Consolar: um dia eu, outro dia você!
“Consolai-vos mutuamente e edificai-vos uns aos outros.” (1Tes 5, 11).
Para um simples ditado popular “A vida é um eterno aprendizado”, uma ótima reflexão seria pensarmos que “Para aprender e crescer são necessárias muitas perdas”.
A vida humana é construída após sucessivas perdas, desde o nascimento até a velhice. Todas as perdas, que incluem o rompimento do cordão umbilical e saída do útero materno, inclusive a consciência de que somos um Ser separado da nossa mãe até a chegada a tenra idade, onde já vivenciamos todo uma vida cheia de chegadas, partidas, alegrias, dores, tristezas e prazeres.
A medida que se passa o tempo, perdemos o aconchego materno: nós seremos deixados por nossa mãe e vamos também deixá-la. Iremos perceber que nem todo sofrimento é curado com um beijo. Ao longo deste crescimento perdemos relações, perdemos espaço, perdemos amores, perdemos expectativas, perdemos ilusões, perdemos a liberdade e o poder, perdemos saúde, perdemos oportunidades, perdemos entes amados, perdemos a segurança, perdemos os filhos que se tornam independentes, perdemos a infância e a juventude e a vida vai se mostrando numa crescente perda.
Todas essas perdas são acompanhadas de algum tipo de sofrimento e de vivências muitas vezes traumáticas. Depender de uma relação de afeto, cuidado e de dedicação são bastante proveitosas e importantes que a nossa dor possa ser amenizada.
Neste emaranhado de sucessivas perdas percebemos muitas nuances: o distanciamento e transformações referentes ao tornar-se um ser independente da nossa mãe, a transformação da consciência de que necessitamos de muitos aprendizados e e que para pertencermos em uma sociedade, precisamos desenvolver nossa moral, ética e cidadania, para tal, faremos muitas escolhas e teremos muitas renúncias. A as perdas dos sonhos muitas vezes renunciados e dos relacionamentos ideais e finalmente, para entendermos essas múltiplas perdas, chegamos na velhice, onde acontece muitas desistência e abandono da vida.
Mas para quem acha que perder é um problema, proponho pensar que só conseguimos desenvolver-nos enquanto Seres Humanos por passarmos por essas perdas tão necessárias, responsáveis pelo nosso crescimento e que tanto nos fortalece para continuar na jornada da vida.
E o que fazer com elas?
Com um significado bastante significativo, a palavra consolo com origem do Latim “Consolari” – a junção de COM que significa junto e SOLARI que nos remete ao Reconfortar, aliviar e suavizar.
Nosso papel enquanto Cidadãos, Cristãos e Humanos é também estarmos comprometidos no bem que fazemos ao próximo. É podermos consolar, ou seja, é de mãos dadas com o outro, reconfortar e contribuir para o alívio do sofrimento daquele que está triste, magoado e muitas vezes dilacerado pelos sofrimentos que a vida impõe.
Neste mundo dotado da nova modalidade de relacionamento – o Individualismo cibernético – onde basta ter uma pessoa e um computador/celular, esquecemo-nos ou não nos damos conta de que o outro é alguém e de que todos nós dependemos dessa relação face a face para que sejamos saudáveis psíquica e socialmente.
Assim, encontramos ‘um mundo’ cada vez mais egoísta e individualista e, admitir essa relação face e a face e reconstruir uma relação que antigamente existia – o entardecer com vizinhos que compartilhavam suas idéias e sua rotina, os domingos com famílias numerosas e unidas, as brincadeiras nas ruas, as ‘pamonhas’ que colocavam as mulheres por um dia todo em contato uma com as outras e que ceifavam amizade, cumplicidade e relacionamentos sadios já não existem mais.
O individualismo chegou para não nos comprometer com a vida do outro!!!!
Autor: Lú Cazaroto – Psicóloga – Comunidade Javé Nissi