Drogas e Dependência

Drogas e Dependência

Vigiai e orai, para que não entreis em tentação, na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca. (Mat 26, 41)


O fenômeno das drogas angustia os pais, causa reocupações nos educadores, intriga as autoridades e fascina nossos jovens. Muitos são contra o seu uso, para exigir medidas de repressão, para punir os traficantes e para doutrinar a juventude no desenvolvimento de programas de prevenção Mas o consumo continua a crescer pelo mundo e alastra-se pelo Brasil.

De todos os seres vivos do planeta, nós, seres humanos, somos em escala os mais dependentes: dependemos de outro Ser, durante muitos anos, afetivamente e também para podermos nos alimentar, para a higiene e para viver em sociedade. A dependência é caracterizada como um estado de imaturidade natural no processo do desenvolvimento humano e, de acordo com as experiências vivenciadas, vamos evoluindo de forma gradativa em busca de nossa independência emocional.

Nossos pais participam de um papel de extrema importância nesse processo: ajudar os filhos a amadurecer e dar subsídios para que consigam sua independência emocional. Com o papel materno, a criança aprende a ser afetiva, bondosa e gentil; se orienta para o mundo. Com o papel paterno, a criança aprende as regras e os limites.

Para entendermos o que tudo isso tem a ver com as drogas, precisamos entender que elas têm um papel muito relevante na vida do usuário: o papel de deixá-lo dependente. Como já dito, somos seres dependentes, principalmente de afetos; e, quando há alguma interferência na relação pais-filhos, cria-se uma permissividade para as drogas – os filhos deixam de ser dependentes do humano e passam a ser dependentes de substâncias,  pois elas trazem a sensação de autossuficiência “eu não preciso de afeto e apoio de ninguém”.

As drogas trazem malefícios fisiológicos, psíquicos, espirituais e sociais.   O grande sinal de alerta para os pais são as mudanças de comportamento: troca de amigos ou de turma; não trazer os novos amigos para o convívio da família; irritabilidade; perda do apetite ou o comer compulsivo e desmedido; alteração profunda no ritmo de sono, troca do dia pela noite; maneira de se vestir; ser roubado frequentemente (poderá estar trocando seus objetos por droga); mudança drástica quanto ao aproveitamento escolar; isolamento; falta de cuidado com o corpo; perda inexplicável do emprego; ausências; mentiras constantes, mesmo que sejam pequenas e aparentemente irrelevantes; crenças diferentes das habituais e ateísmo.

Uma substância é considerada droga quando ela provoca alguma mudança fisiológica ou comportamental. O termo droga é comumente empregado a produtos alucinógenos ou qualquer outra substância tóxica que leva à dependência: álcool, cigarro, maconha, crack, cocaína são as mais habituais. Pesquisas recentes apontam que os principais motivos que levam um indivíduo a utilizar drogas são a curiosidade, influência de amigos, desejo de fuga (principalmente de problemas familiares), coragem (para tomar uma atitude que sem o uso de tais substâncias não tomaria), dificuldade em enfrentar e/ou aguentar situações difíceis, busca por sensações de prazer, tornar-se calmo, servir de estimulantes, entre outros.

A adolescência é o período de maior vulnerabilidade social, por isso um estudo realizado no Brasil e publicado no Jornal da Tarde mostrou que 24,7% dos jovens entre 10 e 17 anos já experimentaram algum tipo de droga. Um número realmente alarmante!

Segundo outra pesquisa brasileira, a simples presença ativa dos pais na vida dos filhos, estabelecendo regras e limites, com afeto e apoio, pode evitar o uso de drogas por adolescentes, já que, na adolescência, são necessárias inúmeras adaptações e mudanças nas habilidades interpessoais e, por isso, torna-se importante um ambiente familiar que ofereça o acolhimento e a orientação necessária diante da complexidade das emoções vivenciadas. De acordo com a pesquisa, relações familiares com extrema rigidez disciplinar ou, ao contrário, com dificuldades na imposição de limites para o comportamento do jovem podem interferir no desenvolvimento satisfatório dessa fase, acarretando algum tipo de comportamento de risco.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que a saúde é um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social, e não apenas a ausência de doença, com a inclusão da religiosidade, espiritualidade e crenças pessoais, no instrumento genérico de qualidade de vida; logo, a espiritualidade é uma força essencial e vital para a manutenção e o cuidado da vida em suas diferentes dimensões.

O tratamento do dependente faz-se necessário para o processo de desintoxicação da droga. O tipo de ajuda mais adequado para cada pessoa depende de suas características pessoais, da quantidade, do padrão de uso de substâncias e quais são os problemas de ordem emocional, física ou interpessoal decorrentes desse uso. Não podemos esquecer que alguns danos físicos são irreparáveis. O tratamento do dependente deve envolver diversos profissionais da saúde, como médicos clínicos e psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, assistentes sociais e enfermeiros. Quando diagnosticada, a dependência química deve contar com acompanhamento a médio e longo prazo para assegurar o sucesso do tratamento, que varia de acordo com a progressão e gravidade da doença e o apoio incondicional dos familiares, já que estes são codependentes e precisam ser inclusos no processo de cura da doença.

Autor:  Lú Cazaroto – Psicóloga – Comunidade Javé Nissi

 

 

Comunidade Javé Nissi

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