino precocidade e velhice os seguintes quesitos: Falta de ousadia, comodismo, poucos e baixos ideais de vida, subjetivismo virtual, coisificação da vida humana, pouca ou nenhuma criatividade. Não que a velhice traga necessariamente estes fatores, mas quando a alma perde seu referencial que é Deus a caducidade é uma consequência na sociedade!

Os termos acima cunhados denotam a pouca ação de nossos jovens, falta-nos uma juventude desbravadora em todos os âmbitos: da religião, da família, da sociedade. A ausência de sonhos e ideais tem sido a peça mais marcante da juventude de nossos tempos, por não haver sociabilidade, cordialidade e acima de tudo relação pessoa a pessoa, na idolatria midiática e virtual nos deparamos com a bela crítica de Renato Russo na música “Índios”, onde ele aponta o peso da domesticação dos índios na América Latina pelos Europeus: “Nos deram espelhos e vimos um mundo doente”. Se com os avanços da modernidade adquirimos tesouros, de forma especial no campo da cientificidade, na relação pessoa a pessoa, paradigma fundamental onde verdadeiramente o ser humano se realiza enquanto vocação para o amor, estamos descobrindo um mundo doente!

Quando eu falo de pouco desbravamento no âmbito da juventude, não quero com isso dizer que os jovens são estagnados, e sim, que a ação do jovem em nossos dias é muito mais na rede social que na vivência comunitária, o agir virtual é importante, no entanto, sem vivência comunitária, não de cunho virtual, este agir é utópico! A mídia representa o grande avanço da chamada pós-modernidade, mas o preço que estamos pagando por ela é o isolamento subjetivo, é fácil criticar e discordar pelo facebook, twitter, mas é no calor humano do tét a tét, do corpo a corpo, das qualidades e defeitos, diferenças e semelhanças que vamos criar um mundo novo!

Precisamos avançar, precisamos de ousadia! “Necessitamos de um novo Pentecostes! Necessitamos sair ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades e dos povos para lhes comunicar e compartilhar o dom do encontro com Cristo, que tem preenchido nossas vidas de sentido, de verdade e de amor, de alegria e esperança! (Aparecida 548).

A experiência de Pentecostes ressignificou todo o agir humano, uma vez que este foi revestido de uma força divina que muda o homem por dentro, não se trata de uma simples roupagem, e sim, de uma mudança ontológica, o Espírito verdadeiramente faz o homem novo (Ez 11,19; Atos 1,8)! O ser jovem perpassa a maturidade fisiológica, sendo um estado de espírito! O que caracteriza este estado de espírito são os ideais a serem desbravados, a audácia da conquista, a alegria e temor de enfrentar o novo, porém sem nunca desistir!É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca (Dom Hélder Câmara).

“A ideia de juventude hoje apresenta características muito particulares, que podemos associar à condição pós-moderna (…). O futuro vai sendo tecido dia após dia, sem grandes planos ou objetivos de longo prazo de vida. Como indivíduos autônomos e livres, suas ações parecem ser determinadas apenas tendo como objetivo maior a maximização de um estado de prazer. O desprazer passou a ser percebido como uma circunstância a ser eliminada, pois que não deveria fazer parte da vida”[i].

Quando apresento a juventude como estilo de vida, não tenho pretensão de fazer apologia à “síndrome de Peter Pan”, ao contrário, quando se tem meta e objetivo a velhice nada mais é que aprimoramento de virtudes alcançadas no correr dos dias!“A maioria dos jovens da atualidade não tem sonho, nem maus nem bons. Eles não têm uma causa para lutar”. (A. Cury).

Segundo o poeta romântico Frances Alfred de Vigny“O que é uma grande vida senão um pensamento da juventude realizado pela idade madura?”É essa a ousadia jovial da qual precisamos nos apossar, lutar por um ideal que não passa! E digo mais, esse ideal tem nome, chama-se “Reino de Deus”!

Quando o jovem descobre Jesus Cristo e experimenta seu amor vê descortinar diante de si um mundo novo, cujos valores ultrapassam de longe os bens materiais ou qualquer outra forma de hedonismo; é uma vida nova, cheias de ideais, robusta de ousadia, tem uma dimensão existencial tão forte que se torna uma fonte da juventude. Sábias são as palavras do famoso filosofo Cicero “Assim como gosto do jovem que tem dentro de si algo do velho, gosto do velho que tem dentro de si algo do jovem: quem segue essa norma poderá ser velho no corpo, mas na alma não o será jamais”.

Ninguém melhor que nosso saudoso Papa João Paulo II para delinear os traços de um jovem verdadeiramente ousado! “Agora mais que nunca é urgente que sejais as “sentinelas da manhã”, os vigias que anunciam a luz da alvorada e a nova primavera do Evangelho, da que já são vistas os brotos. A humanidade necessita imperiosamente o testemunho de jovens livres e valentes, que se atrevam a caminhar contra a corrente e a proclamar com força e entusiasmo a própria fé em Deus, Senhor e Salvador”[ii]

[i]Szapiro a. M. & Resende, C. M. a. (2010). Juventude: etapa da vida ou estilo de vida? Psicologia & Sociedade, 22(1), 43-49.

[ii] Mensagem do Papa Joao Paulo II para a XVII Jornada Mundial da Juventude. 25 de julho de 2002


 

Autor: Carlinhos Faria – Teólogo – Membro da Comunidade Javé Nissi

Comunidade Javé Nissi

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