Comprometidos
Noto em alguns uma preocupação e urgência, e em outros um sentimento de desânimo. Difícil explicar o contraste, mas tem alguma coisa a ver com o comprometimento de cada um.
Quando há determinação em continuar e crescer na experiência de Deus, a todo custo, há sempre um sentido de urgência e antecipação. Mas se há acomodação com o que se tem e a mentalidade de já ter atingido pleno êxito porque se controla tudo, encontra-se a falta de comprometimento e desânimo. Na realidade isso ocorre quando a opção é pela segurança e conforto pessoal em vez de confiar no poder do Espírito Santo. É a tentação do “menos”…
Quando lemos o livro dos Atos dos Apóstolos ficamos maravilhados com as coisas que a Igreja nascente realizou. Eles eram tão eficientes quando nós atingimos tão poucos; tão dinâmicos quando parecemos letárgicos; tão cheios de fé, quando nós somos submersos em dúvidas. O comprometimento daqueles primeiros cristãos com seu Senhor, a fraternidade que os unia e o zelo com a Missão, me deixam com um sentimento de desconforto.
Atrás das pessoas realmente comprometidas existe uma experiência decisiva que formou e mudou mentalidades e vidas. O comprometimento com o Senhor está enraizado no batismo com o Espírito Santo. Mas admito que o efeito sobre os Apóstolos foi de longe, mais profundo e permanente.
O Espírito Santo que recebi não é diferente daquele que eles receberam no dia de Pentecostes. Não admito ter recebido uma versão de segunda classe, enfraquecida, do século vinte e um. O Espírito Santo é o Espírito Santo! A resposta à sua ação é de responsabilidade minha não d’Ele. Ainda que os primeiros cristãos fossem ingênuos para os padrões modernos, devemos reconhecer que eles eram abertos a Deus, de modo surpreendente. O coração do comprometimento é a experiência do Espírito Santo que se traduz: na fidelidade à oração e à doutrina; na comunidade de vida partilhada e na vida eucarística; na prontidão para falar de Jesus e testemunhar seu Evangelho, mesmo que isso nos custe o sangue.
Como os primeiros cristãos, nós também experimentamos o poder do Espírito Santo. Também aprendemos que a efetividade de nossa vida em Cristo nunca estará acima do nível de nossa oração (sem oração nenhum fruto é duradouro) e de nossa entrega sincera (conversão profunda de nossa mentalidade e vontade). Hoje temos mais instrumentos e meios de evangelização do que os primeiros cristãos, mas é preciso discernir o que é essencial e o que é circunstancial, o que é importante e o que é secundário. (Ef. 4,14s)
Com os Apóstolos aprendemos que é preciso estabelecer relacionamentos mais comprometidos; que precisamos falar mais de Jesus, testemunhar de maneira mais radical os valores evangélicos, não importa o que custe e, sobretudo, que devemos confiar no Senhor em todas as coisas.
Deus nos preparou para isto. Precisamos colocar nossa fé renovada em prática: rezando para que haja o Batismo com Espírito Santo; proclamando que Jesus Cristo é o Senhor oportuna e inoportunamente; preparando comunidades fortes; fazendo discípulos e formando líderes; entregando-nos generosamente ao trabalho de divulgação do Evangelho; construindo o Reino onde nós moramos e trabalhamos.
O nosso comprometimento começa no dobrar os joelhos e rezar, como os primeiros de nós:
“Concede a teus servos que anunciem com toda intrepidez tua palavra, enquanto estendes a mão para que realizem curas sinais e prodígios, pelo Nome de teu Santo Servo Jesus!” (Atos 4,29s)
Então creio que estaremos prontos para outra vinda do Espírito Santo, e assim fazer mais do que qualquer coisa do que nós já experimentamos fazer, ir aonde nunca sonhávamos ir e construir o que achávamos impossível construir.
Que Nossa Senhora Aparecida interceda por nós.