Batismo no Espírito Santo – Lugar do batismo no Espírito Santo

Batismo no Espírito Santo – Lugar do batismo no Espírito Santo

Para os pentecostalistas o batismo no Espírito Santo é um vir do Espírito e, com isso, uma união com Cristo; é um batismo que como dom vem a nós, que é experimentado e tem um eleito permanente, sobretudo quanto aos carismas, entre os quais se destaca particularmente a glossolalia ou, em sentido mais amplo, a oração infusa. Visto que os pentecostalistas provêm dum cristianismo em que essa experiência não é geral, perguntam-se eles onde colocá-la no conjunto da vida cristã. Na resposta a essa pergunta, as três correntes seguem, cada qual, seu próprio caminho. Os pentecostalistas clássicos e os neopentecostalistas fazem uma clara distinção entre conversão ou renascimento e batismo do Espírito.

Os da Assembléia de Deus afirmam: “Esta maravilhosa experiência é distinta da experiência do novo nascimento e lhe é subseqüente”. O batismo do Espírito é um “segundo encontro”, uma “segunda experiência”, uma “second blessing” (uma “segunda graça”). Às vezes, o batismo do Espírito é colocado até em terceiro lugar, isto é, quando, além do mais, se faz distinção entre conversão e santificação, distinção que muito raramente ainda se faz entre os neopentecostalistas. Afirma-se a distinção temporal entre a conversão e o batismo do Espírito com fundamento em diversas passagens dos Atos dos Apóstolos. Não admito essa argumentação, primeiro, porque esses argumentos tirados dos Atos são em parte discutíveis e outros textos do mesmo livro apresentam a ordem inversa (10,47); segundo, porque ao lado dos Atos (que entre os pentecostalistas, às vezes, se torna um “cânon no cânon”) está, por exemplo, Paulo, em quem tal distinção não é, de forma alguma, clara; e, finalmente, porque, ainda que todo o Novo Testamento a fizesse, tal distinção poderia estar relacionada com uma determinada teologia.

Mais importante é o fato de os pentecostalistas de hoje, inclusive os católicos, terem tido a experiência de dois distintos momentos críticos em sua vida. Mas, ao contrário disso, é certo que também muitos outros, de toda e qualquer tendência, tiveram a experiência da conversão e do batismo no Espírito ao mesmo tempo. Por isso, hoje não se acentua mais tanto a distinção temporal. Nos Jesus’movements, nascidos em grande parte do pentecostalismo e do movimento hippie, parece ser normal o coincidir da conversão com o batismo no Espírito.

O pentecostalismo clássico e o neopentecostalismo falam também duma distinção qualitativa. Conversão, santificação ou renascimento, muito embora obras do Espírito, ainda não conferem por si mesmas a presença plena do Espírito, aquela presença que invade o homem todo. Para ilustrar essa distinção, recorrem, por exemplo, a Jo 14,17, onde se fala da presença do Espírito “com” os discípulos e “nos” discípulos. Esta última, a “presença interior”, invade as potências de nosso espírito e se exterioriza na glossolalia, na profecia e na cura. Para muitos pentecostalistas isto significa que “o Espírito”, ou “o Senhor”, assume a nossa atividade, embora para diversos teólogos, inclusive protestantes, seja mais evidente que se trata da ação de Deus e do homem ao mesmo tempo.

A esta distinção qualitativa corresponde a referência pentecostalista-católica à meditação infusa ou à oração infusa. O autor Stephen Clark faz alusão à distinção clássica entre as vias purgativa, iluminativa e unitiva. É opinião comum, mas não única, que essas vias se sucedem uma após a outra. Por longo tempo de crescimento tem de passar alguém, antes de se tornar participante do íntimo contato com o Espírito, que lhe concede, então, a oração infusa. Isto, porém, pode dar-se de outro modo e, de fato, se dá de outro modo na experiência pentecostal.

A diferença entre o que está acontecendo agora na renovação carismática e o que acontecia em algumas formas de espiritualidade é esta, que na renovação carismática as pessoas são batizadas no Espírito, no início do seu crescimento espiritual. Antes da renovação carismática, não era fato comum experimentarem as pessoas o dom do Espírito e da oração infusa, antes de terem passado alguns anos no seu crescimento espiritual. Verdade é que os autores espirituais tradicionais sempre souberam que isto não precisava levar muitos anos. Sabiam eles que poderia acontecer a qualquer momento. Contudo, normalmente não esperavam que isso acontecesse senão depois que uma pessoa tivesse passado muitos anos em crescimento espiritual.

Agora sabemos que o Espírito pode ser dado livremente, até mesmo aos principiantes na vida espiritual. É certo que foi este o modo como o Espírito foi dado na época do Novo Testamento. Segundo os Atos dos Apóstolos, muitas pessoas que foram balizadas no Espírito tinham ouvido justamente pela primeira vez a mensagem do Evangelho. E os coríntios e gálatas que experimentavam as muitas formas da ação do Espírito se haviam convertido apenas alguns anos antes. Eram eles “novos cristãos”. A maior parte das pessoas na comunidade da qual participo começou o seu crescimento espiritual somente após ter sido batizada no Espírito.

Autor:  Tácito Coutinho – Tatá – Ministério de Formação Paulo Apóstolo


Piet Schoonenberg

Texto publicado originalmente em: “A Experiência do Espírito” – Editora Vozes, 1979 – como homenagem ao teólogo Edward Schillebeeckx.

Piet Schoonenbeerg s.j. – proeminente teólogo holandês (que manteve uma discussão bastante conhecida com o então teólogo Walter Kasper a respeito da cristologia) nos apresenta uma reflexão sobre o tema central do 2º Congresso Teológico Pastoral da RCC a ser realizado de 14 a 17 de setembro próximo.

O artigo deve ser considerado no contexto do nascimento da Renovação Carismática Católica e da recepção do Concílio Vaticano II.

Tradução de J. B Michelotto, C.SS.R.

 

Comunidade Javé Nissi

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