Batismo no Espírito Santo – O Movimento Pentecostal

Batismo no Espírito Santo – O Movimento Pentecostal

1. Tentativa de compreensão

Perguntamo-nos agora como o movimento pentecostal entende o batismo no Espírito Santo. Com a expressão “movimento pentecostal” entendo abranger os diversos grupos que, por sua vez, podem ser divididos em três categorias principais:

  1. O pentecostalismo clássico, que surgiu no início do século XX e existe, em geral, por força das circunstâncias, em igrejas particulares, por exemplo, nas Assembléias de Deus;
  2. O neopentecostalismo no seio de igrejas maiores, como a luterana, a reformada, a anglicana, e que começou pelos anos cinqüenta;
  3. O neopentecostalismo, que teve sua origem em 1907 no seio da Igreja Católica e atualmente se apresenta, sobretudo, como “movimento carismático”.” Aliás, os termos “neopentecostalismo” e “movimento carismático” têm sido empregados indistintamente. Na prática ambos os movimentos têm um cunho acentuadamente ecumênico. Às vezes divergem na reflexão teológica porque, devi¬do às suas tradições diferentes, surgem questões divergentes, isto é, acerca da “colocação” do “batismo no Espírito Santo”.

Encontra-se o movimento pentecostal, sob uma ou outra das formas acima nomeadas, praticamente em toda parte onde existem cristãos, muito especialmente nas Américas. A forma católica é a mais fracamente representada na Europa; na França, porém, já se começa a lazer exceção. É na América do Norte que o movimento pentecostal é muito acentuado. Eu mesmo estive lá, sobretudo para contatos com o movimento, por meio da literatura e de encontros pessoais.

Para termos uma noção exata do movimento pentecostal, é necessário, naturalmente, estudar a sua história e pesquisá-lo sociológica e psicologicamente. Precisamos também de mais teologia do que a que oferecemos aqui. Aqui procuro compreender o movimento pentecostal, sobretudo a partir da reflexão biblico-teológica precedente. Se se chega a compreender o que significava no Novo Testamento o batismo no Espírito Santo, vê-se que existe uma grande diferença entre a Igreja de hoje e a de muitos séculos atrás. Os cristãos da época do Novo Testamento, em sua grande maioria, chegavam à fé através de uma escolha pessoal, uma verdadeira conversão. Em nosso tempo, porém, a maior parte dos cristãos o é (ainda) “por nascimento”, quer dizer, pelo batismo que receberam quando crianças de colo. É por este motivo que a experiência do Espírito ou do Senhor era normal e geral na vida dos primeiros cristãos, como acima salientamos. Entre os cristãos de hoje, de fato, isto não é geral, motiva por que dificilmente será considerado como normal. Pois bem, como tantos movimentos de reflexão, todas as formas de movimento pentecostal possuem isto em comum: consideram normal essa experiência e desejam que ela se torne geral na Igreja.

Por essa razão, o movimento pentecostal pretende ser um movimento de cristãos conscientes e experimentados. Mas observe-se bem: não um movimento de “supercrístianismo”. Este termo, em sentido teilhardiano, é muito pouco compreendido pelos pentecostalistas. Em sentido vulgar, eles não o aceitam. E’ bem possível que sejam tentados a considerar-se supercristãos, mas contra isso são advertidos pelos próprios dirigentes. Aqui quero advertir, sobretudo aos que não pertencem ao movimento pentecostal contra essa tentação. Quem julga que os pentecostalistas se consideram supercristãos, sentirá compaixão deles (e com razão, se é que eles sucumbem à tentação). Quem espera que eles sejam supercristãos, está enganado. Eles não o são. Isto significa, antes de mais nada, que eles não representam tudo o que hoje é realizado pelo Espírito nas Igrejas. Até agora não existe entre eles nenhum Schillebeeckx. Nem cristãos do feitio de Martin Luther King ou de Madre Teresa. Tampouco inventaram a “teologia da libertação” (talvez, porém, haja entre eles alguns que, à sua própria maneira, estão em busca de práticas para libertar a outros pessoal e socialmente). Também não querem os pentecostalistas separar-se dos outros. Não estão no cristianismo da mesma forma que antigamente esteve Qumram no judaísmo.

Na América do Norte o boletim mensal do movimento carismático chama-se “New Covenant” (“Nova Aliança”) e é com este nome que é designada a mesma Nova Aliança na qual vivem todos os cristãos. Os pentecostalistas não são tampouco gente impecável, como não o foram os primeiros cristãos. Entre eles podem acontecer todos os pecados de Corinto, E ainda toda imaturidade. E isto desejaria eu frisar muito particularmente, à imitação de um dos dirigentes norte-americanos que citarei mais adiante. Para mim, pessoalmente, estes últimos pontos tiveram grande importância. Por ocasião do meu primeiro contato com o movimento carismático em Ann Arbor, Michigan, fiquei impressionado com a íntima alegria dessa gente. Logo depois, fiquei decepcionado ao descobrir como um conflito em Notre Dame, Indiana, terminara de um modo não muito cristão (diria, de um modo pseudobíblico). Compreendo agora que entre eles, como em qualquer outra parte, o Espírito pode agir de forma muito real, inclusive diante de nossa pecaminosidade e imaturidade.
O que, afinal, os pentecostalistas são, já foi dito: é cristão que consideram normal a experiência neotestamentária do Espírito e do Senhor e que a desejam para todos. O principal, contudo, deve ainda ser dito: eles crêem ter recebido essa experiência — o batismo no Espírito Santo — e se esforçam por viver de acordo com ela. É possível que com isso entendam o ser-batizado-no-Espirito-Santo ou o receber o Espírito Santo, num sentido mais determinado e, portanto, num sentido mais restrito, que o do próprio Novo Testamento. Pelo que acima foi dito, já se faz evidente que não pretendem ver realizado em si mesmos todo o fruto do Espírito. Crêem, antes de tudo, ter sido agraciados com carismas; entre esses carismas dão especial atenção a três: glossolalia, profecia e cura.

Limitar-me-ei aqui à glossolalia. Julga Tugwell que este carisma é mais importante do que afirmam hoje muitos recentes pentecostalistas. É’ a faculdade de orar a partir do profundo íntimo da pessoa, emitindo sons, que não têm significado determinável para a própria pessoa orante. Esses sons não constituem uma determinada língua, mas são uma linguagem desconhecida para o orante, embora possam ocorrer reminiscências subconscientes de várias línguas. O sócio-filólogo Samarin chama a glossolalia de pseudolíngua: é um falar análogo a uma língua na articulação, na formação de períodos, etc. De per si não é conseqüência de perturbações emocionais nem de êxtase, no sentido comum da palavra; Por algumas pessoas a glossolalia pode ser “efetuada”, com fazerem “uso de um dom”, inclusive quando sentem aridez espiritual. Dela pode-se usar e abusar, por exemplo, a fim de chamar a atenção. De alguma forma, o contato com Deus na glossolalia se torna tão íntimo que nos conduz para além das fronteiras da linguagem inteligível e do consciente nocional. Dever-se-ia investigar se na história da Igreja a glossolalia não terá sido substituída por outras manifestações, pelo dom das lágrimas, por exemplo, dom que, segundo Simeão o Novo Teólogo, é o sinal do Espírito e que representa tão importante papel nas Igrejas do Oriente. Mesmo fazendo abstração disso, penso que a glossolalia é uma das manifestações do que poderíamos chamar “oração infusa”. Estando entre os pentecostalistas, senti-me impressionado com o seu orar de todo o coração e, mais ainda, quando oravam em sua própria língua do que ao orarem em glossolalia. Não é de admirar que os pentecostalistas católicos, refletindo sobre a sua própria tradição no que concerne à espiritualidade, relacionem a glossolalia com a “meditação infusa”. ”

Autor:  Tácito Coutinho – Tatá – Ministério de Formação Paulo Apóstolo


Piet Schoonenberg

Texto publicado originalmente em: “A Experiência do Espírito” – Editora Vozes, 1979 – como homenagem ao teólogo Edward Schillebeeckx.

Piet Schoonenbeerg s.j. – proeminente teólogo holandês (que manteve uma discussão bastante conhecida com o então teólogo Walter Kasper a respeito da cristologia) nos apresenta uma reflexão sobre o tema central do 2º Congresso Teológico Pastoral da RCC a ser realizado de 14 a 17 de setembro próximo.

O artigo deve ser considerado no contexto do nascimento da Renovação Carismática Católica e da recepção do Concílio Vaticano II.

Tradução de J. B Michelotto, C.SS.R.

Comunidade Javé Nissi

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