A cultura de morte – O Paradoxo Adolescente Parte II

A cultura de morte – O Paradoxo Adolescente  Parte II

“Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16,33)

Neste artigo, como dito no anterior, falaremos sobre um assunto que tem deixado muitos pais, professores e profissionais perplexos e em alerta: a automutilação.

Os adolescentes começaram com tal comportamento como um ‘modismo’ de grupos, como é um ato doloroso, rapidamente a maioria deixou o comportamento de lado, mas tem-se tornado preocupante e tem alarmado profissionais uma parcela dos jovens que persistem com a automutilação. Sendo uma questão clínica e que tem aparecido com frequência nos consultórios dos psicólogos, psiquiatras e nas escolas, há a necessidade de uma intervenção profissional.

Considerado um transtorno mental segundo o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a automutilação é o “ato de lesar o próprio corpo, até o ponto de cortar ou destruir permanentemente um membro ou outra parte essencial do corpo”, sem a intenção de suicídio.

O verbo ‘mutilar’ significa ‘cortar um membro’ e ainda ‘truncar as palavras’, ou seja, reduzir as palavras. Geralmente os adolescentes que dão sequência a este ato, sofrem demasiadamente por não conseguirem colocar em palavras seus pensamentos e principalmente seus sentimentos. Para a clínica psicanalítica, o jovem vive em grande sofrimento emocional e busca na dor do corpo uma justificativa para a dor emocional. O mutilar-se é um pedido de socorro e um grito de desespero e para esclarecimento:  o adolescente não conseguindo colocar em palavras seus sentimentos e suas dores, usa os cortes como forma de alívio.

A Automutilação começa a se agravar ao entendermos que esse ato torna-se compulsório, pois em cada corte realizado, há uma descarga de energia e tensão, trazendo a sensação de alívio das dores emocionais. Mais tarde, o adolescente irá perceber que a dor emocional voltou e que novos cortes irão levá-las para longe dos sofrimentos.

Essa é uma ilusão, pois as dores permanecem intactas e a única maneira de colocá-las longe é poder falar sobre elas, verbalizá-las!

Refletindo com esses adolescentes sobre sua relação com as próprias emoções certifica-se de que são muito sensíveis e sentem-nas de forma intensa e confusa o que gera dificuldades em expressá-las. Geralmente esses jovens se fecham em seus sofrimentos o que não permite o acalento, conforto e atenção das pessoas que os cercam, principalmente dos familiares.

Um conselho válido para pais de adolescentes: sejam atentos!!! Neste transtorno os jovens não gostam de mostrar seu corpo, geralmente as roupas são inadequadas para temperaturas quentes, costumam isolar-se (gostam do próprio quarto e banheiro) e a dificuldade de expressão e comunicação é enorme.

A dor de um adolescente que sofre com este transtorno é muito grande e por isso os pais e adultos cuidadores anseiam por orientações que acalmem sua própria angustia. Um ambiente harmonioso, comunicativo, recheado de diálogos e conversas, pais atentos, receptivos, disponíveis para escutar os filhos, podem ser a principal forma de prevenção.

Autor:  Lú Cazaroto – Psicóloga – Comunidade Javé Nissi

leandro

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