Maldições e Pragas

Maldições e Pragas
  1. No sentido de que podemos causar algum tipo de mal a outras pessoas por uma ação sobrenatural ou por determinar qualquer espírito que o faça ou ainda por qualquer tipo de sortilégio, praga, “trabalho”, não encontramos nenhuma referência no Catecismo da Igreja Católica e manuais de teologia consultados.
  2. Não se trata de saber se o homem pode conscientemente e de livre determinação sua, desejar a presença do diabo, entregar-se-lhe, ajoelhar diante dele, adorá-lo e fazer sacrifícios, fazer sinais convencionados de evocação, revoltar-se contra seu Criador e pactuar com o demônio. Tudo isso, por mais nojento que seja, está ao alcance do abuso da livre vontade humana. É claro que tudo isso é gravíssimo pecado, condenado, independente de qualquer efeito. É a vontade que comete o pecado.
  3. Trata-se de saber se o demônio pode ser como que forçado pelo homem a atender seus desejos.

A Santa Sé condenou o Espiritismo e práticas semelhantes em documentos oficiais a partir de 1840. Em nenhum destes documentos se insinua sequer a suposição de intervenção diabólica ou de qualquer espírito nestas práticas. Pelo contrário: o Espiritismo, magia, sortilégios e outras práticas, nos documentos da Santa Sé, são condenados como pretensões supersticiosas e heréticas de que o homem na terra tivesse a faculdade de por meios naturais provocar efeitos que não são naturais, como seria fazer baixar espíritos dos falecidos, o uso de espíritos para realizar alguma tarefa determinada. Quanto mais isso vale para pretenso poder sobre o próprio demônio e seus companheiros.

Quanto aos feitiços e feiticeiros pelo mesmo motivo pode se afirmar seguramente que despacho, “trabalhos”, etc. não pega. Nenhum homem, por mais mau e criminoso que seja, tem poder de lançar a ação diabólica contra uma outra pessoa. O verdadeiro Cristão não precisa ter medo de feitiço, malefício, despacho, magia, etc. Além do demônio, em qualquer atuação, depender inteiramente da permissão ou autorização divina, a Palavra de Deus garante que a Divina Providência vigia sobre nós. (cf. Mt 10,29/30 – Mt 6,25/33 – 1Cor 10,13)

Filosoficamente falando, feitiço seria uma tentativa de conseguir efeitos superiores à causa, o que é um absurdo.

  1. É de se notar, entretanto, que malefícios podem ter efeitos naturais de ordem psíquica: se alguém, crendo supersticiosamente na eficácia destas coisas, ficar profundamente impressionado e aterrorizado, isso pode bastar para provocar o mal-estar ou a doença que teme.

Não podemos nos esquecer que o ambiente social é um sugestionador eficiente. Medo, credulidade, ignorância religiosa, fé subalimentada se encarregam do resto. Nada de sobrenatural em tudo isso.

A mesma coisa (influência e efeitos psíquicos, provocados pela imaginação doentia e supersticiosa) se deve dizer de passes, águas fluídas, curandeirismo fluidista. Tudo isso não passa de pura fantasia, anti-científica com efeitos psíquicos produzidos por sugestão em pessoas crédulas e predispostas à ilusão.

São Tomas de Aquino

  1. São Tomás de Aquino ensina que “quem envia tem autoridade sobre o enviado” (Suma Teológica Vol I Q43).

Logo, se enviamos um “demônio” ou um outro “espírito qualquer” contra alguém ou para realizar uma missão, é porque temos autoridade sobre ele. Como somente Deus tem autoridade sobre todas criaturas, sendo “os demônios” também criaturas, sobram-me duas possibilidades: ou somos deuses ou não temos nenhuma autoridade sobre as criaturas. Como não somos deuses, conclui-se que não temos nenhuma autoridade sobre quaisquer criaturas para envia-las em nosso nome.

Quanto a oração de exorcismo e pela libertação, temos autoridade no Nome do Senhor Jesus Cristo. Esta autoridade é usada na perspectiva da missão da qual somos protagonistas.

  1. A palavra maldição, em grego “ara”, significa “recurso a uma força superior”. Para amaldiçoar (rogar praga sobre) alguém, é preciso ter um direito sobre seu ser profundo (sua alma) ou autoridade ontológica (da existência) sobre que se amaldiçoa, autoridade de Deus.
  2. Ou ainda entende-se maldição como o direito legal ou paterno de impor uma miséria ou injusta opressão sobre quem se lança a maldição (também chamado interdito).
  3. O que se pensa sobre maldição, supõe que ao amaldiçoar pomos em jogo forças profundas que transcendem o próprio Homem. Mediante o poder da palavra pronunciada parece desenvolver automaticamente seus efeitos. Tal pensamento não encontra eco na doutrina cristã.
  4. O que encontramos na doutrina cristã é o sentido de exclusão da bênção, como: “se desobedecerdes a minha lei serás maldito”, ou seja, serás excluído da bênção da lei.

No Velho Testamento, a Lei realiza a bênção e revela a maldição para aqueles que vão contra ela. Ela desvenda o pecado e as proibições contêm benção e maldições (exclusões).

Os Profetas, de uma certa maneira, usam o “chicote” das maldições para quebrar os coração endurecido de Israel, para levá-lo a bênção da Aliança. Mas sempre no sentido da exclusão.

A primeira maldição como exclusão foi conseqüência do pecado de Adão. A expulsão do paraíso atingiu todo gênero humano, todos fomos amaldiçoados, excluídos do convívio de amizade com Deus, postos for a da bênção.

Pecado original

  1. O termo foi usado pela primeira vez por Santo Agostinho, por falta de um vocabulário mais preciso na época, não traduz completamente a realidade do fato, pois quando se fala de pecado sempre se tem a idéia de um ato livre e pessoal. Ora, não fomos nós que pecamos, mas sim Adão.
  2. Deus criou o homem a sua imagem e semelhança e o constituiu em sua amizade. Como criatura, o homem só pode viver esta amizade na livre obediência a Deus.

É no sentido da livre obediência é que entendemos a proibição da árvore do bem e do mal, que nos ensina o limite intransponível que o homem, como criatura, deve obedecer e respeitar. A base desta confiança está em Deus que é Verdade.

Deus é a própria verdade (Sl 119,160 – 2Sm 7,28) e suas Palavras não podem enganar, por isso podemos nos entregar a Ele com toda confiança. Este é o apelo original no Paraíso: estabelecer um relacionamento de amizade entre a criatura e o Criador.

O começo do pecado e de toda a queda humana foi a mentira do tentador que induziu a duvidar da Palavra de Deus e de sua bondade e fidelidade.

O homem depende do Criador, está submetido às leis da criação, às normas morais que regem o uso da liberdade.

O homem, tentado pelo diabo, deixou morrer em seu coração a confiança em seu Criador e as conseqüências foram terríveis para ele e toda sua descendência.

  1. Todos os homens estão implicados no pecado de Adão. São Paulo afirma: “Pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores”. (Rm 5,19) “Como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, assim a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram…” (Rm 5,12) À universalidade do pecado e da morte o Apóstolo opõe a universalidade da salvação em Jesus Cristo. “Assim como a falta de um só resultou a condenação de todos os homens, do mesmo modo, a obra de justiça de um só (a de Cristo), resultou para todos os homens justificação que traz vida”. (Rm 5,18)
  2. O Catecismo da Igreja Católica (CIC 404 e 405) ensina que o pecado de Adão não nos imputado como falta pessoal, mas sim a privação da santidade e da justiça originais, por ser o gênero humano um só. Por essa unidade todos estamos implicados no pecado de Adão, que significa a transmissão de um estado decaído. É um pecado “contraído”, não “cometido”, um estado e não um ato. O Batismo ao conferir a vida da graça de Cristo faz o homem voltar para Deus, permanecendo, porém, as conseqüências, nossa inclinação para o mal.

“No pecado original, não nos é imputado “o pecado de Adão”. Uma culpa formal de um ato originário na liberdade de um, não pode ser transmitida a outro, pois ela se constitui o “não” pessoal dito a favor ou contra Deus. Isto é intransmissível, a liberdade de um não pode ser o fundamento da liberdade o outro”. (K. Rahner – Curso Fundamental da Fé, Ed. Paulinas)

A imputação forense (legal – jurídica) do pecado de Adão, tanto como sua transmissão biológica, não pertencem ao dogma cristão, ao ensino cristão. O pecado original deve ser entendido a partir da compreensão que a culpa de um homem acarreta para a situação de liberdade de outras pessoas. Porque, dada a unidade do gênero humano, o fato do homem achar-se metido no mundo e na história e, por fim, a necessidade de toda a situação originária de liberdade estar mediada no mundo, dá-se necessariamente tal resultado.

Jesus Cristo

  1. Em Jesus Cristo, somos novamente incluídos (Rm 8,1 e 2Cor 5,21).Não há maldição nem condenação, somos livres de toda maldição e abençoados pelo Espírito Santo e no Espírito Santo.

As duras palavras são constatações. Apesar da salvação, a maldição como exclusão ainda é possível. (Mt 25,41)


 

Autor: Ministério de Formação Paulo Apóstolo

Comunidade Javé Nissi

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