O Clamor do Pobre

O Clamor do Pobre

A vocação cristã implica na participação efetiva na construção da “cidade nova”, a “civilização do amor”, como dizia o beato João Paulo II. A conversão e a fé em Jesus Cristo, nosso Salvador, exigem que coloquemos a serviço desta construção nossos talentos, capacidades, riquezas, tempo.

Um dos assuntos centrais da questão social é a distância que existe entre ricos e pobres. O papa Paulo VI, frequentemente pedia às pessoas abastadas e de classe média para ouvirem “o clamor do pobre”. Ele dzia: “Vocês ouvem aumentar com insistência cada vez maior, fruto do abandono pessoal e miséria coletiva, o clamor do pobre”.

Em qualquer sociedade o clamor do pobre pode ser ouvido: crianças que clamam porque não têm o suficiente para comer, os doentes que clamam porque não dispõem do cuidado adequado para a saúde, os idosos que clamam porque suas pensões não podem ser esticadas, pais que clamam porque não podem prover seus filhos.

O papa Paulo VI levantou a questão que deve ser enfrentada por todo o cristão: “Como que o clamor do pobre vai encontrar eco em suas vidas?” Ele diz insiste, “em suas vidas”, porque cada um de nós que professa ser seguidor de Cristo tem a responsabilidade de escutar o clamor do pobre e dar uma resposta.

Mas o que podemos fazer? Paulo VI esquematizou um programa de três pontos em resposta à questão. Reflitamos rapidamente sobre esses três pontos:

  1. O clamor do pobre vai nos levar a tornar real a justiça social em nossas vidas. Ou seja, vai impedir de nos envolvermos em qualquer forma de injustiça social. Somos chamados a “despertar nossas consciências” às exigências da justiça social. Precisamos nos posicionar em favor da dignidade humana e dos direitos fundamentais da pessoa humana. Tomar posição contra as instituições e estruturas injustas onde quer que as encontremos.
  2. O clamor do pobre não nos permitirá ser levados pela busca desenfreada dos bens materiais. Em um mundo saturado pelos bens materiais, dos mais caros aos dispositivos descartáveis, precisamos examinar nosso estilo de vida. Numa sociedade em que algumas pessoas estão se asfixiando com bens materiais em maior quantidade do que podem usar, enquanto que a outras faltam às necessidades básicas da vida, precisamos decidir quais são nossas reais necessidades. Não estamos também sendo convocados pelo Espírito à simplicidade evangélica?
  3. O clamor do pobre vai nos pressionar a partilhar nossos bens e posses com os outros. O ensinamento de Cristo e da Igreja a esse respeito é uma “palavra dura”, da qual muitas pessoas fogem. “A propriedade particular não se constitui para ninguém um direito absoluto e incondicional. Ninguém pode se justificar ao guardar para seu uso exclusivo o que não necessita, quando outros passam necessidades” (PP 23).

Existem muitas maneiras pelas quais podemos partilhar com o pobre. Podemos partilhar através de nossas Comunidades, Casas de Formação, Pequenos Grupos, isso quando adquirirmos a consciência de que não podem existir necessitados em nosso meio. (At 4,34)

Mas, nós devemos partilhar! Não podemos deixar de responder ao clamor do pobre e ainda chamarmo-nos de cristãos. O Cristo a quem amamos e servimos, nasceu pobre, viveu uma vida pobre, e morreu pobre. Ele era rico e se fez pobre por causa de vocês, para enriquecer vocês por meio de sua pobreza (2Cor 8,9).

Ao examinar o ensinamento de Jesus quanto aos bens materiais, Jesus identifica-se com o faminto, com o estrangeiro, o doente, o prisioneiro. Uma das passagens mais comoventes do Novo Testamento está na cena do Juízo Final do Evangelho de São Mateus. Jesus deixa surpresos seus ouvintes quando diz: “eu estive com fome e vocês não me deram comida…” Imediatamente eles querem saber quando foi que o viram com fome e não lhe deram comida. Sua resposta: “Cada vez que vocês deixaram de fazer uma dessas coisas a um destes meus irmãos humildes, foi a mim que vocês deixaram de fazer” (Mt 25,42-45).

O Concílio Vaticano II ensina: “Os cristãos nada podem desejar mais ardentemente do que prestar serviço aos homens do mundo de hoje, com generosidade sempre maior e mais eficaz. Deste modo, aderindo fielmente ao Evangelho e alimentados com as suas forças, unidos a todos que amam e praticam a justiça, receberam uma tarefa imensa a ser desempenhada nesta terra e da qual devem prestar contas Àquele que julgará todos os homens no último dia”. (GS 93)

Em Cristo

Tatá

Tácito Coutinho - Tatá - Moderador do Conselho da Comunidade Javé Nissi

Moderador do Conselho da Comunidade Javé Nissi

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