Enamorar: uma relação em 3D
Na raiz de um sadio e bom relacionamento a dois está o enamorar, a beleza do encanto. En-amor-ar é envolver-se e deixar-se envolver, é amar e se deixar amar.
No entanto, cabe-nos a indagação: que amor é esse? É possível elaborar critérios a esse respeito?
Trata-se de um amor em três dimensões – 3D. No grego o amor é apresentado como erós (?ρως)– filia(φιλ?α)– ágape (?γ?πη). Portanto, enamorar é experimentar, ainda que às apalpadelas, um amor em 3D. Vamos pontuar cada uma delas direcionando sua especificidade dentro da experiência dinâmica do namoro.
- Éros é a raiz da palavra erótica. É o princípio da atração, gera uma moção interior, como um desejo de posse, de querer tocar, beijar, acariciar.
- Filia, aportuguesando o termo, é essa relação de irmão, de cuidado, de respeito, de zelo. Faz fluir o afeto que vai desde a troca de olhares ao toque das mãos, o cafuné, o riso sem motivo aparente. É o deslindar do humano que na sua pureza se faz divino.
- O Ágape é a garantia de que estamos no caminho certo. É amor que perpassa o éros e o filia e aponta para além, isto é, foge aos parâmetros da eroticidade, fazendo transcender a simples relação de amizade. É uma experiência que gera vida, nos faz dar a vida. É a raiz da fidelidade, é a volição da sinceridade, é a entrega desmedida é o amor sem medida! É a atitude mais concreta do que se jura no altar: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe.
Uma autêntica experiência desse amor em 3D insere o humano na esfera do divino, em outras palavras, o relacionamento vira sacramento, é tão belo, tão divino que é sagrado. Engloba o melhor das relações humanas, fazendo-as ser vividas em profundidade e com reciprocidade.
Nossa reflexão não tem a pretensão de ser uma resposta, antes uma iluminação e via de circunspecção. Reconhecemos que o relacionamento a dois é dinâmico, tem erros e acertos, se constrói e supõe discernimento.
Uma coisa é certa, um relacionamento que não integra harmoniosamente essas três dimensões é “natimorto”, não gera vida!
Criteriando esses princípios, já de-per-si vemos que o ficar é abortivo – “o que não me compromete não me faz melhor”. No que tange a esse amor bem vivenciado em suas três dimensões, podemos evidenciar: Somente quem experimentou ou busca com retidão, sabe a beleza, o sabor que tem este enamorar. Não sendo só mais um em meio à multidão, não teme em esperar, para alegremente disfrutar a beleza do encanto que é a arte de amar.
Não tenha medo de se diferenciar da multidão, o verdadeiro amor é aquele que tem valores e encanta o coração. Amar é fascinante, é essencial, é dinâmico é vitalício!
Na matemática do amor não se calcula com quantos namorou, mas o quanto se amou se buscou a integridade desse amor. Sustentar um namoro somente com uma das três dimensões pode ser frustrante! Não basta só atração sexual, nem mesmo boa amizade, ambas precisam existir e para subsistir nas intempéries comuns da relação, deve necessariamente se desabrochar no amor ágape, na doação, no amor fiel, na complementaridade.
Não nos esqueçamos: “namoro é tempo de discernimento, sua maturidade é sinal de casamento”!
Autor: Carlinhos Faria – Teólogo – Membro da Comunidade Javé Nissi