A beleza fundamental
Existe uma música bem conhecido, que tem um verso que diz assim: “As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”. O “poetinha”, como é chamado, Vinicius de Morais quem escreveu este verso na poesia “Receita de mulher”(1957). Como música, muito cantada na época da “bossa nova”.
É importante ficarmos atentos aos sinais dos tempos, às idéias que movem cada época, para que saber nos posicionar no mundo, onde estamos inseridos, sem trair o Evangelho por omissão ou ingenuidade. Idéias que parecem inocentes, simpáticas, inofensivas e engraçadas podem revelar um mundo pagão, com valores diametralmente opostos ao que o Senhor Jesus nos ensinou. E sem perceber vamos absorvendo e entrando na onda… Tomo por exemplo esta poesia “antiga”, mas com um tema atual e cada vez mais presente na sociedade hodierna.
Um fato que nos leva a pensar é a explosão do culto ao corpo e a beleza física. A de serviços ligados à saúde física é enorme. Ninguém questiona o benefício e a necessidade da atividade física para a boa saúde e a necessidade de se cuidar, mas há muito de “narcisismo”. Quando vai entrar o verão e, sobretudo no carnaval, se vê por todo lado, faixas e propaganda dizendo “Beleza é fundamental!” A frase exprime fielmente a mentalidade do mundo atual, mas será ela verdadeira?
“Beleza é fundamental!” A beleza de que se trata aqui é a beleza física. Para o mundo atual, das dietas, academias, lipoaspirações e cirurgias, beleza não é fundamental, é essencial. Muita gente perde sono por causa de peso e se deprime por causa das primeiras rugas! Basta olhar ao redor para nos darmos conta que há uma mentalidade de culto ao corpo, de excessiva preocupação com a aparência… algo que não é construtivo nem normal, porque não é verdadeiramente humano. O culto ao corpo.
O Papa João Paulo II ensina que “o corpo é capaz de tornar visível o que é invisível, ou seja, o espiritual e o divino. Ele foi criado para transferir para a realidade visível do mundo o mistério invisível escondido em Deus desde a eternidade, e, portanto, ser um sinal desse mistério (…) O corpo possui um ‘sentido esponsal’, porque ele revela o chamado do homem e da mulher de tornarem-se um dom (uma dádiva, um presente) um para o outro, um dom plenamente realizado em sua união em ‘uma só carne’” (1980).
Mas, o que leva toda uma sociedade a crer nessa visão materialista a respeito do corpo e que leva a um comportamento narcisista e até psicótico? Sem dúvida, a vaidade e a falta de uma visão cristã a respeito da vida. Já as Escrituras Sagradas alertam que a beleza física é enganosa e passageira!
A beleza fundamental é outra! O Belo que “embeleza toda beleza”: o Bem, que se traduz em amor, doação, engajamento, solidariedade. A Beleza bela é aquela que nos abre e torna sensíveis para Deus e para os outros. Beleza que não passa e traz uma alegria profunda e duradoura. Esta Beleza bela tem como fonte e modelo o próprio Deus que veio a nós em Jesus Cristo!
É a Beleza pascal que se manifesta na capacidade de dar a própria vida por amor! Esta é a Beleza, Beleza que salvará o mundo! O belo desta Beleza é que ela faz a gente tocar Deus, percebendo que a vida tem um sentido que transcende, mesmo quando a dor, a tristeza e a morte ameaçam a existência humana. Esta sim é a Beleza fundamental e, sem ela, a vida se tornaria um deserto de mediocridade, um inferno insuportável.
Agora se aproxima a Páscoa e teremos a graça de celebrar esta Beleza. Nada é mais belo que a vida do Senhor; nada mais belo que a coerência de Jesus que se esvazia até a morte; nada mais belo que a fidelidade do Pai que o ressuscita, revelando-se Deus da vida! Essa é a única Beleza, “tão antiga e tão nova” (Santo Agostinho) junto dela, toda outra beleza é inconsistente! Tinha razão Santa Tereza, apaixonada por Cristo, que exclamava, no seu Carmelo: “Formosura que excedeis a todas as formosuras…”
Em Cristo
Tatá