Batismo no Espírito Santo – O Novo Testamento

Batismo no Espírito Santo – O Novo Testamento

Num livro sobre a experiência do Espírito não pode faltar uma reflexão sobre o “batismo do ou no Espírito Santo”. Esta expressão e a realidade que nela se oculta estão atualmente em foco, devido ao que, em geral, denominamos “movimento pentecostal”. No fundo desse movimento existe — não obstante todas as diferenças — uma convicção comum: é que o batismo no Espírito Santo é um acontecimento extremamente importante e pode dar-se na vida de qualquer cristão. É o fundamento de uma plena “vida-no-Espirito” de cada cristão e da Igreja de Cristo como um todo; é o fundamento da vida de oração e do testemunho missionário. Para esta afirmação o movimento pentecostal invoca o Novo Testamento, sobretudo os Atos dos Apóstolos, e sua própria experiência.

A pergunta acerca do que significa o batismo no Espírito Santo é uma pergunta muito existencial. Para cada um de nós pode significar: será que nos queremos abrir para esse batismo? É também uma pergunta para a Igreja como um todo, no que se refere à sua vida íntima e ao seu testemunho para o mundo. Por mim, creio que todas as questões teológicas são afinal questões existenciais e, vice-versa, que as questões existenciais não são somente esclarecidas, mas ainda estimuladas pela reflexão teológica. É neste sentido que este artigo é escrito. É uma tentativa para se entender o batismo no Espírito Santo e o problema que a esse respeito coloca diante de nós o movimento pentecostal; fá-lo-emos do ponto de vista do Novo Testamento e, inclusive, do ponto de vista dessa mesma experiência.

I. O NOVO TESTAMENTO
  1. A expressão

O dominicano inglês Simon Tugwell dedicou várias publicações ao batismo no Espírito Santo, no louvável intuito de demonstrar, de uma parte, o sentido fundamental desse batismo e, de outra parte, de desfazer de um certo anabatismo e respectiva teologia. Este autor começa observando que “batismo no Espírito Santo” não é um “termo técnico” na Sagrada Escritura. Contudo, a expressão “batizar no Espírito Santo” se encontra em todos os Evangelhos e nos Atos dos Apóstolos. No quarto Evangelho é Jesus chamado “o que batiza no Espírito Santo” (ho baptizou, 1,33, do mesmo modo como Jo 1,31; cf. Mc 1,14; 6,14.24). Em todo caso, a nossa expressão se refere a esses textos neotestamentários e, por isso, pode, sem a menor dúvida, ser chamada bíblica. Até poderíamos dizer que é exclusivamente bíblica.

Os textos em que se fala de “batizar no Espírito Santo” sempre colocam este batismo em confronto com o “batizar em água” de João. São os seguintes: Mc 1,8: “Eu vos batizo em água, porém ele vos batizará no Espírito Santo”. Mt 3,11: “Eu vos batizo em água… Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo”. Lc 3,16 = Mt 3,11. Jo 1,26.31.33a falam do batizar em água por João. l,33b: “Aquele sobre quem vires descer o Espírito e repousar sobre ele, esse é o que batiza no Espírito Santo”. At 1,5: “João balizou em água, porém vós, passados não muitos dias, sereis balizados no Espírito Santo”. At 11,16 = 1,5; aqui se omite: “passados não muitos dias”. Até aqui, os textos que se citam comumente. A eles podemos juntar ainda 1Cor 12,13: “Num só Espírito todos nós fomos balizados para sermos um só corpo… e todos havemos bebido do mesmo Espírito”.

As palavras “no Espírito Santo” são quase sempre uma tradução de en pneumati hagioi (é em Mc 1,8 que aparece somente o dativo na maior parte dos manuscritos). A preposição en com o dativo pode ser considerada aqui em sentido instrumental, no qual está incluída ainda uma idéia de lugar, como acontece com as expressões “com/em água”, “com/em fogo”. Contudo, não é evidente nesses textos a idéia de uma imersão no Espirilo Santo, semelhante à imersão na água batismal; nesse caso teria sido empregada a preposição eis. Antes, parece-me que há figuras paralelas nas expressões “salgados com (ao) fogo” (Mc 9,49) e “balizados com um (num) só Espírito” (1Cor 12,13). Por isso preferi em holandês a preposição met (= com). Nos nossos textos, pneuma hagion não tem artigo (exceto onde se diz que o Espírito desceu sobre Jesus (Jo 1,32s); é o que adotei na minha tradução (ao contrário da maior parte dos outros autores)[1]. Todavia mesmo que se faça abstração da ausência do artigo, tanto a preposição en como o paralelo “com água” e “com fogo” dão a entender que “Espírito Santo” aqui não é considerado, em primeiro lugar, como pessoa, mas antes como dom (At 2,38) e força (Lc 24,49). Por certo, não é o Espírito quem baliza. Quem o faz, não se diz em 1Cor 12,13; em At 1,5 e 11,16, o passivo numa palavra de Jesus sugere que é Deus quem o faz; em todos os outros textos é evidente que é aquele que vem depois de João: Cristo.

[1] O autor deste estudo traduz en pneumati por “met Heilige Geest” (= “com Espírito Santo”). Dai que o próprio título do artigo é “Het Doopsel met Heilige Geest” = “O batismo com Espírito Santo”. Contudo, preferimos ficar com a tradução mais corrente e que nos parece mais óbvia. Cremos que isto não prejudicará o desenvolvimento do tema (N.T.).

Autor: Tácito Coutinho – Tatá – Moderador do Conselho da Comunidade Javé Nissi


Piet Schoonenberg

Texto publicado originalmente em: “A Experiência do Espírito” – Editora Vozes, 1979 – como homenagem ao teólogo Edward Schillebeeckx.

Piet Schoonenbeerg s.j. – proeminente teólogo holandês (que manteve uma discussão bastante conhecida com o então teólogo Walter Kasper a respeito da cristologia) . O artigo deve ser considerado no contexto do nascimento da Renovação Carismática Católica e da recepção do Concílio Vaticano II.

Comunidade Javé Nissi

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