Justiça Social – E Renova a Face da Terra
Vivemos num mundo em que é muito fácil fazer uma dicotomia entre a oração e a ação, caindo num intelectualismo ou num ativismo que a nada conduzem: uma reflexão alienada e desengajada ou uma ação irrefletida, sem fundamento e sentido crítico.
“Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’ que entrará no Reino dos Céus, mas só aquele que põe em prática à vontade de meu Pai que está nos céus”. (Mt 7,21), quer dizer que é necessário salientar o mandamento que diz: “amarás teu próximo como a ti mesmo”. Portanto ser cristão implica em trabalhar pela libertação do homem e a realização de um mundo mais justo e fraterno.
O apelo ao engajamento social nasceu, de uma preocupação legítima de se evitar um cristianismo “pietista” e alienante, desencarnado, esquecido das implicações sociais do Evangelho. Mas a radicalização “do social somente” põe em risco a própria especificidade do cristianismo. Há um duplo perigo a se evitado: o de um cristianismo desencarnado, e o de um cristianismo sem Cristo ressuscitado e vivo.
Contemplemos Jesus Cristo na cruz. A fé nos leva a acolher integralmente esse mistério: a vinculação do serviço aos irmãos e a contemplação de Deus. Não podemos abandonar o mundo, no sentido de não se importar com o que acontece nele, em nome de Deus, também não podemos abandonar Deus em nome de nossos compromissos temporais.
Todo o batizado deve assumir as conseqüências sociais de sua identidade cristã, numa participação efetiva no trabalho de libertação do mundo, a partir de sua vocação pessoal, por mais difícil que possa ser. Não se trata de escolher entre fé e obras, ou de justapor a fé a as obras, mas sim de pôr a fé em obras.
A fé não faz o homem fugir do mundo e nem o transforma num super-homem. O que a fé faz é gerar uma qualidade de vida que transfigura a existência humana cotidiana, no sentido de uma abertura maior ao outro, de uma verdade mais intensa, de bondade e justiça, de liberdade e responsabilidade.
Os valores do Reino, brotados da fé, podem aparecer com maior clareza num Grupo de Oração, que constitui um espaço de confiança e liberdade, de abertura e gratuidade. As relações interpessoais podem gerar aí uma profunda comunhão, graças a uma abertura comum ao Espírito Santo. Essa experiência social pode ter grande significado e provocar impacto sobre outros planos das relações humanas, como por exemplo, o plano econômico. Lemos nos Atos dos Apóstolos: “Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e possuíam tudo em comum, vendiam suas propriedades e bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um”. (Atos 2, 44s) A Renovação Carismática Católica pode ser um agente de transformação social a partir de seu apelo à radicalidade evangélica e por sua insistência no serviço mútuo.
O engajamento social não é simplesmente um dever moral acrescentado à evangelização. É a consciência do Evangelho que leva à Igreja a se engajar em favor de tudo aquilo que é a favor do homem, no sentido de torna-lo mais humano, mais digno, que promova seu crescimento e libertação.
É necessário unir a evangelização e a ação social. É preciso impulsionar as duas vertentes a um só tempo. Temos que oferecer ao homem, ao mesmo tempo, os meios de viver e as razões para viver. Um dever não elimina o outro e nem se prioriza um sobre o outro.“Alimentar os homens não implica em salvá-los, embora minha salvação me imponha alimentá-los”.
As palavras “renovareis a face da Terra”, devem ser consideradas ao contemplar a atualidade. Ficamos espantados e temerosos do futuro, observamos guerras, pobreza, violência, massacres, “limpezas étnicas”, doenças endêmicas, manipulação dos genes humanos sem nenhuma consciência, prostituição, o poder político e econômico influenciando a opinião pública e determinando comportamentos com o uso indiscriminado da propaganda. Não podemos nos omitir. Não basta cumprir os mandamentos, como o jovem rico (Mc 10, 17 – 22), e ter uma consciência tranqüila no aspecto legalista, é necessário ir “além da lei” para seguir Jesus.
O cristianismo não nos convida a desertar o mundo, pelo contrário, impõe a todo batizado o dever de participar, segundo sua capacidade e vocação, das iniciativas e projetos a favor do desenvolvimento humano. É seu dever, segundo suas forças e competências, atuar contra a miséria e a fome, o desemprego e a doença, a violência e a corrupção, a exclusão social e racial, as injustiças e a ignorância. Agir em favor da construção de uma sociedade mais justa, mais fraterna e que favoreça o desenvolvimento humano em todos seus aspectos.
O Espírito Santo, dado no Batismo, deve ser o critério a iluminar toda ação cristã, seja ela educacional, promocional ou de desenvolvimento, em busca da libertação do mundo. Não há uma verdadeira ação de libertação se ela não for dirigida para o rompimento com o pecado e a conversão real e profunda a Jesus Cristo.
A libertação total do homem é dom de Deus. Rezemos audaciosamente “envia Teu Espírito e tudo será criado e renovareis a face da Terra”. O Espírito atinge o homem em sua profundidade e intimidade, encaminha-o, libertando-o de todas as escravidões, para realiza-lo em Deus.
Autor: Tácito Coutinho – Tatá – Moderador do Conselho da Comunidade Javé Nissi