A terceirização da infância – parte III: A apropriação da função materna e paterna

A terceirização da infância – parte III: A apropriação da função materna e paterna

“Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; Para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra. E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor” (Efésios 6,1-4)

Na edição anterior da Revista Javé Nissi abordamos o tema “a Terceirização da Infância” e nesta edição vamos dar continuidade ao assunto abordando novos aspectos que devem ser levados em consideração na educação dos nossos filhos, momento oportuno para refletirmos e angariar argumentos para que não nos desanimemos da árdua tarefa de educarmos nossos filhos, crentes de uma própria moral e ética.

É certo que antigamente a relação que se estabelecia entre pais e filhos era baseada na autoridade que estes exerciam sobre seus filhos.
Atualmente é comum os pais acovardarem-se diante do poder que seus filhos exercem sobre eles e sobre todas as situações. Essa ‘inversão’ tem acontecido justamente porque os pais, assoberbados com suas inúmeras tarefas, acabam delegando a responsabilidade dos cuidados de seus filhos para terceiros e, portanto, como forma de redenção deixam seus filhos decidirem desde o mais básico (cardápio para o jantar, o que deve ser comprado, qual viagem fazer etc.). Com esse novo padrão de comportamento surge o enfraquecimento da autoridade, gerando dificuldades de relacionamentos e problemas sociais.

Os pais ao transferirem suas responsabilidades à escola, leva-a para perda do seu principal ‘foco de trabalho’-  a escolarização. Este fato pode ter contribuído para a tentativa de apropriação da educação dos nossos filhos feitos pelos nossos governantes. Da vulnerabilidade dos laços afetivos e familiares, a promoção e fomentação de uma nova regra, uma nova moral, uma nova ética, incluindo parâmetros religiosos e dogmáticos para que assim, possam exercer seu perverso poder sobre todos nós.

Com a terceirização da infância surge um problema de engenharia social. A atenção deve ser voltada ao que, desde a primeira infância, temos proposto aos nossos filhos como educação!

Para a criança se desenvolver e sobreviver, ela necessita desde o nascimento de cuidados e os pais são os que representam o principal e maior vínculo com seus filhos. É pensando nisso que enfatizamos que os cuidados devem sempre partir deles.

A ausência, seja fisicamente ou por um cuidado não suficiente, pode comprometer o seu senso de realidade. A ausência paterna pode ser vivenciada negativamente e influenciar atos de violência e delinquência na adolescência, independentemente de classe social. A falta de vínculos, modelos e comportamentos a serem seguidos são impulsos prejudiciais sentidos como abandono, falta de carinho e atenção e desamor.

Alguns transtornos mentais como a psicose – esquizofrenia e autismo – vem acometendo muitas crianças, o que pode, segundo muitos estudos, ter uma relação direta com a terceirização e abandono afetivo.

É comum queixas de baixa autoestima, agressividade, dificuldades de relacionamento pessoal e outros sintomas descritos por professores e pais. O adoecimento da sociedade começa com a revolução industrial e nos tornamos vítimas de uma cultura capitalista, entretanto, refletir e discutir, passando da alienação para a consciência em relação aos nossos deveres enquanto pais pode ser a solução mais coerente para um novo padrão de ações frente ao desenvolvimento infantil e posteriormente para a saúde mental a nova geração de adultos.

Autor:  Lú Cazaroto – Psicóloga – Comunidade Javé Nissi

Comunidade Javé Nissi

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