Igreja em “estado de missão”

Igreja em “estado de missão”

“É toda a Igreja, a Igreja inteira, que tem o dever de se pôr em estado de missão”.(Cardeal Feltin)

A descristianização, cada dia mais ampla e mais profunda, das massas, situa o problema da evangelização no primeiro plano da atualidade. Em decorrência surge a questão: como atingir os neopagãos que aí estão à nossa volta? Como levar a mensagem de Cristo a essa multidão de incrédulos, de indiferentes, de cristãos “semibatizados”?

Vamos tomando consciência de uma responsabilidade nossa, e isto é em si um sinal de despertar. Preocupar-se com uma missão a realizar, é indício de saúde. “Não ter inquietação já é motivo de inquietar-se”, dizia Cardeal Newman. Quem se preocupa, é porque sentiu que o problema está tomando proporções gigantescas e que é urgente harmonizar todos os esforços em vista de uma solução.

Estamos vivendo, na história da Igreja a urgência e a necessidade da missão evangelizadora como dever universal. O Papa João Paulo II convocou a Igreja para uma “Nova Evangelização”, para sacudir o torpor geral e despertar as consciências. A Igreja é missionária por sua própria natureza.

A Igreja é por essência uma comunidade missionária. Continua e prolonga a comunidade apostólica, instituída por Cristo para anunciar a Mensagem. Nascida da Palavra de Deus acha-se a serviço desta Palavra. Em sua qualidade de novo Israel, retoma e renova a missão do povo eleito em vista da salvação do mundo. O conceito bíblico de eleição não é sinônimo de privilégio; é inseparável da idéia de missão e de ministério: significa que a eleição divina, criando embora uma proximidade particular em relação a Deus, implica na idéia de vocação ou de chamamento e, por conseguinte, de responsabilidade perante Deus.

Pelo batismo e pela fé, o cristão se torna membro da comunidade apostólica, entra nos desígnios que Deus tem sobre o mundo, é chamado a abrir-se à vontade salvífica de Deus sobre a humanidade pecadora. Por isso nossa oração deve ser: “Venha o Vosso reino, cumpra-se a Vossa vontade”. Em suma, pertencer à Igreja de Cristo é simultaneamente uma graça e uma responsabilidade, havendo, para cada cristão, o dever de colaborar na sua missão. O Papa convida-nos simplesmente a traduzir em atos a nossa vocação fundamental, “a nos tornarmos o que somos”, isto é, a desenvolvermos as conseqüências do nosso batismo.

É exatamente o que queria lembrar o Cardeal Feltin (1958), com as palavras, que pusemos no início deste artigo: “É a Igreja toda que se deve colocar em estado de missão”. Palavras de grande alcance é preciso toma-las ao pé da letra: equivalem a uma ordem de marchar, de “avançar para águas mais profundas”.

Elas nos obrigam a reexaminar nossa concepção da missão, em todos os graus. Valem para os indivíduos, a quem impõem um exame de consciência. Valem para as instituições, que devem ser julgadas e reconsideradas à sua luz. Criam um problema de organização, de capacitação. Repetem-nos, sem rodeios, que a Igreja deste mundo é, mais do que nunca, uma Igreja missionária. A Igreja quer que cada cristão, em todos os setores e em todas as classes, tome sua parte ativa na obra da evangelização do mundo.

Mais do que nunca, é hora de um cristianismo irradiante, apostólico, missionário. É hora de organizar todas as forças cristãs em vista de uma missão evangelizadora direta, abrangente, incisiva, generosa, audaz à altura das necessidades. Falamos de “parresia”, o anúncio corajoso da Palavra de Deus que é acompanhado pelo testemunho de uma vida dedicada e se preciso acompanhada do martírio. (cf Atos 2,29)

O Novo Testamento só conhece uma forma de apostolado: a “Missão”, que significa “Envio”. A vocação missionária, própria de todo cristão, traz em si algo da vocação de Abraão, a quem ordenou o Senhor: “Sai de tua terra e de teu clã e dirige-te para a terra que eu te mostrarei”. (Atos 7,3) Temos de sair, nós também, temos de deixar o nosso meio familiar para irmos a essa massa que se nos tornou cada vez mais estranha: eis a terra que Deus nos mostra. Ao ler estas palavras, será necessário recordar constante-mente essa preocupação superior.

Esse dever missionário, obrigatório para todos, impõe-se ainda como um dever comunitário, como tarefa a ser solidariamente desempenhada por todos os batizados, pelos sacerdotes, pelos religiosos, pelos leigos.

A Igreja “em estado de missão”, quer dizer-se que a Igreja que tem o papel de, de ao mesmo tempo, unir os homens a Deus e levar Deus aos homens, aspectos complementares, igualmente necessários. Pode-se distinguir, mas não separar, a Igreja em estado de missão da Igreja em estado de oração. Uma atividade missionária que menosprezasse o lugar fundamental da vida interior (oração pessoal e comunitária) e da humildade básica (dependência total de Deus) – alma de toda missão – seria destituída de sua força e fracassaria com certeza.

Essa “alma de toda missão” anima de dentro para fora todo esforço realizado para a glória de Deus. “Narrarei Teu nome a meus irmãos e louvar-Te-ei, Senhor, no meio da assembléia”, exclama o salmista, mostrando assim que missão e oração se encontram. Quem leva aos homens a mensagem de Deus, suscita-Lhe adoradores: a missão conduz à adoração, assim como a adoração conduz à missão, por via de conseqüência normal. Importa não esquecer jamais a profundeza desse vínculo.

Que o Espírito Santo nos conceda sermos, cada um no respectivo lugar, dóceis à Sua inspiração e ao Seu poder renovador: Envia Senhor, Seu Santo Espírito Criador, e toda Terra será renovada!

Autor:  Tácito Coutinho – Tatá – Moderador do Conselho da Comunidade Javé Nissi

Comunidade Javé Nissi

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