Castidade e Pós-Modernidade Uma Relação de Contrassenso
A castidade aponta para o futuro, daí o problema enfrentado em nossos dias, pois somos treinados por todas as vias e meios a sermos presentistas. Na sociedade atual cabe somente o aqui e agora, ainda mais se estivermos falando de sexo, ele é visto como algo do corpo, mais fora da pessoa, como se fosse algo que eu posso viver sem me comprometer, pois “não faz parte de mim”! Doce ilusão, e o pior, quantas feridas são abertas, não compreendidas e nem curadas. Sem contar a gravidez não planejada, o sonho comprometido, o aborto, a má educação, a desestrutura social e financeira, e por ai segue lista de contratempos, não para por aqui se quisermos prossegui-la, mas sem dúvida não é esta nossa intenção.
Precisamos romper com o tabu moderno de que valores são coisas de velhos, e ainda, que os valores são outros. O tempo pode passar, a ciência pode evoluir, mas o ser humano é o mesmo, com seus desejos, medos e vontades, a pessoa é a mesma, o que se percebe é que a direção que se dá a esta história é que tem sido outra. Nunca tivemos uma ciência tão bem elaborada e tão acessível a todos como em nossos dias, no entanto, seu benefício é mínimo diante de tudo que ela poderia nos proporcionar. Temos conhecimentos sobre a riqueza e eficácia dos alimentos e mesmo assim adoecemos por não sabermos comer bem, entenda-se: comer o necessário! Somos alertados constantemente quanto ao malefício das drogas e infelizmente vemos famílias e famílias sendo consumidas por elas; somos exortados a todo instante sobre a importância e o valor das atividades físicas e mesmo assim é altíssimo o índice de obesidade mórbida, infarto (etc.) principalmente pela falta deste tipo de atividade; ouvimos e lemos em todos os lugares sobre o valor da educação, da formação e dos estudos e, ainda assim, temos uma massa enorme de analfabetos funcionais e também professores que repetem o mesmo refrão quanto aos valores da educação, e ainda assim, afirmam que não gostam de ler.
Vivemos na sociedade do contraditório, onde a razão é engolida pelo instinto, e na sexualidade não é diferente, a não ser quanto ao fato de que não se ouve mais falar de namoro casto, sexo só depois do casamento, casamento até que a morte nos separe, estamos na sociedade do “seja eterno enquanto dure esse amor”, e este eterno dura uma balada, alguns meses e até alguns anos. Vejamos, não importa aqui a crítica, mas o alerta, olhemos para as consequências, para avaliarmos o investimento. Se para Maquiavel “os fins justificam os meios”, na sexualidade se vive o oposto, “são os meios que deturpam os fins”! Aproveitemos agora que somos jovens bonitos e temos disposição, se sobrar alguma coisa veremos o que fazer no amanhã! Em meio a isso tudo, temos uma certeza, não sabemos se teremos o amanhã, mas com esta certeza uma incógnita: e se houver o amanhã? Como vivê-lo? Em alguns casos como suportá-lo? Não são poucos os casos de suicídios cuja causa foi a perda, ou pior ainda, não haver sentido na vida!
Pode parecer até estranho levantar tanta lebre para falar de castidade, mais ai é que está à pedra de toque, a palavra chave, a castidade se engloba na vida e não em atos separados, ela é uma opção de vida! Ela é sinônimo de sabedoria, de equilíbrio, e por que não, de luta! Ensina-nos o Catecismo da Igreja Católica: “A castidade é uma virtude moral. É também um dom de Deus, uma graça, um fruto da obra espiritual. O Espírito Santo concede o dom de imitar a pureza de Cristo àquele que foi regenerado pela água do Batismo” (2345).
Não tenhamos medo de ser cristãos, de acreditarmos no poder de Deus, na sabedoria que ele nos transmite quanto ao como conduzir nossas vidas. A perda da referência em relação a Deus, a busca deuma liberdade sem limites, gerou a sociedade que temos agora, se quisermos um futuro melhor, precisamos retomar os valores! Você tem autonomia quanto ao que fazer de sua vida, justamente por esse motivo, faça o certo, tenha fé, creia na proposta de Deus aos exilados na babilônia e que se estende a todos que nele creem até nossos dias: “Sei muito bem do projeto que tenho em relação a vós, oráculo de Javé, é um projeto de felicidade, não de sofrimento, dar-vos-ei um futuro e uma esperança”! (Jr 29,11).
Autor: Carlinhos Faria – Teólogo – Membro da Comunidade Javé Nissi