As Comunidades Eclesiais: Vocação à comunidade

As Comunidades Eclesiais: Vocação à comunidade

A seguir o primeiro texto de reflexão, apresentado à Ofensiva Nacional, sobre as Comunidades Eclesiais de Renovação. O mesmo deve ser lido na realidade da época (1996). Foram mantidas as referências. E claro que o pensamento evoluiu e nas próximas formações nos daremos conta desta evolução

Tatá

  1. Vocação à comunidade

Convocado pelo Espírito do Ressuscitado (1Cor 12,13), o Povo de Deus é destinado a uma forma peculiaríssima de convivência social. A união com Deus, obra da comunhão fraterna com Cristo, é a base da união com os semelhantes, na forma de ser comunidade.

Sendo assim, qualquer modalidade de convívio eclesial tem a sua explicação a partir da caridade que une e que transparece nas formas concretas de comunidade. (1Cor12,12-27; Rm15,1-7)

A comunidade eclesial serve de modelo singular de vida em sociedade. Não pode ser reduzida a um tipo sociológico e nem se encaixa na evolução histórica do pensamento e da cultura humana. O seu princípio constitutivo é o Senhor Ressuscitado, o homem novo com Deus que, mediante seu povo novo, pratica a vida reconciliada com Deus.

A comunhão eclesial organizada não deve ser medida sob pontos de vistas teóricos, mas com os princípios da revelação cristã. Mesmo assim, a comunidade ideal permanece necessariamente uma utopia, servindo embora como esquema inspirador de sempre melhores chances a serem concretizadas. Em virtude do Espírito de Jesus Cristo, o Povo de Deus é chamado a fazer encarnar concretamente a comunidade fraternal através dos séculos.

A sociedade atual acha-se submetida a processo contínuo de despersonalização que cria padrões de comportamento, formaliza e superficializa o relacionamento humano. As forças controladas, econômicas, estatais e culturais absorvem as tendências capazes de oferecer ao homem confiança, segurança, abrigo e amor em sua busca da verdade. O homem torna-se o seu próprio espectador; a cultura massificada suplanta-lhe a energia da auto-realização pessoal que se vê relegada para fora de seu domínio pessoal, para ser substituída por símbolos de identificação; assim, o homem já não encontra o caminho para si mesmo.

A comunidade eclesial, porém, oferece ao homem a oportunidade de “ser outra vez alguém”, de cooperar na procura dum sentido, em vez de assistir à vida passivamente. Pois vivendo-se a fé em atuação comunitária e responsabilidade pelos outros, abre-se o horizonte como uma libertação do isolamento e da passividade. É preciso que a morte e a ressurreição de Jesus Cristo sejam vividas pelo homem todo, para sair da fase da letra morta duma revelação verbal, passando para a criatividade da dedicação amorosa ao próximo. Cumpre que seja praticada a vida do Cristo, em uma comunidade do Povo de Deus.

O aspecto institucional da comunidade eclesial assegura a unidade na variedade das experiências comunitárias, conserva os vínculos com a tradição apostólica e controla a solidariedade colegial dos agrupamentos isolados. No seio da realidade eclesial coexistem vivências institucionais e comunitárias com o fito de lhes conservar a valiosa individualidade. A experiência espontânea de fraternidade cristã, responsável e repartida é elemento importante da renovação das formas institucionais que, embora fazendo-as mais eficazes e realistas, não lhes tiram a sua identidade original.

Mas a união intrínseca do Povo de Deus consiste na presença de Jesus Cristo, verbal e sacramentalmente, que desde a origem é o alicerce de uma Igreja presente no mundo todo na multiplicidade das comunidades viventes. A expressão mais em evidência desta união sobrenatural é a celebração da eucaristia que comunica a todos os membros do Corpo a vida de Cristo, amalgamando-os para formarem uma unidade que excede qualquer aspiração comunitária dos homens. Antes de ser resultado da organização e do planejamento, cada comunidade é obra do Espírito Santo, que faz todos participes da vitória pascal (Rm 8,11.23; 1Cor 3,16ss). (CNBB, Unidade e pluralismo na Igreja)

Este fato, enraizado na fé, aponta a presença real do Espírito do Cristo na própria base de todos os projetos e atuações através das estruturas do Povo de Deus. Portanto, ouvir uns aos outros, aceitar-se mutuamente, serviço recíproco na edificação da comunidade, preferir às próprias idéias o bem-estar do Povo de Deus, carregar a cruz do Cristo numa perpétua conversão, exercer autoridade com genuína co-responsabilidade fraterna: só assim serão criadas estruturas fraternais, será alcançada a união na diversidade da vida eclesial para testemunho da liberdade dos filhos de Deus e na aceitação religiosa da salvação divina, construindo-se o Corpo visível do Cristo na comunhão fraterna.

Autor: Tácito Coutinho – Tatá – Moderador do Conselho da Comunidade Javé Nissi

Comunidade Javé Nissi

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