Ministério Leigo: uma vocação e um dom para a Igreja de hoje
Sabemos que o Concílio Vaticano II (1962-1965) foi uma graça especial que impulsionou a Igreja a partir de uma grande onda de renovação experimentada por ela. E dentre as muitas graças que o “Vaticano II” trouxe para a Igreja, estão uma nova visão e reflexão sobre o papel dos fiéis leigos e de seu apostolado no mundo.
Refletindo sobre o leigo, assim o Concílio se pronunciou: “Por leigos entendem-se aqui todos os cristãos que não são membros da sagrada Ordem ou do estado religioso reconhecido pela Igreja, isto é, os fiéis que, incorporados em Cristo pelo Batismo, constituídos em Povo de Deus e tomados participantes, a seu modo, do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo, exercem pela parte que lhes toca, na Igreja e no mundo, a missão de todo o Povo cristão” (Lumen Gentium 31).
Temos aqui, portanto, um direito e um dever sobre o apostolado do fiel leigo. Direito, pois nós fomos incorporados a Cristo e seu Corpo Místico pelo Batismo. Dever, pois foi pelo Batismo que nos tornamos artífices (protagonistas) com Cristo, na missão de anunciar a Boa Nova do Evangelho a toda criatura (cf. Apostolican Actuositaten 3).
Assim, podemos afirmar que este Concílio lançou as bases para uma Igreja que fomentasse no povo de Deus a sua dignidade, não só de ouvintes ou destinatários da evangelização, mas, sobretudo, a sua dignidade de participantes corresponsáveis na propagação do Evangelho a todos os povos, culturas e ambientes onde o fiel leigo estiver inserido. Deste modo, a Igreja entende que na atualidade destes tempos com “o aumento crescente da população, o progresso das ciências e da técnica, as relações mais estreitas entre os homens dilataram os campos para o apostolado dos leigos” (Apostolican Actuositaten 1).
O mundo de hoje, com seus desafios próprios, a Igreja entende ser o campo de atuação do fiel leigo, pois “na tarefa de acolher o Evangelho como experiência de vida, de expressá-lo no cotidiano, o protagonismo é do cristão leigo (Doc. CNBB nº 56, pág. 34)”. Por isso, numa sociedade que desconsidera a Fé e não a tem mais como sua referência na construção dos valores, cabe a todo fiel leigo assumir sua condição de protagonista no processo de transformação do mundo por meio da propagação do Evangelho.
Dessa forma “o “mundo” torna-se o ambiente e o meio da vocação cristã de todos os fiéis leigos… Portanto, para estes, o estar e o agir no mundo são uma realidade, não só antropológica e sociológica, mas também e especificamente teológica e eclesial, pois é na sua situação intramundana que Deus manifesta o seu plano e comunica a especial vocação de “procurar o Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus” (Christifideles Laici nº 15)”.
O fiel leigo deve assumir a sua missão de leigo, compreendendo que sua missão não é uma missão de categoria inferior. Que sua missão não é derivada de outras missões, que não é um ministério subordinado ao do sacerdote e por isso, não tão importante para a construção do Reino. Trata-se de um ministério que em “conformidade com sua vocação laical, assume os diversos ofícios e funções que lhe são próprios e peculiares, seja na liturgia, seja na transmissão da fé ou nas diversas estruturas da vida da Igreja” (Christifideles Laici nº 23).
Os fiéis leigos são, portanto, membros da Igreja. Com vocação e missão próprias, inseridos no mundo que estão. Eles são “participantes do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, e têm sua parte ativa na vida e na ação da Igreja” (cf. Apostolican Actuositatem 10). Eles são uma riqueza para a Igreja sendo o que são: leigos!
Por isso toda “clericalização” e “clericalismo” devem ser evitados.
Não se trata aqui de valorizar o laicato e desconsiderar o valor e a importância do ministério ordenado. De modo algum! Mas se trata sim de colocar as funções e ministérios em seus devidos lugares, como dons de serviço para a edificação do Reino de Deus e a construção da civilização do amor.
Autor: Marcos Henrique dos Reis – Marcão – Comunidade Javé Nissi