Quando um enfermo tem morte cerebral, pode-se desligar os outros aparelhos? O que a Igreja ensina?
A pergunta é: quando um enfermo tem morte cerebral, pode-se desligar os outros aparelhos? O que a Igreja ensina?
João Paulo – Maria da Fé
Olá João Paulo, tudo em paz? Sua pergunta me fez pensar e até mesmo procurar ajuda de teólogos que trabalham os temas da bioética na Igreja. Peço licença inclusive para agradecer aqui o teólogo padre Márcio Fabri dos Anjos que colaborou com minha resposta, afinal perguntas como esta, que são razão de muita polêmica, precisam ser refletidas com bases teológicas e morais bem fundamentadas.
Mas no fundo a resposta parece ser bem simples: um paciente com morte cerebral já está, para a medicina e para a Igreja, morto. Um quadro de morte cerebral, feito os diagnósticos formais e provada a falência do cérebro, ainda que haja algum impulso vegetativo do corpo, é considerada situação irreversível, ou seja, a pessoa é considerada já sem vida. A partir daí, passa-se para a parte delicada do processo, que é informar a família, e tomar a decisão de desligar aparelhos – nesses casos não se pensa em distanásia, ou seja, prolongar a vida do paciente.
Também recorre-se ao desejo do paciente, já que muitos deixam em testamento pessoal seus interesses antes mesmo de encontrarem-se nessa situação. Nesses casos, João Paulo, os familiares não precisam carregar nenhum tipo de culpa ou responsabilidade moral pelo desligamento dos aparelhos. A Igreja entende que a decisão é óbvia, não se discute a moralidade de um ato desses, muito menos se trata de interromper o projeto de Deus, autor da vida.
Aceitar a morte cerebral como morte é na verdade entender o projeto de Deus que prevê a aceitação de nossa finitude. Obviamente, reitero, é preciso ter muito claro o diagnóstico da morte cerebral, vasculhar toda e qualquer possibilidade de que de fato há uma irreversibilidade do quadro clínico. No mais, segue-se um tratamento humanitário a pessoa que chegou ao fim de sua caminhada terrena e vislumbra, pela fé, o Reino de Deus.
Cuidar dos funerais de modo digno, rezar pelo falecido e pelos familiares, unir-se com a Igreja no fortalecimento da fé comunitária na Ressurreição de Jesus. A morte sempre será um momento que nos provoca, entristece, e pode até revoltar, quando não temos fé. Mas a morte, como a vida, é algo natural, e viver bem será sempre um bom modo de bem se preparar para morrer!
Tira Teima: Padre Evaldo César de Souza