Vocação a Santidade, a Missão e encontro pessoal com o Senhor
Concílio Vaticano II
A Renovação Carismática procede do Concílio Vaticano II. Os primeiros sempre nos ensinaram isso, sobretudo Cardeal Suenens. Portanto para conhecermos o significado da Renovação Carismática temos que buscá-lo em sua sementeira: no Concílio e o que ele significa para a Igreja nestes tempos.
O Concílio Vaticano II foi, sem dúvida alguma, urna intervenção do Espírito Santo na Igreja. Foi preparado intensamente pelos papas que o precederam através da publicação de várias encíclicas que suscitaram a devoção e o conhecimento da ação do Espírito Santo, sobretudo na Igreja.
Concílio foi um Concílio do Espírito Santo. Não como objeto da Doutrina Central ou por definir sua Missão, mas do Espírito porque iniciou uma ampla e irresistível renovação na Igreja, renovação que só Ele é capaz de realizar. Portanto é desta unção de renovação que procedem todas as expressões de renovação de nossos dias, entre elas a Renovação Carismática Católica.
Analisando o contexto histórico do Concílio, reconhecemos sua missão. O quadro que observávamos então, era (e ainda o é) preocupante, sob o ponto de vista humano: o secularismo avançava e a “morte de Deus” era anunciada a todo canto; o materialismo encantava aqueles que buscavam no ter e no poder a segurança e a resposta para toda vida humana; o ateísmo prático gerava a busca de prazer e experiências humanistas que geraram a chamada “revolução sexual e dos costumes”; o racionalismo, presente inclusive na Igreja e na formação do clero, reduzia o conhecimento de Deus a uma matéria, a uma teologia sem vida, onde tudo era explicado como mitos e figuras; a religião se parecia como um “novo pelagianismo”, onde a salvação só seria possível com um esforço puramente humano das práticas piedosas, mas rotineiras. O homem se tornara “o senhor” e as conseqüências desta postura foram e são desastrosas, gerando a violência, a exploração, a miséria, a fome, a injustiça…
Concílio vem proclamar, com um ânimo novo, JESUS CRISTO SALVADOR E SENHOR DOS HOMENS, contrapondo esta verdade fundamental da Fé a todas as afirmações que dizem respeito ao homem moderno. Esta é a nossa destinação, submeter-nos ao Senhorio de Jesus para gozarmos de sua Salvação.
O Concílio atualiza esta proclamação fundamental da fé. Daí derivam todos os movimentos e ações de renovação da Igreja, portanto, também a Renovação Carismática.
Santidade, Missão e Encontro pessoal.
O anúncio de Jesus Cristo Salvador e Senhor implica numa postura diante do mundo e dos homens e se opõe a toda e qualquer filosofia ou ideologia que escravizam e diminuem a humanidade. É uma resposta vigorosa e autêntica.
Ao retomar este anúncio fundamental, o Concílio Vaticano II em suas discussões, destaca o Batismo como Sacramento fundante da Igreja e coloca em relevo duas vocações batismais: o chamado à santidade e à missão.
Estes dois chamados são derivados do batismo e pelo qual somos inseridos no mistério de Cristo Salvador e Senhor. (cf. Jo 15,5) Todos nós fomos batizados em Jesus Cristo, sepultados Nele foram nossos pecados, para que vivamos Nele uma nova vida. (cf. Rm 6, 3-4) Pelo Batismo nós fomos revestidos de Cristo.(cf. Gal 3,27)
Senhor Jesus nos chama a “ser perfeitos como o Pai Celeste” (Mt 5,48). Isto é possível pela ação da graça do Espírito Santo em nós, como dom imerecido, dado pela misericórdia: “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. (Rm 5,5) Esta presença do Espírito em nós, realiza a comunhão com Deus de onde nos vem a santidade, que consiste em nada mais do que ser imitador de Deus. Este Santo Espírito é possível para nós porque “antes se acostumou” na “natureza humana” de Jesus Cristo. [1]
Do batismo ainda recebemos a missão de evangelizar, pois Jesus, ungido pelo Espírito Santo no Batismo do Jordão recebeu ordens “para anunciar a boa nova aos pobres” (Lc 4,18). Nossa comunhão com Jesus Cristo, realizada pelo Espírito dado no Batismo, contém o mandato da evangelização. Não é opção, é imposição. Nossa principal caridade ao irmão está em anunciar a ele a Boa Nova da Salvação. (cf. 1Jo 4,9-21)
Ainda, na tradição do Concílio, o Papa Paulo VI ensina, que “o encontro pessoal com o Senhor” é fundamental para que estas duas vocações se desabrochem e dêem frutos.
Ora, o Espírito Santo é dado para nossa santificação, e é Ele que nos impulsiona para a missão (como ocorreu no Cenáculo) e ainda “ninguém pode falar ‘Jesus é o Senhor’ senão pelo Espírito Santo”, resultado da atualização (de modo experiencial) dos sacramentos da iniciação cristã
Renovação Carismática Católica
O que é mais evidente na Renovação Carismática é a experiência do Pentecostes hoje, aliás, a Renovação Carismática tem sua identidade firmada na experiência do Pentecostes na Igreja. Dizemos que a Renovação Carismática é a expressão da pentecostalidade da Igreja, ou seja, manifesta de maneira evidente (sensível e visivelmente) o Pentecostes perene que a Igreja vive, E isto é verdade! Estas afirmações correspondem à visão que a Renovação Carismática tem dela mesma.
Mas também se deve dizer claramente que ela é também profundamente CRISTOCÊNTRICA, é este seu fundamento: Jesus Cristo, Salvador e Senhor dos Homens.
A realização dos três postulados (vocação a Santidade, vocação missionária e encontro pessoal com o Senhor) é resultado de uma ação inequívoca do Espírito Santo ou ainda, na medida em que estes postulados são efetivamente assumidos pelo fiel, vê-se ai uma “ação nova” do Espírito Santo, a que chamamos de Batismo no Espírito Santo. Esta é a experiência fundamental que se faz na Renovação Carismática Católica e ela (a experiência) se refere necessariamente a Jesus Cristo, o Senhor!
Portanto podemos falar que a experiência da Renovação Carismática, a partir de seu fundamento, caracteriza-se por três elementos: conversão pessoal, reconhecimento de Jesus Cristo como Senhor e Salvador e nova abertura ao Espírito Santo.
“Tal experiência espiritual é como uma graça de desbloqueio e de descobrimento místico, que tem como efeito a reatualização do batismo e confirmação, em um novo pentecostes”.[2]
“O que diferencia a Renovação Carismática de qualquer outra renovação ou movimento autêntico na Igreja é sua interpretação de que o papel do Espírito Santo não mudou na Igreja desde os primeiros séculos, e que hoje podemos experimentar sua efusão, seu poder e seus dons da mesma maneira que os cristãos primitivos.”[3]
Desta visão, temos uma conclusão de grande importância: o grande apelo da Renovação Carismática é à conversão. Ela está inserida na corrente de conversão, “mas apóia-se na oração como lugar de acolhida ao Espírito Santo, que faz nascer de novo (Jo 3,5) e muda de cima a baixo as nossas vidas para construir a Igreja”.[4]
O afastamento deste fundamento faz com que nossos Grupos de Oração percam a experiência do Pentecostes, pois é o Senhor Glorificado que derrama do Espírito Santo. (cf. Atos 2,32)
[1] Santo Irineu
[2] Gustavo Thilis, Existência e Santidad en Jesucrlsto, Edic.Sígueme, Salamanca – citado por Benigno Juanes em “Que é a Renovação Carismática Católica, Ed. Loyola
[3] Documento do Escritório Internacional da Renovação Carismática Católica, apresentado ao Papa João Paulo II em 1979, Roma
[4] Benigno Juanes, obra citada
Autor: Tácito Coutinho – Tatá – Moderador do Conselho da Comunidade Javé Nissi