2º Congresso Teológico Pastoral da RCC-BR – setembro de 2006

2º Congresso Teológico Pastoral da RCC-BR – setembro de 2006

Conclusões: Reflexões sobre batismo no Espírito Santo

Moderadores:

Reinaldo Beserra dos Reis

Tácito José Coutinho

I – INTRODUÇÃO

As realidades espirituais existem independentemente de as conhecermos ou não. Não é a nossa teologia quem determina como as realidades espirituais são, ou atesta sua veracidade. Na verdade, elas é que tem a capacidade de alimentar a nossa reflexão teológica na correra direção – entendendo-se aqui por correia direção os resultados positivos que a reflexão deve gerar em nossa vida, contribuindo para com um progressivo aproximar-se da santidade, na comunhão com Deus.

Parece-nos, pois, que no campo da especulação teológica, mais do que saber se as teorias são falsas ou verdadeiras, interessa-nos saber se elas são férteis ou estéreis.

Destaco esse meu modo de pensar a reflexão teológica – mesmo sem ser teólogo, no estrito sentido -, porque não me agradaria refletir sobre, por exemplo, a questão do lugar do chamado Batismo no Espírito Santo no contexto da doutrina católica, apartada da análise do impacto prático, experiencial, que ela deve ter em nossas vidas.

Interessa-me refletir sobre batismo no Espírito Santo tendo como referência básica a maneira como ele tem – ou não – afetado as nossas vidas, a vida do povo da Renovação Carismática Católica, e da Igreja como um todo. Creio que nossa reflexão só atingirá seu real sentido se nos ajudar a nos abrirmos mais e mais a um relacionamento pessoal com Jesus Cristo vivo e ressuscitado – coisa essa que é exatamente a centralidade do ministério do Espírito Santo. Abrir-se ao Espírito Santo e aos seus dons, para produzirmos os frutos que nos identificam como verdadeiros discípulos de Jesus Cristo (uma vez que, carismas, por si só, não são garantia de nossa adesão ao Seu projeto, conforme l Cor 13, 1-13, e Mt 7, 21-23). Ser batizado no Espírito e receber sua força para melhor testemunhar, com a vida, a Jesus de Nazaré, pois é a Ele – Jesus –  à sua morte e ressurreição, que somos chamados a pregar – e não ao Espírito Santo e seus dons, somente… Importa, pois, ao refletirmos sobre o batismo no Espírito Santo, termos também em mente as perguntas: tem o Espírito alcançado os seus propósitos em minha vida? Na vida da R.C.C.? Na vida da Igreja, como um todo? As dificuldades e as fundamentações relativas ao batismo no Espírito serão trazidas aqui nesse fórum de modo muito competente por pessoas reconhecidamente capacitadas. De minha parte, eu gostaria de ressaltar as conseqüências que sua ausência ou equivocada percepção tem provocado – especialmente do ponto-de-vista pastoral – no seio da Renovação Carismática.

Que o Senhor nos dê completa ciência de que, “nós não recebemos o espírito do mundo, mas sim o Espírito que vem de Deus, que nos dá a conhecer as graças que Deus nos prodigalizou, e que pregamos numa linguagem que nos foi ensinada não pela sabedoria humana, mas pelo Espírito, que exprime as coisas espirituais em termos espirituais” (l Cor 2, 12-13).

II – A GRAÇA DE PENTECOSTES

A graça de Pentecostes é parte de um aspecto essencial do plano de Deus e do mistério pascal. Suas raízes estão na visão de Deus, revelada explicitamente na Carta aos Efésios: “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo, e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos. No seu amor, nos predestinou para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua livre vontade, para fazer resplandecer a sua maravilhosa graça, que nos foi concedida por ele no Bem Amado” (Ef 1, 3-6). O que estava na mente de Deus desde toda a eternidade, tornou-se um fato real no tempo, através do poder criativo de Deus. O homem e a mulher eram, por natureza, seres humanos e, pela graça, filhos e filhas do Deus de amor. Neste estado ideal, não havia necessidade nem do mistério pascal nem da graça de Pentecostes.

Infelizmente, esse estado ideal de unidade e amor foi quebrado, devido ao mau uso do dom do livre arbítrio, o que resultou em pecado e alienação de Deus e de uns para com os outros. Devido ao pecado, os seres humanos perderam sua relação privilegiada com Deus. Daí a necessidade do mistério pascal do qual é parte a graça de Pentecostes. Como a primeira criação não respondeu adequadamente à graça da adoção, houve a necessidade de uma nova criação, não pelo aniquilamento, mas pela redenção e a reconciliação. Esta nova criação vem através do mistério pascal. Jesus, através de seu sangue, trouxe o perdão do pecado e a reconciliação com Deus. O Espírito foi derramado sobre as novas criaturas que acreditaram e aceitaram o plano de Deus.

Como resultado, tornamo-nos uma nova criação. Mas, para viver esta vida de santidade, irrepreensíveis e cheios de amor, Jesus e o Pai derramam o Espírito sobre aqueles que acreditam e aceitam o plano de Deus. Deste modo, o papel do Espírito é santificar e capacitar os que estão redimidos e reconciliados, para que possam testemunhar e ministrar como discípulos de Jesus no poder do Espírito.

Esta graça de Pentecostes foi experimentada inicialmente por Jesus, como prenúncio das coisas que viriam, por ocasião de seu batismo no rio Jordão. “Quando todo o povo ia sendo batizado, também Jesus o foi. E estando ele a orar, o céu se abriu: e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como uma pomba…” Esta graça de Pentecostes foi experimentada oficialmente pelas cento e vinte pessoas que estavam no Cenáculo, em Jerusalém, como realização das promessas e do plano de Deus. Mas, esta graça de Pentecostes, nas palavras de Pedro, não se destinava somente a eles; “Pois a promessa é para vós, para os vossos filhos e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus” (Atos 2, 39).

A graça do Batismo é a graça da redenção e da participação na vida divina de Deus. Nós nos tornamos templos do Espírito Santo e somos chamados a viver no espírito. A graça de Pentecostes é a ativação da força do Espírito, que já nos foi dada no Batismo, mas que agora é energizada e liberada para o ministério em nome do Reino de Deus.

Através desse dom, somos chamados a seguir, conduzidos pelo Espírito. A graça do Batismo é dada para que possamos crescer em santidade, como discípulos de Jesus. A graça de Pentecostes é liberada para que possamos cumprir nossa missão de testemunhas de Jesus, com sinais e prodígios como nossas credenciais. Assim, através deste especial favor da parte de Deus, seremos capazes de cumprir o mandado de Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas,” (Jo 14,12).

A graça do Batismo incorpora a pessoa ao Corpo de Cristo. A graça de Pentecostes dá-lhe poder de agir em nome de Jesus, em favor do Corpo de Cristo e em benefício da edificação do Corpo. A graça do Batismo nos capacita a dizer; “Jesus Cristo é o Senhor”, pelo poder do Espírito. A graça de Pentecostes nos torna aptos a exercer os dons do Espírito e os diversos ministérios no Espírito, para completar as obras do Espírito, quu são, todas elas, destinadas à realização do plano de Deus.

Como Deus deseja que todos sejam salvos, assim também a graça do Batismo se destina a todos, ainda que nem todos aceitem essa graça ou, se aceitam, não respondam totalmente a ela. Do mesmo modo, a graça de Pentecostes se destina a todos, ainda que nem todos a recebam ou, se recebem, não entendam o alcance da graça dada e a responsabilidade que exige. A graça do Batismo e a graça de Pentecostes são dadas uma vez, mas, devido à nossa natureza humana, devem ser reavivadas para brilharem novamente, para que o plano de Deus se cumpra em nossas vidas, tal como entendia Paulo, quando escreveu a Timóteo: “Por este motivo, eu te exorto a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos” (2 Tm 1,6).[1]

Ill – “DNA” CARISMÁTICO

Aquilo que identifica, que distingue a Renovação Carismática Católica dentre outras expressões da Igreja (Movimentos, Pastorais, Organismos, Associações, etc), é a leitura , a maneira como ela interpreta o significado do Pentecostes histórico ocorrido em Jerusalém logo após a ascensão de Jesus. E a RCC – e não somente ela! – identifica esse evento ocorrido naquela festa de Pentecostes com o chamado batismo no Espírito Santo, especialmente em decorrência da afirmação do próprio Jesus, quando ordenou aos apóstolos “que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem aí o cumprimento da promessa de seu Pai, ‘que ouvistes, disse ele, da minha boca: porque João batizou na água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo daqui a poucos dias! (…)…pois descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os confins do mundo”. (Atos 1,4-5.8)

Esse texto, juntamente com outros consignados no Novo Testamento[2] constituem, por assim dizer, o núcleo essencial da experiência que marca aqueles que se identificam com o Movimento. Com a conseqüente manifestação dos carismas que o Espírito houver por bem conceder, dão visibilidade à própria identidade da RCC, pois, a pertença ao que chamamos de Renovação Carismática não se realiza primordialmente através de uma opção por um tipo diferenciado de espiritualidade, ou da aceitação de uma doutrina e de uma liturgia com tinturas de emocionalismo, de cânticos alegres, de louvores efusivos, mas sim através de uma experiência, de um novo encontro com uma pessoa divina, que dá à nossa vida um novo horizonte espiritual, um novo envio, um novo impulso missionário, uma acelerada disposição em nosso processo de conversão pessoal rumo à santidade… ao que chamamos batismo no Espírito Santo!

Para a Renovação Carismática, ser batizado no Espírito significa, de modo especial:

  • Entregar-se significativamente ao Espírito (não só sentir-se “tendo-o”, mas, sentindo-se de/e!)
  • Deixar-se conduzir pelo Espírito, (não apenas ser por Ele “habitado”, mas ser guiado por Ele, rumo a Jesus e à santidade).
  • Ter a sabedoria, a percepção do Espírito, daquilo que é revelado nas Escrituras.
  • Abrir-se a uma nova apreciação à vida de oração, aos sacramentos, à vida da comunidade eclesial (um novo entendimento das coisas de Deus).
  • Receber uma nova disposição para novas missões, para o exercício de ministérios (especialmente para a pregação com poder, com ousadia, com destemor…)
  • Ter a força (prometida) de Deus – inclusive para ser c^paz de suportar afrontas, humilhações, por causa do nome de Jesus (caminho que vai da “renúncia a si mesmo” até o martírio, se preciso for).

“No fundo do movimento pentecostal existe – não obstante todas as diferenças – uma convicção comum: é que o batismo no Espírito Santo é um acontecimento extremamente importante e pode dar-se na vida de qualquer cristão. É o fundamento de uma plena “vida-no-Espírito” de cada cristão e da Igreja de Cristo como um todo; é o fundamento da vida de oração e do testemunho missionário”.[3]

Trata-se, pois, de experiência concreta da graça da perenidade de Pentecostes, na qual a ação do Espírito Santo torna-se realidade experimentada na vida do indivíduo e da comunidade de fé. Trata-se de “ser batizado no Espírito, receber força, e testemunhar a Jesus Cristo”.

Trata-se de um novo envio, nova capacitação, nova percepção a respeito da pessoa do Espírito, que age, hoje, aqui e agora, na história dos homens, e não simplesmente de adesão a um modismo espiritual com conotações extravagantes, de aleluias, línguas estranhas, repouso no Espírito. Isso tudo pode ocorrer, mas, será legítimo tanto quanto mais acolhermos e nos abrirmos ao relacionamento pessoal com essa pessoa divina.

Quem se diz pertencer à RCC deve “ter em seu DNA” as marcas dessa experiência de repleção, de efusão, de se deixar, de se permitir ser conduzido pelo Espírito Santo.

IV- RCC – DESAFIO PASTORAL E TEOLÓGICO

Dom Paul Josef Cordes dizia que a “Renovação Carismática tem sido descrita como descoberta empírica do poder do Espírito Santo na Igreja e em seus membros, o que exige reflexões teológicas e pastorais, para que a Renovação permaneça viva no coração da Igreja”. “Devemos reconhecer – dizia ele – que essa profunda percepção do relacionamento pessoal a que a Renovação chama batismo no Espírito Santo, ou, derramamento do Espírito Santo, não faz parte de nenhum movimento em particular, mas da Igreja, que celebra os sacramentos da iniciação”.[4]

No entanto, devemos admitir que, essa percepção que acontece de forma praticamente aleatória na vida do povo de Deus de um modo geral, é tida na RCC  como  uma  realidade  normativa,   um  objetivo  a  ser alcançado,  um acontecimento que “se espera que aconteça”. Vejamos duas citações magisteriais:

“A cristologia, e especialmente â eclesiologia do Concílio, deve seguir-se um estudo renovado e um culto renovado do Espírito Santo, precisamente como complemento indispensável do ensino conciliar” (Paulo VI, na Audiência Geral de 6/6/1973).

E João Paulo II, na Encíclica Dominum et Vivificantum, dizia:

“A Igreja (…) proclamou, desde o início, a sua fé no Espírito Santo. (…) Esta fé, proferida ininterruptamente pela Igreja, precisa ser incessantemente reavivada e aprofundada na consciência do Povo de Deus” (n° 1 e 2).

Quem, na Igreja, em sua práxis, de maneira contínua e sistematizada, propõe a realização disso? A RCC, sem dúvida…

“A Renovação Carismática Católica tem ajudado muitos cristãos a redescobrir a presença e o poder do Espírito Santo em suas vidas, na vida da Igreja Católica e do mundo”, dizia João Paulo II aos membros do Conselho do ICCRS, em 1979…(e repetiu isso por diversas outras vezes!)

Mas, diria eu, esse apostolado de Pentecostes, a RCC o tem realizado de forma um tanto quanto isolada, e sob perceptível e adversa pressão.

Não tem sido fácil encaixar essa  que, para a Renovação Carismática, é uma essencial experiência, na “normalidade doutrinária da Igreja”. A RCC não tem o apoio explícito da Igreja na questão do enunciado do batismo no Espírito Santo. Parece assim, falando-se em amplo sentido, que existe uma certa tolerância para com a espiritualidade da RCC, desde que ela seja transigente com a tradicional e não renovada visão teológica a respeito do significado do sacramento do Batismo. Segundo essa visão sacramentalista estrita:

  1. Não há que se falar em “batismo no Espírito Santo”, pois que “há um só batismo”. Cf. Ef4,5.
  2. No Batismo (Sacramento), o fiel já recebe o Espírito Santo, de forma definitiva, não havendo portanto necessidade de outros “batismos” no Espírito Santo, ou de novas “vindas”, novas “replecões”.
  3. No Brasil, o Doe. 53 da CNBB foi enfático em nos aconselhar a “evitar o uso da expressão “batismo no Espírito Santo”.
  4. Muita gente (mas muita gente, mesmo!), especialmente do clero, “torce o nariz” quando se toca no assunto de experiência do Espírito, de curas, de libertação do mal, de falar em outras línguas, profecias carismáticas… e, isso tudo, é parte essencial da espiritualidade de Pentecostes!
  • Pergunto: existe algum documento oficial da Igreja que se refira à essa experiência da qual estamos falando como sendo o batismo no Espírito Santo?
  • Muitos teólogos, simpatizantes da RCC, ao escrever sobre o assunto, rodeiam, rodeiam e não chegam a usar o termo como sendo o mais adequado para expressarmos o que queremos dizer.
  • O próprio papa João Paulo II, ao falar sobre essa experiência, assim evitou o confronto: “A Igreja e o mundo tem necessidade de santos, e nós somos tanto mais santos quanto mais deixarmos que o Espírito Santo nos configure com Cristo. Eis o segredo da experiência regeneradora da “efusão do Espírito”, experiência típica que caracteriza o caminho de crescimento proposto pêlos membros dos vossos Grupos e das vossas Comunidades. (João Paulo II, 14/03/2002, à RCC na Itália).

Obviamente, o Espírito Santo não espera pela nossa “adequada” enunciação de suas operações, para agir. Ele continua soprando onde, como, quando e em quem quer. E – como já dissemos – nossas conceituações em nada modificam o significado e a realidade do seu operar. Mas a RCC precisa provocar reflexões, avançar, pressionar pelo reconhecimento claro daquilo que, é, segundo seu entendimento, fundamental para a capacitação de todos, na Igreja, para o serviço de testemunhar Jesus Cristo com poder. A RCC crê:

  1. Que Sacramento do Batismo não é o mesmo que batismo no Espírito Santo (cf. At 1, 4-8)
  • Pentecostes não foi uma cerimônia pública de ministração do Sacramento do Batismo
  • At 8 – Filipe e os samaritanos – os samaritanos tinham sido batizados, e só depois receberam o repleção do Espírito.
  • At 10 – Pedro na casa de Cornélio – Os presentes não tinham ainda sido batizados, mas receberam, (antecipadamente), a efusão do Espírito.
  • At 19 – Se todo crente já recebe a efusão, por que perguntaria Paulo àqueles de Éfeso, se já tinham recebido o Espírito?
  1. Que o Sacramento da Confirmação tem suas raízes no Pentecostes, mas não encerra em si todo o conteúdo daquela experiência.

Refletindo sobre a relação do batismo no Espírito Santo com o Crisma, o Pé. Salvador Carrillo Alday, M. Sp.S.[5], nos propõe a seguinte consideração:

“O Sacramento da Confirmação sem dúvida alguma tem suas raízes no acontecimento do Pentecostes. Assim se expressou a Constituição Apostólica sobre a Confirmação, quando declara: ‘O sacramento da confirmação perpetua na Igreja, de alguma forma, o dom do Pentecostes’”.[6]

Este sacramento, contudo, não esgota o conteúdo daquela experiência pneumática. O Pentecostes contém uma riqueza tão grande que não pode ficar reduzido unicamente à Confirmação. O que permanece no sacramento da Confirmação é que por ele se recebe o Dom do Espírito Santo, mas de forma alguma a Confirmação exclui outras efusões do Espírito Santo, sacramentais ou extra-sacramentais.[7]

E neste contexto, o batismo no Espírito Santo, que é uma efusão especial do mesmo, sem se confundir com a confirmação, também se origina e se explica à luz do mistério do Pentecostes.

Por outro lado, se a Confirmação não esgota o Pentecostes, menos ainda o batismo no Espírito Santo corresponde ao Pentecostes em toda a sua riqueza. O. Pentecostes, evidentemente, supera a Confirmação e o batismo no Espírito Santo”.

  1. O batismo no Espírito Santo não é necessário à salvação, (embora Deus o queira para todos), mas é fundamental para a capacitação para o serviço, para a missão, e para o testemunho (cf. At 1, 4-8; Jo 20, 21-22; A. A. 3).

“A atividade missionária exige uma espiritualidade específica, que diz respeito, de modo particular, a quantos Deus chamou a serem missionários. Tal espiritualidade exprime-se, antes de mais nada, no viver em plena docilidade ao Espírito, e em deixar-se plasmar interiormente por ele, para se tornar cada vez mais semelhante a Cristo. Não se pode testemunhar Cristo sem espelhar sua imagem, que é gravada em nós por obra e graça do Espírito. A docilidade ao Espírito permitirá acolher os dons da fortaleza e do discernimento, que são traços essenciais da espiritualidade missionária.

Paradigmático è o caso dos apóstolos que, durante a vida pública do Mestre, apesar do seu amor por ele e da generosidade da resposta ao seu chamado, mostram-se incapazes de compreender suas palavras, e renitentes em segui-lo pelo caminho do sofrimento e da humilhação. O Espírito transforma-los-á em testemunhas corajosas de Cristo e anunciadores esclarecidos de sua Palavra: será o Espírito quem os conduzirá pelos caminhos árduos e novos da missão.

Hoje, como no passado, a missão continua a ser difícil e complexa. Requer igualmente a coragem e a luz do Espírito, vivemos, tantas vezes, o drama da primitiva comunidade cristã, que via forças descrentes e hostis “coligarem-se contra o Senhor e contra o seu Cristo” (At 4,26). Como então, hoje é necessário rezar para que Deus nos conceda o entusiasmo para proclamar o Evangelho.

Temos de perscrutar os caminhos misteriosos do Espírito e, por ele, nos deixarmos conduzir para a verdade total (cf. Jo 16,13).(…) Como os apóstolos depois da ascensão de Cristo, a Igreja deve reunir-se no Cenáculo “com Maria, a Mãe de Jesus” (At 1,14), a fim de implorar o Espírito e obter força e coragem para cumprir o mandato missionário. Também nós, bem mais do que os apóstolos, temos necessidade de ser transformados e guiados pelo Espírito. (JOÃO PAULO II, in Redemptoris Missio, n° 87/92).

4 Que todo cristão já tem o Espírito Santo, mas não que necessariamente já tenha feito uma adesão pessoal e explícita a Jesus Cristo (cf. CT 19).

  • Note-se os cristãos só de nome.
  • Note-se a situação dos “cristãos por procuração” batizados quando crianças.

“Sem dúvida, todo cristão foi ‘batizado no Espírito’ quando recebeu o sacramento do Batismo na infância. Mas poucos fiéis tomam consciência da vida nova que o Batismo lhes trouxe. Os encontros da Renovação Carismática têm conseguido despertar essa consciência, constituindo-se como verdadeiro ‘Batismo no Espírito Santo’ para os conscientizados”.[8]

  1. Que Batismo no Espírito Santo é o Pentecostes pessoal disponibílizado a todo cristão, (cf. At 2, 38-39).

O batismo no Espírito é a ocasião em que a pessoa se converte, escolhe livre e pessoalmente Cristo como seu Senhor, confirma o seu batismo. É como quando o interruptor, permitindo a passagem da corrente, provoca o contato e faz que a luz se acenda.

Por esses motivos, é justo, repito, ver o batismo no Espírito em relação com o batismo-sacramento, como seu complemento ou renovação. Mas isso não é suficiente; ainda não se disse tudo. Vimos que a frase “batizar cem Espírito Santo” não se refere apenas ao que faz Jesus no sacramento do batismo, abrangendo toda a sua obra e, em especial, Pentecostes. Não podemos explicar o atual batismo no Espírito unicamente como um efeito retardado do nosso batismo sacramental. Não é só o nosso batismo o que é “revivido” com este; também o são a confirmação, a primeira comunhão, o matrimônio, tudo. Trata-se de fato da graça de “um novo Pentecostes”. Uma iniciativa nova, livre e soberana da graça de Deus que se funda como todo o resto, no batismo, mas que não acaba aí. Não faz referência apenas à iniciação, mas também ao desenvolvimento e à perfeição da vida cristã.

Só desse  modo se explica a presença do batismo no Espírito entre os pentecostais, para os quais a iniciação é um conceito estranho e o próprio sacramento do batismo não possui a importância que tem para nós, os católicos. O batismo no Espírito tem em sua própria raiz uma dimensão ecumênica que é necessário preservar a todo custo.[9]

  1. Que a repleção do Espírito – possível após Pentecostes – é sempre acompanhada de mudanças, de transformações, de sinais do operar do Espírito (cf. At 10, 45-46; e Pedro identifica esse fato com o batismo no Espírito, cf At 11, 15-16).

“É uma graça que muda a vida. No Congresso Internacional de Pneumatologia, que ocorreu no Vaticano por ocasião do XVI centenário do Concílio Ecumênico de Constantinopla, em 1981, falando da Renovação Carismática e do batismo no Espírito, o teólogo Y. Congar disse: “Uma coisa é certa: trata-se de uma realidade que muda a vida das pessoas”, (cf. CANTALAMESSA, Raniero, opus cit., pg 144).

  1. Que Batismo no Espírito é dom de Deus, é promessa do Pai (e não oriundo da lei, ou de vontade humana).

Abaixo, uma argumentação do pentecostalismo clássico, que sugere uma maneira de se perceber a diferença entre as realidades que identificamos corno batismo-sacramento e batismo no Espírito Santo (Não que eu esteja propondo a adoção do ponto-de-vista do pentecostalismo clássico). Ilustro tal argumentação com um texto de Santo Agostinho e outro de Dom Paul J. Cordes, que fazem referência também ã Confirmação.

“Ao descreverem a experiência plena ou pentecostal do Espírito, (…) os pentecostais usualmente preferem a designação “batismo em” (ou com) o Espírito, ao invés de “batismo de (ou por) o Espírito. Embora, pois, todo o cristão, ao tornar-se cristão, foi batizado pelo Espírito-como-agente (1Cor 12:13a), os pentecostais acreditam que nem todo cristão ainda foi batizado por Cristo-como-agente em ou com o Espírito -como-elemento (Marcos 1:8 par.;1Co 12: 13b). Ou seja: os pentecostais acreditam que o Espírito batizou todo crente em Cristo (a conversão), mas que Cristo ainda não batizou todo crente no Espírito (o Pentecostes). O teólogo pentecostal Williams tem a seguinte maneira de explicar esta distinção algo complexa: ‘No novo nascimento, o Espírito Santo é o Agente, o sangue expiador o meio, o novo nascimento o resultado; no Batismo no Espírito, Cristo é o Agente (‘Ele vos balizará com o Espírito Santo e com fogo’), o Espírito é o meio, e o revestimento do poder o resultado’” (III, 47).[10]

“Assim, portanto, o homem recebe a vida espiritual no Batismo, que é uma regeneração espiritual: ao passo que na Confirmação o homem atinge a maioridade perfeita. Por assim dizer, da vida espiritual. Logo, o Papa Melquíades diz: “O Espírito Santo, que desce sobre as águas do Batismo, levando a salvação nas Suas asas, outorga na pia batismal a plenitude da inocência, na Confirmação, porém, outorga um aumento da graça. No Batismo nascemos de novo para a vida; depois do batismo, somos reforçados” (Sum. Theol. III, q. 72, art. 1). (…)

(…) E, portanto, pelo sacramento da Confirmação o homem recebe um poder espiritual a respeito de ações sagradas diferentes daquelas a respeito das quais recebe poder no Batismo, No Batismo, pois, recebe poder para fazer aquelas coisas que pertencem à sua própria salvação, no tocante à sua vida particular: ao passo que na Confirmação recebe poder para fazer aquelas coisas que pertencem ao combate espiritual com os inimigos da Fé” (ibid., art. 5).[11]

“A Igreja afirma que, juntamente com a eucaristia, os sacramentos do batismo e da confirmação são os da iniciação à comunhão com Deus e à confraternidade do povo de Deus (Catec 1212). Contudo, os teólogos fazem distinção entre o “banho do novo nascimento” (cf. Tt 3,5) e a concessão do Espírito Santo pela imposição das mãos (p. ex., At 19, 1-7), demonstrada claramente pela erudição bíblica e patrística. Os dois aparecem na iniciação cristã, juntos ou separados, mas relacionados um com o outro (cf. At 10, 44-48).”[12]

V- UMA (PEQUENA) VISÃO CONJUNTURAL

A falta de um posicionamento claro da parte da Igreja em relação á doutrina do batismo no Espírito Santo parece contribuir com a dificuldade que a RCC tem, enquanto liderança, em levar o seu povo a abrir-se adequadamente a essa experiência, aceitando-a como pertinente e legítima. Muitos parecem sentir-se em uma condição de “transgressão doutrinária” ao tratar do assunto, e hesitam em se abrir à recepção dessa benção, dessa graça. E quando ela escasseia em nossos espaços, em nossos ambientes, em nossas dinâmicas, permanecemos “na periferia” da experiência pentecostal, e os sinais de sua ausência logo se tornam perceptíveis:

  1. Um grande número de coordenações da RCC, em todas as instâncias, não temos manifestado em nossa prática religiosa as evidências do batismo no Espírito Santo. Não há sinais. Não se nota poder nas pregações. Não há continuado ensino – e, conseqüentemente, formação – que estimule e aprofunde o conhecimento sobre a Pessoa e a ação do Espírito Santo, ou sobre a cultura de Pentecostes. Não ocorrem verdadeiras profecias em nossas reuniões com a frequência que se era de esperar (comumente, o que se vê são “não profecias”, ou, citações bíblicas proclamadas como profecias carismáticas). As línguas limitam-se a um “louvorzão” coletivo, com muita música, e raros momentos de escuta. Não há, de fato, evidências de uma espiritualidade de Pentecostes.
  2. As coordenações parecem estar sendo escolhidas, na maioria das vezes, baseadas em critérios humanos (com verniz de “discernimento espiritual”), mas sem levar em conta os critérios do Espírito, o critério dos carismas – que devem estar previstos na base de todo serviço. Analisamos as condições dos possíveis candidatos à coordenação a partir ( e tão somente) de critérios humanos: disponibilidade de tempo, condição financeira, conhecimento intelectual do assunto, etc. E dizemos que “Deus capacitará “os escolhidos”, esquecendo-nos de que Deus faz isso, sim, desde que Ele tenha participado da escolha, desde que Sua vontade tenha sido respeitada… Aí, o mais simples e frágil dos escolhidos pode se tornar instrumento poderoso nas mãos do Senhor. Do contrário, amargaremos e pagaremos o preço e as conseqüências por nossas más escolhas que não levaram em conta a vontade de Deus. Porque líder na Renovação Carismática precisa ser aquele que necessariamente fez a experiência do batismo no Espirito Santo, e manifesta isso em seu ministério.
  3. O batismo no Espírito está se tornando mais um “dado conceitual” que uma ocasião de experiência de Deus. Acreditamos nele, na teoria dele, mas mais como um elemento doutrinário do que como alguma coisa que eu tenha experimentado. Fazemos, também nas assembléias, um “grande louvor”, e pedimos a repleção sem nos preocuparmos em conferir os resultados, sem averiguar os sinais. (E não existe Pentecostes sem sinais, sem poder, sem manifestação de carismas). Supomos que as pessoas na assembléia já sabem a respeito de batismo no Espírito; oramos de forma generalizada (não especifica), e nos quedamos contentes com a “sensação de bem-estar” que a oração propicia. Não “perdemos mais tempo” em explicar, preparar, motivar, orar, escutar, acompanhar. “Se você “cré” no Batismo no Espírito”, você já é “dos nossos…”. E não entendemos porque o nosso ensino não gera mais lideranças comprometidas, nossas pregações não provocam conversões radicais, nossa oração não é acompanhada de sinais, e nossos grupos de oração cada vez se tornam mais rotineiros, repetitivos, insossos…
  4. Observa-se uma sensível banalização do exercício do dom das línguas nos nossos grupos e assembléias. Notemos como parece ocorrer uma “automatização” na nossa oração em línguas. “Puxamos” a oração no microfone, paramos de orar abruptamente e nos dirigimos a um irmão (servo) ao lado, damos a ele algumas instruções, voltamos a nos “conectar” na oração, paramos de novo, voltamo-nos para o ministério de música, falamos qualquer coisa, retornamos ao “chandara-kandara”, procuramos alguém com os olhos e, movendo a cabeça, damos sinal para que alguém compareça perto de nós (sem parar a “oração”!), e procuramos uma passagem na Bíblia, ou algum aviso para ser dado, e… assim por diante!… Diz a Palavra que nossa oração em línguas é dirigida a Deus, pois estamos a falar de “coisas misteriosas sob a ação do Espírito”, (1Cor 14, 2). Ora, se essa oração só “interessa” a Deus, é importante que ela seja uma oração “interessante” para Ele. Não se trata de simplesmente ficarmos emitindo sons de maneira “mecanizada”, “automatizada”, de repetição cadenciada, mas sem sentido, interrompida continuamente. Não! É preciso que esses sons aparentemente desconexos estejam em estreita ligação com uma intenção do nosso coração, dos nossos sentimentos (de louvor, ou adoração, ou intercessão, ou petição, ou de contrição, etc, conforme a orientação e a condução do momento). Sem tradução, sim, mas não sem sentido…) É um sintoma sério, na medida em que consideramos o dom de línguas se não como uma evidência, mas como conseqüência do batismo no Espírito. Se a conseqüência está banalizada…
  5. Há uma substituição progressiva da atividade carismática por mero ativismo religioso. Organizamos isso, aquilo, e aquilo outro, e pomos nisso tudo, o melhor de nossas energias, sem levar em conta a dinâmica carismática que deve estar preserve em nossas atividades e organizações. Pomos “mais de nós, e menos de Deus”, nas coisas…
  6. Estamos, em muitas realidades, regredindo a patamares onde já estivemos em tempos passados: somos grupos de Igreja que tem consciência a respeito do significado do evento Pentecostes, que acreditamos na totalidade do que ocorreu em Pentecostes, mas que NÃO EXPERIMENTAMOS PENTECOSTES!

(Porque, quando se o experimenta, nota-se! Há conseqüências, há sinais, não na vida de “algumas” pessoas ungidas do grupo, mas na vida de todos os que experimentam… E enquadramo-nos, assim, dentre aqueles de quem dizia João Paulo II no Pentecostes de 2004, para os quais “Pentecostes ainda não é uma realidade viva…! E, creiam, isto está ocorrendo entre nós!!!)

  1. Tudo muito subjetivo? Há dois anos está em andamento na RCC do Brasil um Projeto visando difundir a espiritualidade de Pentecostes – conforme pediu o papa João Paulo II – e que tem por eixo central uma novena carismática que culmina com o batismo no Espírito Santo. Um Projeto aprovado pelo Conselho Nacional, em Assembléia. Pois mais ou menos 80% de nossas dioceses – e de nossas coordenações estaduais – nem se deram ao trabalho de divulgar – ou ler, creio eu – o projeto… Há mil outras atividades em andamento: formações de outras expressões da Renovação, da Evangelização 2000, Seminários de Vida dados durante o horário dos Grupos de Oração (sem pastoreio posterior; dados, na verdade, para quem já freqüenta o Grupo, como uma forma de “mudar um pouco a rotina” das coisas), Encontros e mais encontros sobre tudo o que se possa imaginar -especialmente sobre cura e libertação -, mas sem tocar neste que é o projeto central da RCC no momento. Congressos Nacionais de Ministérios acontecem ( e também congressos diocesanos, estaduais… sem que um só tema, um só momento, uma só palavra, seja dedicada a difundir o projeto… (e pensar que os Ministérios são organizados para, dentro do exercício específico de determinado carisma, colocar em andamento (executar) os projetos discernidos pela Presidência e pelo Conselho!). Não consta na pauta… Supomos que todos já estão versados na plenitude do Espírito…

VI – RCC: UMA ESTRATÉGIA DE DEUS

Deus tem um propósito muito específico ao vocacionar, nesses tempos, na Igreja, essa expressão chamada Renovação Carismática (assim como, obviamente, também o tem ao suscitar tantas outras expressões). Dizia João Paulo II: “Sempre quando intervém, o Espírito deixa-nos maravilhados. Suscita eventos cuja novidade causa admiração; muda radicalmente as pessoas e a história. Esta foi a experiência inesquecível do Concílio Ecumênico Vaticano II, durante o qual, sob a guia do mesmo Espírito, a Igreja redescobriu como constitutiva de si mesma a dimensão carismática”.[13]

E disse ele – como já vimos – que nós temos “o segredo da experiência regeneradora da efusão do Espírito, experiência típica que caracteriza o caminho de crescimento proposto” pela RCC.

Em outra ocasião, dizia ele: “… eu estou convencido de que este movimento é um verdadeiro componente na renovação total da Igreja, nesta renovação espiritual da Igreja”. (11/12/79, aos membros do (então) ICRO, em audiência especial com o Cardeal Suenens).

De que “renovação espiritual” está a Igreja a necessitar? Teórica? É de “teologia pneumatológica” que a Igreja está carente? Por certo, não. Da existência do Espírito Santo, todos na Igreja estão convencidos. É, preciso, no entanto, redescobrir “a presença e a ação do Espírito Santo (TMA 45). É dos sinais e da atualidade de Pentecostes que a Igreja tem necessidade (cf. Paulo VI). É para que Pentecostes se torne uma realidade viva na Igreja que João Paulo desejava que sua espiritualidade se difundisse (vigília de Pentecostes de 2004)… Ou será que quando Paulo VI dizia.[14]

Já nos perguntamos, muitas vezes, quais são as maiores necessidades da Igreja… Que necessidade julgamos a primeira e última para a nossa abençoada e dileta Igreja?… Devemos dizer, com a alma trepidante e absorta na oração, que a Igreja tem necessidade do Espírito Santo, que é seu mistério, sua vida… A Igreja tem necessidade de seu perene Pentecostes; tem necessidade de fogo no coração, de palavra nos lábios, de profecia no olhar”; “Mais que nunca, a Igreja e o mundo precisam que o milagre de Pentecostes continue na história”.

Estava ele se referindo ao sacramento do Batismo? Ou à experiência de Pentecostes, caracterizada pelo batismo no Espírito Santo?

A Renovação Carismática não terá cumprido o papel a que foi vocacionada se não estiver sendo capaz de colaborar com Deus e com a Igreja em seu propósito de levar as pessoas, dentro e fora dela, a fazer a autêntica experiência do Pentecostes identificada nas Escrituras com o batismo no Espírito Santo.

A promessa é para todos. Podemos viver e nos salvar sem ela; mas, sem ela, prosseguiremos servindo a Deus na energia da carne, negligenciando o poder que nos é oferecido no dom de Seu Espírito; negligenciando a única força capaz de transformar o mundo e estabelecer entre os povos a civilização do amor (cf João Paulo II, a 14/03/2002).

Os que temos feito a experiência do Espírito, não podemos nos esquecer das advertências da Palavra:

  1. É possível resistir ao Espírito (At 7, 51)
  2. É possível contristá-lo (Ef 4,30)
  3. É possível extingui-lo de nossa práxis (l1Tes 5, 19-20)
  4. Fiquemos com a melhor advertência: “Enchamo-nos do Espírito”! (Ef 5, 18b)

VII – FINALIZANDO

Ao fim da Exortação Apostólica Christifideles Laici, sobre a vocação e a missão dos leigos na Igreja e no mundo, João Paulo II ressalta a importância de se ter consciência da dignidade de nosso Batismo (sacramento):

“É de particular importância que todos os cristãos tenham consciência da dignidade extraordinária que lhes foi conferida no santo Batismo: pela graça somos chamados a tomarmo-nos filhos amados do Pai, membros incorporados em Jesus Cristo e na Sua Igreja, templos vivos e santos do Espírito”.

E, para que cresçamos nessa consciência, o Santo Padre invoca e intercessão da Virgem Mãe, assim:

Ó Virgem Santíssima, Mãe de Cristo e da lgreja(..,),

Tu que estiveste no Cenáculo

Com os Apóstolos em oração,

À espera da vinda do Espírito de Pentecostes,

Invoca a Sua renovada efusão

Sobre todos os fiéis leigos, homens e mulheres,

Para que correspondam plenamente

À sua vocação e missão,

Como ramos da “verdadeira videira”,

Chamados a dar “muito fruto”

Para a vida do mundo[15].

 

“E agora, irmãos, o que faremos?” – At 2,37

 


Bibliografia

  • RAHM, Haroldo J. sj e LAMEGO, Maria – Sereis batizados no Espírito Santo, Edições Loyola, 1972
  • SMET, Valter sj – Eu faço um mundo novo, Edições Loyola, 1975
  • GHEZZI, Bert – Se o Senhor não construir, Edições Paulinas, 1976
  • MÜHLEN, Heribert – Fé cristã renovada, Edições Loyola, 1973
  • TORREY, R.A – O Batismo com o Espírito Santo, Editora Betânia, 1973, 2ª edição
  • SUENENS, S. J. Cardeal e vários – Orientações teológicas e pastorais para a Renovação Carismática Católica (Documento de Malines 1), Edições Loyola, 1975
  • FALVO, Serafino. – A hora do Espírito Santo, Edições Paulinas, 1975
  • BYRNE, James – A realização das promessas de Deus, Edições Paulinas, 1976
  • CLARK, Stephen B. – Os dons espirituais, Coleção Novo Pentecostes, Edições Loyola, 1976
    • _ Batizados no Espírito Santo, Coleção Novo Pentecostes, Edições Loyola, 1975
  • CORDES, Dom Paul Josef Cardeal – Reflexões sobre a Renovação Carismática Católica, Edições Loyola, 1999
  • COUTINHO, Tácito José Andrade – Não vos afasteis de Jerusalém, Editora Santuário, Coleção RCC – Novo Milênio nº 15, 2003
  • REIS, Reinaldo Beserra – Celebrando Pentecostes, Projeto de Avivamento da Espiritualidade de Pentecostes (Fundamentação e Novena), Editora Canção Nova e Ministério de Formação, 2004
  • CONGAR, Yves, Creio no Espírito Santo, Vol. 1 e 2, Edições Paulinas, 2005

[1] Dom Sam G. Jacobs, Bispo de Alexandria, Louisiana (EUA), in Charisindia Magazine, maio de 2004.

[2] Mt 3, 11; Lc 3, 16; Mc 1,7-8;Jo 1,33; At 11.16, e 1Cor 12,13

 

[3] SCHOONENBERG, Piet, in “A experiência do Espírito Santo ” (vários autores), Editora Vozes, 1979, pg 90

[4] Reflexões sobre a Renovação Carismática Católica, Ed. Loyola, 1999, pgs 21 e 27. 12

[5] In “O batismo no Espírito Santo”, Ave Maria Edições. 1997, pgs. 30 e 31.

[6] A Constituição referida no texto diz: “Desde essa época os Apóstolos, cumprindo a vontade de Cristo, comunicaram aos neófitos, mediante a imposição das mãos, o Dom do Espírito, que infundia a plenitude da graça do batismo (At 8, 15-17; 19.5ss).

Assim aconteceu que, como lemos na Carta aos Hebreus, entre os elementos da primeira formação cristã, se praticava a doutrina dos batismos e da imposição das mãos. Esta imposição das mãos era considerada, com sólidos motivos, pela tradição católica, como o princípio do sacramento da confirmação, que perpetua, de certa forma, o dom do Pentecostes” (Const. Apostólica Divinae consortium naturae, Notitiae 7 – 1971-334).

[7] O próprio Pentecostes não excluiu outras efusões do Espírito Santo. Nos Atos 4, 31, lemos: “Mal acabaram de rezar, tremeu o lugar onde estavam reunidos. E todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam com intrepidez a palavra de Deus”. – Na linha dos sacramentos deve-se lembrar a efusão do Espírito que é conferida através do sacramento da Ordem e a comunicação da graça e do Espírito Santo que cada sacramento confere

[8] BETTENCOURT, E., O que é preciso saber sobre a Renovação Carismática, síntese do livrinho homônimo de MIRANDA, Dom António Afonso, bispo de Taubaté (Editora Santuário, Aparecida, 1993), ïn “Pergunte e Responderemos”, Ed. Lúmen Christi, Rio de Janeiro, n. 374 (julho de 1993), p. 320

[9] CANTALAMESSA, Raniero, in “Ungidos pelo Espírito”, Edições Loyola, 1996, pgs 142 e 143

[10] Citado por BRUNER, Frederick Dale, in “Teologia do Espírito Santo”, Edições Vida Nova, 1970, pg. 47.

[11] Sum. Theol. III, q. 72, art. 1 e art 5

[12] Opus cit (nota n” 4 do rodapé), pgs 27 e 28.

[13] 28 de maio de 1998, no Discurso aos participantes do Congresso Mundial dos Movimentos Eclesiais

[14] 29/11/1972, L ‘Osservatore Romano de dezembro de 1972 e Z, L’Osservatore Romano de 17/10/1974.

[15] Ch L 64.

Comunidade Javé Nissi

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