A urgência da evangelização na sociedade pós-moderna

A sociedade chamada de pós-moderna é marcada pela descrença. Descrença do homem em relação ao sagrado, descrença em relação à transcendência, descrença no “hoje”, descrença na eternidade. Na cultura desta sociedade o homem basta-se a si mesmo. Ele é o seu cosmos. Ele determina o que lhe é certo ou não. Ele dita a sua verdade.

O homem de hoje encontra-se perdido em sua liberdade, encontra-se sem referências, sem uma base. Este homem pós-moderno desconsidera e desconfia dos valores que antes serviram para construir e fundamentar as bases da sua cultura. Desse modo, foi se consolidando uma sociedade (e humanidade) cada vez mais laicista, relativista, secularizada e desvinculada da fé.

Esse panorama constatado (que não é meramente pessimista) revela apenas a “ponta do iceberg”. Pois aquilo que ele apresenta não trata apenas de uma questão cultural, mas de uma grave crise de valores que se intensifica, independente da sociedade, da condição econômica ou da classe social.

Essa crise de valores é a crise da modernidade, que é pura e simplesmente, uma “crise de fé”, como nos exortava o Papa Bento XVI.

Mas qual a solução para esse quadro? O que, como cristãos, podemos fazer? A Igreja já nos mostrou o caminho: a Evangelização desta sociedade e deste homem. Pois somente a evangelização, enquanto mensagem cristã de vida e esperança, poderá dar ao homem e ao mundo a resposta às suas indagações e anseios de vida e felicidade.

“Tudo aquilo que o homem realiza sobre a face da terra, ou seja, sua cultura, tem necessidade de um valor referencial, de um norte. E isso só é possível encontrar na pessoa do Filho de Deus. (…) Só assim a cultura humana encontrará seu centro e poderá de novo se encontrar. (…) O caminho para a sociedade, portanto, não está na secularização ou na dessacralização dos valores. Mas justamente o contrário. A sociedade civilizada foi construída sob a Fé em Deus. E ela só pode continuar civilizada se não perder a base onde ela foi erguida. Por isso o cristão não pode deixar de a tudo inculturar por sua fé no Cristo Jesus” (Mensagem do Papa João Paulo II, Dia Mundial das Comunicações em 1990).

O Evangelho que é Jesus, caminho, verdade e vida (Jo 14, 6), é o norte para o qual todos os homens, em todos os tempos e culturas, deveriam convergir sua vida. Só Nele se encontra a Verdade. Só Nele o homem pode se tornar de fato pessoa livre. Pois Ele é a Palavra libertadora do Pai, a Palavra viva de Deus para toda a humanidade, e para tudo o que a humanidade realiza em sua caminhada temporal.

Assim, evangelizar o mundo contemporâneo é, necessariamente, tornar todas as estruturas e atividades humanas impregnadas e imersas com a Boa Nova do Evangelho. É moldar todas as culturas e a elas transformar, pela força e poder do Espírito Santo que deseja dar aos homens uma experiência pessoal e ressignificadora com a pessoa de Jesus.

Para que esta experiência de encontro do homem com seu Salvador aconteça é necessário evangelizar, mais que com novos métodos, evangelizar com um novo ardor, que somente o Espírito Santo pode gerar naquele que evangeliza. Pois “a preparação mais apurada do evangelizador nada faz sem Ele. (…) Os mais bem elaborados esquemas com base sociológica e psicológica, sem Ele, em breve se demonstram desprovidos de valor”, porque “o Espírito Santo é o agente principal da evangelização: é ele, efetivamente que impele para anunciar o Evangelho, como é Ele que no mais íntimo das consciências leva a aceitar a Palavra da salvação” (Evangelii Nuntiandi 75).

É preciso “evangelizar, não de maneira decorativa, como que aplicando um verniz superficial, mas de maneira vital, em profundidade e isto até às suas raízes, a civilização e as culturas do homem”, numa verdadeira inculturação, pois “o Evangelho e a evangelização, independentes em relação às culturas, não são necessariamente incompatíveis com elas, mas suscetíveis de as impregnar a todas sem escravizar a nenhuma delas” (Evangelii Nuntiandi 20).

Autor: Marcos Henrique dos Reis – Marcão – Comunidade Javé Nissi