Bíblia: Manual de Relacionamentos
Alguns princípios básicos para o relacionamento na bíblia. Aliás, a bíblia é um livro que trata essencialmente de relacionamento, abordando nas mais variadas circunstâncias; contudo seu foco central é propor ao homem as vias necessárias para que ele possa travar um bom relacionamento com Deus e por consequência com os irmãos (I Jo 4,7-8.20).
De maneira sintética podemos dizer que a bíblia propõe três passos para a maturidade do relacionamento, tanto afetivo sexual (namoro e casamento), quanto afetivo existencial (amizades e família). Procuraremos analisa-los: “Conhecimento de Deus – Perdão – Vivência Comunitária”.
O conhecimento de Deus é expresso tanto no Antigo quanto no Novo Testamento como uma necessidade e como vontade de Deus para seu povo. O profeta Oséias já no século VIII antes de Cristo bradava com o povo de Israel: “Misericórdia eu quero, conhecimento de Deus mais que holocaustos” (Os 6,6). Conhecer a Deus é a base fundamental para conhecer-se a si mesmo. Ninguém conhece melhor a criatura que o criador. À medida que conhecemos a Deus conhecemos a nós mesmos, ou na melhor das hipóteses, o que deveríamos ser!
No NT João propõe o conhecimento de Deus numa via experiencial afirmando: “quem não ama não conhece a Deus” (I Jo 4,8) e ainda: “Ele nos amou primeiro” (I Jo 4,10.16.19). Na perspectiva Joanina a condição para amar é ser amado, sendo assim, todo homem está apto para amar, pois foi amado antes mesmo de existir. O amor é uma descoberta, um encontro, um sentimento que uma vez aguçado não mais se apaga.
São Paulo propõe um conhecimento tanto experiencial quanto intelectual! “E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo” (Fl 3,8). O Apóstolo reconhece em Jesus a razão de sua existência, de tal maneira a refutar toda sua formação como Fariseu, atribuindo-a a esterco em vista do bem maior que é Cristo Jesus. O Apóstolo transitou da experiência a consciência, isto é, tinha excelente formação intelectual, foi encontrado por cristo (At 9), depois considerou-a como perda, uma vez experimentado a grandeza desse amor partiu novamente para a via intelectual, só que neste momento, com uma base indestrutível, a experiência de ser amado e, compreendendo que a bíblia toda só comunica esse amor.
O amor afetivo-sexual necessita passar por uma experiência de encontro com Deus. Só Deus é fonte inesgotável de amor (Jo 4 – Samaritana). Por mais que amemos de toda coração nosso (a) namorado (a), nosso (a) esposo (a), sem esse amor maior sempre faltará alguma coisa: DEUS! A partir daqui podemos considerar os outros dois pontos.
Perdoar, este é um sinal concreto de Deus! Não há quem se diga realmente cristão que não tenha sentido a forte experiência do perdão, desse amor incondicional e sublime, com força desmedida capaz de arrancar dos mais profundos abismos. O perdão é um exercício constante, mais precisamente é a vigilância no ressentimento, é não dar ocasião ao ladrão (Ef 4,26-27). Ele deve ser exercitado na vida a dois, mas a experiência tem demonstrado que é preciso ir além, isto é, sem a vivência comunitária nossa visão de perdão ainda fica meio que ofuscada. Na comunidade somos formados e exercitados no perdão dia a dia, nela temos tanto a experiência vivencial do amor de Deus quanto intelectual. Experimentamos e estudamos esse amor! Nela, comunidade, o relacionamento é vital, de tal maneira que ela se torna uma academia, que de maneira analógica podemos dizer: faz crescer os músculos do coração!
Na base de todo relacionamento seja de amizade ou namoro-casamento, estes três princípios são salutares: conhecimento de Deus – perdão e vida comunitária!
“Amemo-nos uns aos outros” (Jo 13,35).
Autor: Carlinhos Faria – Teólogo – Membro da Comunidade Javé Nissi