Deus existe?
Eis uma pergunta capciosa! Empiricamente não se prova a existência de Deus, na mesma linha explicita o Cardeal Ratzinger[1]: “Ninguém é capaz de fornecer uma prova matemática de Deus. O próprio crente é incapaz de fazê-lo para seu próprio uso”.
Contudo Deus se faz perceptível pelos sinais, Ele se deixa encontrar tanto nos momentos de alegria como de dor, na expressão máxima de uma pesquisa cientifica, bem como na simplicidade de um amanhecer! Na linha de Tomas de Aquino é possível elencar cinco vias que proporcionam esta percepção. Vejamos esta exposição do Santo Doutor:
- Primeiro Motor Imóvel: Supõe o universo em movimento, porém um ser não move a si mesmo, logo é preciso que haja outro ser que o movimente. Assim Tomas fala de um primeiro motor que o movimente.
- Primeira Causa Eficiente: Trata-se do efeito que este motor imóvel acarreta, pois não a efeito sem causa. Assim retrocedendo ao infinito, não poderíamos senão chegar a uma causa eficiente que dá início ao movimento das coisas.
- Ser Necessário e os seres possíveis: Trata-se dos seres que podem ser e não ser. Fala-se de um não ser que passa a ser e pode voltar a não ser. Sendo que do nada, nada vem, é preciso que haja um Ser que fundamente esta existência!
- Graus de Perfeição: Trata-se de um máximo que contém o verdadeiro ser. Nas coisas existem graus de perfeição, mas para que existam estes graus é preciso que exista um ser máximo desta perfeição. Assim existe um ser máximo de beleza, de bondade, de poder, de verdade, sendo, portanto, um ser máximo e pleno.
- Governo Supremo: Trata-se da ordem e finalidade que a suprema inteligência governa todas as coisas. Há um ser inteligente que dirige todas as coisas para que elas cumpram seu objetivo.
O ser movente que não é movido por nem um outro é Deus; Essa causa primeira é Deus; Este Ser necessário é Deus; Esse Ser perfeito é Deus; Este Ser inteligente que dirige todas coisas na natureza é Deus. Se tem alguém que pode usar a frase da música de Roberto Carlos neste contexto é Deus: ESSE CARA SOU EU!
De maneira objetiva, penso ser mais difícil negar a existência de Deus do que provar sua existência! “O homem e Deus não são concorrentes. O ato criador de Deus é de outra ordem que o ato criador do homem. Sempre infinitamente presente em sua criação, Deus não ameaça em nada a liberdade do homem: ele o faz existir. cabe a este usar como quiser sua liberdade: ele é total e realmente responsável por suas ações[2]”. Somos co-criadores com Deus, sem com isto roubar-lhe a divindade e ao mesmo tempo somos orientados por Deus sem que este roube-nos a liberdade!
“Interroguei a terra e ela me respondeu: Eu não sou o teu Deus. Tudo que vive na superfície da terra me deu a mesma resposta. Interroguei o mar e seus habitantes e eles me responderam: Não somos o teu Deus, procura mais acima. Interroguei o vento, e ele me respondeu: Eu não sou o teu Deus. Interroguei o céu, o sol, a lua, as estrelas. Todos me responderam: Não somos o deus que procuras. Então eu lhes pedi: Já que não sois o meu Deus, falai-me de meu Deus, dizei-me alguma coisa sobre ele. E todos me responderam, com sua voz poderosa: Foi ele que nos criou. Para os interrogar, eu precisava somente contemplar, e sua resposta era sua beleza” (Santo Agostinho).
Como Agostinho ou Tomas de Aquino não tenhamos medo de buscar conhecer a existência de Deus. O criador não se esconde da criatura (Is 55,6; Ap 3, 20).
[1] Citado no livro: MORIN, Dominique. Deus Existe. São Paulo, Loyola, 1995. p. 18.
[2] Ibid, p. 40
Autor: Carlinhos Faria – Teólogo – Membro da Comunidade Javé Nissi