Habilitados para Amar
Na sua primeira carta São João nos ensina: Amemo-nos uns aos outros, pois vem de Deus (I Jo 4,7). Amar é uma dadiva, é uma graça que rebemos de Deus, não amamos porque somos bons, mas porque “Deus nos amou primeiro” (I Jo 4,10.19).
Algumas vezes costumo levantar esta questão em minhas pregações: Perdoar é divino?
Não estamos falando aqui de simples ressentimentos ou magoas, falamos de casos mais sérios, tipo: “Adultério, Assassinato de algum membro da família etc”.
As respostas variam alguns, às vezes até mesmo por terem passado situações adversas e ainda se encontrarem feridos e magoados dizem: Sim! Ao passo que outros, talvez por boa vontade, ou imbuídos de uma boa dose de humanismo dizem: Não!
Para aqueles que se negam a colaborar no processo de perdão a resposta é não (o perdão não é divino, no sentido de que Deus venha e perdoe em nosso lugar), precisamos fazer a nossa parte; para aqueles que se baseiam no seu humanismo (por humanismo faço entender aqui, boa vontade, técnicas psicológica e até mesmo soberba), pensando conseguir por si só a resposta é não (Sem o amor de Deus para suplantar nossas fraquezas, perdoar se torna impossível)!
O fato é que perdoar em primeira instancia é divino, pois em determinadas situações sem o amor de Deus para nos socorrer o perdão é impensável, insustentável. No entanto, esse amor derramado em nossos corações (Rm 5,5), torna-se um manancial à medida que colaboramos para que ele venha fluir em nosso interior tendo como foco principal a cura de nosso coração para o relacionamento com os irmãos. Um quer dizer: Deus não vem perdoar no meu lugar; o outro quer dizer: Só por Deus!
Em ambos os fatos o perdão sem Deus e sem Nós é impensável!
O Senhor pode exigir de nós esse amor (Mt 6,15), porque ele nos deu em abundancia (Rm 5,20; 5,5; Jo 7,38).
Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei (Jo 15,12). Este é peso, esta é a medida!
A luz que cura
Neste audacioso processo de cura interior o que precisamos fazer, é aprender a vivenciar os fatos que nos feriram a luz de Cristo (Jo 8,12). Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre (Heb 13,8). Jesus é Senhor do tempo! Ele pode voltar conosco em nossos momentos de dor e angustia que muitas vezes carregamos sozinhos e nos sentimos envergonhados até mesmo de partilhar.
A presença de Jesus é curadora, com isto não quero dizer que as imagens vão sumir, e sim que a carga negativa dessas imagens já não terão efeitos sobre nós, pois aquele que é Senhor da vida, venceu em nós as situações de morte.
Precisamos criar o habito de reler nossas vidas a luz de Cristo! A pratica da cura interior não é algo que usamos uma vez na vida e outra na morte; ao contrário precisamos estar aptos a praticá-la no dia a dia, por que é comum em nossos relacionamentos nos magoarmos e também magoarmos as pessoas.
Não nos esqueçamos, o nosso Deus é o “Deus que cura” (Ex 15,26).
Autor: Carlinhos Faria – Teólogo – Membro da Comunidade Javé Nissi