Dogma da Maternidade Divina de Maria

Dogma da Maternidade Divina de Maria

Sendo que S.S., o Papa Francisco, definiu este ano de 2017 como o Ano Mariano, já que celebramos os 100 anos da aparição de Fátima e 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida nas águas do Rio Paraíba, decidi dar continuidade falando dos Dogmas Marianos. No artigo anterior foi falado sobre o Dogma da Virgindade Perpétua de Maria e neste será exposto o primeiro dogma mariano da história: o Dogma da Maternidade Divina de Maria.

Esse dogma mariano é o mais antigo na história da Igreja e foi proclamado para combater algumas heresias que afirmavam que Maria era somente mãe de Jesus enquanto homem, mas não o era enquanto Deus. Isso significaria também que Jesus, na verdade, seria hora Deus, hora homem. Na época havia uma controvérsia entre Nestório, Patriarca de Constantinopla, e Cirilo, Patriarca de Alexandria.

Para Nestório era impossível que Maria fosse mãe de Deus, pois, para ele, uma criatura não podia ser mãe do Criador. Portanto ele afirmava que Maria era mãe somente de Cristo-Homem, ou seja, receberia o título de Christotokos. Já Cirilo contestava em tudo a sua tese. O Patriarca de Alexandria dizia que era impossível haver dois Cristos, um homem e outro Deus, sendo assim Maria era mãe de Cristo-Homem e de Cristo-Deus, ou seja, era Mãe de Deus – Theotokos, sua maternidade era tão humana quanto divina.

Cirilo, vendo que Nestório não abriria mão de sua opinião, apela ao Papa Celestino I, que lhe concedeu autoridade para condenar e excomungar as heresias apresentadas e seu autor. Porém, antes que Cirilo o fizesse, Nestório pede que o imperador Teodósio II convoque um Concílio Ecumênico para discutir esse assunto, juntamente a outros relacionados à Cristologia.

Então foi convocado, em 431, o Concílio de Éfeso, no qual seriam discutidas essas questões. Ao final do Concílio definiu-se que, assim como Cirilo havia declarado: “Quem não confessar que o Emanuel é Deus e que a Santa Virgem é Mãe de Deus, por essa razão, seja anátema”, ou seja, aquele que seguisse as teses de Nestório e não confessasse Maria como Mãe de Deus estava condenado à excomunhão. A importância desse assunto no Concílio era tal que este foi o primeiro cânon declarado.

Após ter suas teses condenadas pela Igreja, Nestório, humildemente, se retratou, retirando-se da vida pública e voltando para sua vida de bispo, patriarca e monge.

A declaração do Dogma de Maria, Mãe de Deus não nos espanta nem um pouco. Nas Sagradas Escrituras temos várias citações que afirmam Maria como mãe de Jesus, e como nossa fé professa que Jesus é todo homem e todo Deus, o que chamamos de união hipostática, não há como ela ser mãe de um e não ser de outro. Além disso, no século II os cristãos já se referiam a Maria como Mãe de Deus. Vemos isso na mais antiga oração a Maria, encontrada em um pedaço de papiro que dizia: “Debaixo da Vossa proteção recorremos Santa Mãe de Deus, não desprezeis as nossas súplicas em todas as nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos! Ó Virgem, Gloriosa e Bendita”. Pode-se concluir que, antes mesmo que a Igreja o definisse como dogma, o título de Mãe de Deus já era atribuído a Maria pelo povo, que dizia ainda mais: Maria é aquela que deu à luz a Deus.

Na comemoração dos cem anos do dogma da Imaculada Conceição, o Papa Pio XII recorda que a maternidade divina de Maria é, depois da missão redentora de Jesus, a mais importante missão que surgiu no mundo. Ele diz na Carta Encíclica Fulgens Corona:

Na verdade, desta sublime missão de Mãe de Deus nascem, como duma misteriosa e limpidíssima fonte, todos os privilégios e graças, que adornam, duma forma admirável e numa abundância extraordinária, a sua alma e a sua vida. Por isso, com razão declara Santo Tomás de Aquino que a Bem-Aventurada Virgem Maria, pelo fato de ser Mãe de Deus, recebe do bem infinito, que é Deus, uma certa dignidade infinita.

Depois do Concílio de Éfeso, declarar Maria como Mãe de Deus, tornou-se algo unânime, inclusive nos nossos tempos. Na Constituição Apostólica Lumens Gentium, documento do Concílio Vaticano II, os padres conciliares declararam: “A Virgem Maria, que na Anunciação do anjo, recebeu o Verbo de Deus no coração e no corpo e trouxe ao mundo a Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor”.

O Catecismo da Igreja Católica, aprovado pelo Papa João Paulo II, hoje santo, e por todos os bispos do mundo, no ano 2000, declara nos parágrafos 495 e 723 que:

  • 495 Denominada nos Evangelhos “a Mãe de Jesus” (João 2,1;19,25), Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito, desde antes do nascimento de seu Filho, como “a Mãe de meu Senhor” (Lc 1,43). Com efeito, Aquele que ela concebeu do Espírito Santo como homem e que se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne não é outro que o Filho eterno do Pai, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus (Theotókos).
  • 723 Em Maria, o Espírito Santo realiza o desígnio benevolente do Pai. É pelo Espírito Santo que a Virgem concebe e dá à luz o Filho de Deus. Sua virgindade transforma-se em fecundidade única pelo poder do Espírito e da fé.

Hoje, também nós, não por obrigação, mas por amor, reconhecemos Maria como Mãe de Deus e mais ainda como nossa Mãe. Na oração da Ave Maria declaramos: “Santa Maria, Mãe de Deus(…)”.

Portanto, assim como os primeiros cristãos, como Cirilo de Alexandria, como os padres conciliares do Concílio de Éfeso, como tantos santos, como os papas da história e como toda a Igreja declaramos: Maria é Mãe de Deus, digna do título de Theotokos.

Leonardo Ramos de Paiva.

Bacharelando em Filosofia, pela Faculdade Católica de Pouso Alegre.

Seminarista da Arquidiocese de Pouso Alegre pela Comunidade Javé Nissi.

Comunidade Javé Nissi

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