Batismo no Espírito e Identidade da Renovação Carismática

Batismo no Espírito e Identidade da Renovação Carismática

Uma das conclusões a que chegaram McDonnell e Montague em seu estudo sobre iniciação cristã e batismo no Espírito Santo é que este pertence à pública liturgia oficial da Igreja sendo, portanto, normativo. Destarte, ele não diz respeito a uma devoção particular. Esses autores assim se expressam: “Quando acontece uma identificação crua entre o batismo no Espírito Santo e a renovação carismática, então, o batismo no Espírito fica facilmente identificado com formas particulares de comunidade (grupos de oração, comunidades de aliança) ou com um modo particular de oração”.[1]

Isso não colocaria em questão a faculdade do movimento da Renovação Carismática Católica de requisitar o batismo no Espírito como elemento de sua identidade? Um elemento identitário é, em geral, reconhecido como algo que especifica a natureza de uma determinada expressão. Se o batismo no Espírito pertence a toda a Igreja, como pode ser a identidade da RCC?

Em princípio, não há problema quanto a isso. O fato de um movimento estabelecer um elemento como traço de sua identidade não significa que exerça exclusividade sobre ele, mas apenas que, para o movimento, aquele elemento se sobressai. Correspondentes disso são encontrados nos carismas de fundação das congregações ou comunidades novas. Geralmente, eles enfatizam um aspecto do mistério cristão que pertence a todos.

Entretanto, isso chama a atenção para o segundo elemento da identidade da RCC, que são os carismas. Eles também estão no âmbito público e são inseparáveis do chamado à santidade para todo o Corpo de Cristo. Como são dados para o crescimento desse Corpo, ligam-se em especial à missão da Igreja e a seu chamado à evangelização.[2]

Mas os carismas apresentam-se com uma diversidade muito grande. Assim, determinados tipos de carismas podem caracterizar mais intensamente um movimento, dando-lhes um “rosto”. Sob esse aspecto, podem ser reivindicados como traço identitário específico.

A meu ver, o que define especificamente a Renovação Carismática são os carismas proféticos. Justamente por não serem realidades essenciais à vida na graça, é que podem ser assumidos como devoção particular. Isso não significa que eles não são úteis a outras expressões da Igreja, mas que, para a Renovação Carismática, eles são normativos.

A identificação histórica do movimento pentecostal católico com a lista de carismas de 1 Coríntios 12 é que sustenta essa afirmação. O movimento deu uma interpretação a essa lista, caracterizando os nove dons de uma forma às vezes contestada exegética e teologicamente, mas coerente com a própria experiência de exercício desses dons.

Assim, o movimento carismático manteria sua identidade nuclear (batismo no Espírito e carismas), reconhecendo ainda que, naquilo que lhe é essencial, inclui-se uma determinada categoria desses carismas, os dons proféticos, para que o movimento continue recordando à Igreja a atualidade das manifestações visíveis do Espírito Santo.

Conclusão

Conclui-se, então, que o batismo no Espírito Santo é, antes de tudo, uma realidade histórica. Como experiência religiosa, ele se situa em determinado tempo e distingue-se claramente do sacramento do Batismo. Foi introduzido pelo movimento pentecostal num momento de rotinização da experiência religiosa cristã, alterando o processo que se acentuava há séculos na Igreja Católica. Em princípio, o batismo no Espírito Santo só se justifica porque os sacramentos da iniciação perderam sua funcionalidade experiencial e carismática.

O aspecto informal do batismo no Espírito confere a ele a possibilidade de contribuir para a redemocratização da experiência religiosa, o que acaba atraindo diversas resistências. Porém, por causa dessa informalidade ele consegue ser comunicado rapidamente, respondendo às urgências atuais da evangelização. Interpretado na Renovação Carismática como o momento em que o dom do Espírito Santo recebido no Batismo torna-se sensível à consciência individual, o batismo no Espírito oferece propriedades para que se conclua que ele contém uma nova incidência do Espírito Santo, com ou sem relação com a iniciação cristã.

Na tentativa de agregar o evento histórico “batismo no Espírito Santo” com o a doutrina tradicional católica, alguns propõem que ele atualiza a graça recebida no sacramento do Batismo. Outros, por sua vez, sugerem que se trata de uma graça de oração, sem nenhuma relação com a iniciação cristã. Em qualquer hipótese, há uma necessidade pastoral de que a experiência seja estimulada, gerando-se uma ambientação adequada para sua realização e sem preocupações com o controle excessivo. Normativos a toda a Igreja, o batismo no Espírito Santo e os carismas são os dois eixos da identidade da Renovação Carismática Católica sendo que, nesta, os dons proféticos também são essenciais.

[1] Ibid., p. 372.

[2] Paul Josef CORDES, Reflexões sobre a Renovação Carismática Católica, p. 58.


 

Autor: Ronaldo José de Sousa – Comunidade Remidos no Senhor

Comunidade Javé Nissi

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