Depressão pós-parto: da tristeza materna à tristeza profunda

Depressão pós-parto: da tristeza materna à tristeza profunda

Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo.” (Efésios 5:28)

Diferente e mais grave que o baby blues ou tristeza materna (quadro benigno que acomete cerca de 80% das mulheres, é um estado de humor depressivo que costuma ocorrer logo após a primeira semana pós-parto e que passa no máximo em quinze dias, não exigindo tratamento), a depressão pós-parto acontece porque a mulher gestante precisa passar pelo ciclo gravídico-puerperal (gravidez e pós-parto), que envolvem algumas importantes transformações, as quais são vividas de formas diferentes por cada uma delas: a primeira grande transformação é deixar de ser filha para ser mãe; a segunda é a transformação da autoimagem corporal; e a terceira é a transformação da relação entre a sexualidade e a maternidade.

Cada ciclo envolve uma reorganização psíquica que se entrelaça e acontece de forma rápida, portanto é necessário aceitar cada transformação e reconhecer a ambiguidade de sentimentos vindos com a maternidade.

Aquela mulher que não é capaz de lidar com essas transformações ocorridas com o nascimento do bebê tende a passar pela depressão pós-parto. Neste momento, é necessário a atenção do esposo e da família aos sintomas, pois dificilmente a mulher reconhece-os: tristeza profunda, irritabilidade, mudanças bruscas de humor, indisposição, doenças psicossomáticas, desinteresse pelas atividades do dia a dia e sensação de incapacidade pelos cuidados do recém-nascido, podendo chegar ao extremo – atitudes e pensamentos suicidas e homicidas em relação ao bebê.

A depressão pós-parto acomete entre 10 a 20% das mulheres, podendo iniciar na primeira semana após o parto e perdurar até dois anos. Alguns estudos correlacionam fatores de risco com a depressão pós-parto: sintomas ou depressão antes ou durante a gestação, história de transtornos afetivos e psicóticos, mulheres que passaram por problemas de infertilidade, problemas e dificuldades na gestação, violência obstétrica, vítimas de carência social e familiar, dificuldades de elaboração do luto por perda de entes queridos ou que perderam filhos anteriormente, desarmonia conjugal e pais que se casaram sem planejamento ou em decorrência da gravidez.

O diagnóstico precoce torna-se fundamental para salvar a vida da mãe e do bebê e, assim, garantir a saúde mental deste, pois o vínculo mãe e filho e a amamentação são ameaçados com o transtorno. O acompanhamento pré-natal e familiar contribuem para o diagnóstico e são aliados ao tratamento psicoterápico e psiquiátrico. Atualmente, os grupos de gestante têm caráter psicoprofilático e, portanto, ajudam no diagnóstico e tratamento precoces.


 

Autor:  Lú Cazaroto – Psicóloga – Comunidade Javé Nissi

Comunidade Javé Nissi

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