Pentecostes Perene

Pentecostes Perene

“…permanecei na cidade até serdes revestidos da força do alto”.(Lucas 24,49)

  1. O Espírito é dado em Pentecostes

O Espírito Santo está no coração da Igreja. Ele é, ao mesmo tempo, continuidade e novidade, tradição e progresso. – Cardeal Suenens

Pentecostes não foi: é. De ontem, de hoje e de sempre. Por isso, gostaríamos de considerar três aspectos desse acontecimento vital na história da Salvação. Primeiramente, o fato em si, dado após a ascensão de Jesus.

Eis que eu vos enviarei o que meu Pai prometeu. Por isso permanecei na cidade até serdes revestidos da torça do Alto. (Lc 24,49)

No decurso duma refeição da qual participou, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, as que esperassem a realização da promessa do ai, “a qual, disse ele, ouvistes da minha boca: João batizava com água; vós, porém, sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias”. (At 1,4-5)

Eles obedeceram. Picaram na expectativa, “todos unânimes, assíduos ã oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus” (At l, 14).

Sabemos o que aconteceu no dia de Pentecostes, grande festa para os judeus, que relembravam vários eventos da sua história. Era a Festa das Semanas para os hebreus. Para os cristãos, foi o dia em que a promessa se realizou para nós, os homens de ontem e de hoje (At 2,39), e nos foi enviado o Paráclito, o defensor, o advogado, o conselheiro, o consolador. Jesus devia ir, para que viesse o outro grande dom de Deus.

Sendo o próprio Filho, no interior da Trindade e pelo fato de pertencer totalmente ao Pai, o princípio vital do Espírito Santo, não poderá ele nos dar este mesmo Espírito no plano da Encarnação — como homem portanto — senão quando a filiação estiver inteiramente realizada  em sua humanidade e quando tiver expresso essa filiação ao Pai até o fim, em um ato humano livre, e o Pai tiver respondido a esse dom pela ressurreição. – E. Schillebeeckx.

O ciclo desse amor recíproco do Pai e do Filho, fonte do Espírito Santo, é transposto no homem Jesus pelo Espírito que Ele nos envia. É só em sua perfeita obediência religiosa ao Pai, que aceita o sacrifício de sua vida no amor que tem por esse Filho — representante de toda a humanidade e Messias — é apenas nessa obediência que o homem Jesus, “constituído em poder”, pode ser o co-principio da missão do Espírito Santo’ sobre nós: o Kyrios é, até mesmo em sua humanidade, o Enviador do Espírito. – E. Schillebeeckx.

Assim nos diz a Igreja:

Não há dúvida que o Espírito Santo já operava no mundo antes da glorificação de Cristo. Mas foi no dia de Pentecostes que Ele desceu sobre os discípulos para permanecer eternamente com eles; que a Igreja foi publicamente manifestada ante a multidão; que pela pregação se iniciou a difusão do Evangelho entre as nações; que enfim foi prefigurada a união dos povos na catolicidade da fé, mediante a Igreja da Nova Aliança que fala todas as línguas, compreende e abraça rodos os idiomas e assim supera a dispersão de Babel. Como pela descida do Espírito Santo sobre a Virgem Maria fora concebido Cristo e como pelo mesmo Espírito descendo sobre Cristo em oração Ela fora impelido à realização do ministério, assim em Pentecostes começaram os “atos dos Apóstolos”. E o próprio Senhor Jesus, antes de livremente dar sua vida pelo mundo, de tal modo coordenou o ministério apostólico e prometeu o envio do Espírito Santo, que ambos sempre e em toda parte estivessem unidos na realização da redenção.  Decreto Ad Gentes 4

Esse decreto do Concílio Vaticano II nos lembra que:

O Espírito Santo já operava no mundo antes da glorificação de Cristo”. De fato, Deus falou “pela boca de seus santos profetas” (At 3,21), e sabemos como tantos homens do Antigo Testamento foram repletos do divino Espírito, sobre­tudo quando lhes era confiada uma missão específica. São Leão Magno comenta que quando no dia de Pentecostes o Espírito Santo encheu os discípulos do Senhor, não foi o começo da dádiva, mas acréscimo da liberalidade: pois também os patriarcas e os profetas, os sacerdotes e todos os santos que existiram nos tempos antigos foram fortalecidos com a santificação do mesmo Espírito… embora não tivesse sido a mesma medida das dádivas. – São Leão Magno

O resultado da efusão do divino Espírito em Pentecostes, já conhecemos. O medo acabou, os Apóstolos saíram do Cenáculo, onde ser reuniam temerosos e Pedro – o que havia traído Jesus por medo – pôs-se a pregar:

Pedro, de pé com os Onze, ergueu a voz e assim lhes falou… (At 2,14)

Segue-se aquele discurso admirável, corajoso e cheio de saber, que não deixa dúvida sobre a fonte da inspiração, sobre algo de extraordinário e transformante na vida dos Apóstolos. Doravante não estão sós no seu trabalho. O Outro é o amigo e o “consultado” de todas as horas.

  1. Espírito Santo e a Igreja

A Igreja nasceu oficialmente em Pentecostes. Podemos dizer que foi concebida na Cruz, quando sangue e água jorraram do lado aberto do Cristo. O Reino, de que Jesus tanto falara, e que iria crescer como massa fermentada (Mt 13,33; Lc 13,21) até o fim dos tempos, começou a tomar forma e a estruturar-se para receber “todos os povos”, que a ela afluiriam “em multidão” (Is 2,2). Também ela, a Igreja, teve o seu período de gestação, a espera ansiosa e recolhida pelo Natal do Espírito Santo, no dia de Pentecostes.

Diz Santo Ambrósio que “Pentecostes foi a coroação da Páscoa”. O envio do Espírito Santo foi o melhor fruto da Paixão de Jesus: os dois mistérios não se separam.

Assim, Pentecostes só é compreensível a partir de Páscoa, como “passagem da morte à vida”. Em sua essência, Pentecostes é um acontecimento pascal. Assim o vê São João, que não conhece Pentecostes no sentido em que o descreve São Lucas, isto é, o qüinquagésimo dia depois da Páscoa. Segundo São João, a primeira missão do. Espírito teve lugar no próprio dia de Páscoa, após a Ascensão da Páscoa.

Quando Cristo disse a Maria Madalena que estava prestes a ir ao Pai, e que ela deveria comunicar este fato aos apóstolos, apareceu-lhes também. Seu primeiro ato como Ressuscitado e Glorificado é, imediatamente, a missão do Espírito sobre os Apóstolos: “Como o Pai me enviou, assim também eu os envio. E, quando disse isto, soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo”. Podemos chamar a isto de tema pentecostal joanino, que mostra tão bem como o de São Lucas que a Ascensão é a condição imediata da missão do Espírito. O Pentecostes cristão propriamente dito é, pois, um acontecimento pascal.

Podemos agora considerar o segundo aspecto, que foi o papel e a missão do Espírito Santo na Igreja de Cristo, através dos tempos. É ela ainda que nos fala:

Consumada, pois, a obra que o Pai confiara ao Filho realizar na terra, foi enviado o Espírito Santo no dia de Pentecostes a fim de santificar perenemente a Igreja, para que assim os crentes pudessem aproximar-se do Pai por Cristo num mesmo Espírito. Ele é o Espírito da vida ou a fonte de água que jorra para a vida eterna. Por ele o Pai vivifica os homens mortos pelo pecado, até que em Cristo ressuscite seus corpos mortais. O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis como num templo. Neles ora e dá testemunho de que são filhos adotivos. Leva a Igreja ao conhecimento da verdade total. Unifica-a na comunhão e no ministério. Dota-a e dirige-a mediante os diversos dons hierárquicos e carismáticos. E adorna-a com seus frutos. Pela torça do Evangelho Ele rejuvenesce a Igreja, renova-a perpetuamente e leva-a ò união consumada com seu Esposo. Pois o Espírito e a Esposa dizem ao Senhor Jesus: “Vem”. – Lumen Gentium 4

O “Espírito da Verdade” havia conduzido os apóstolos “à verdade plena” (Jo 16,13). Com a morte do último deles estava terminada a Revelação de Deus. Competia então à Igreja levá-la “até os confins da terra” (At 1,8), fazendo discípulos em “todas as nações,… batizando-as em nome do Pai, do Pilho e do Espírito Santo” (Mt 28,19).

Autor: Tácito Coutinho – Tatá – Moderador do Conselho da Comunidade Javé Nissi

Comunidade Javé Nissi

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