Atualidades II
Não tem como fugir, os fatos nos obrigam a refletir. Todos os dias os noticiários estampam alguma novidade. É ministro acusado de corrupção em sua pasta. É presidente sendo citado em processo. É deputado acusado de vender emendas. É a soltura de criminoso que deveria permanecer na prisão. É detento que consegue regalias na prisão por meio de facilidades concedidas por algum carcereiro. É obra concluída com base em documentos de autorização forjados…
A crise no Brasil não é econômica. É social, não há dúvida. Mas, mais do que tudo, é uma crise moral. Chegamos a um ponto em que empresários comentam que as regras do jogo são essas mesmo e que sem “molhar a mão” de quem concede licenças e autorizações nada se consegue. Na medida em que a iniciativa privada acaba por se mancomunar com as autoridades de várias instâncias, fica difícil desatar o nó da corrupção.
Diante deste quadro nos perguntamos: como pode um país se desenvolver com base nessa “cultura das transgressões”? Isso mesmo, cultura das transgressões – expressão, que designa o conjunto de ideias e atitudes que não respeitam a ética, colocando o interesse pessoal acima do interesse coletivo e das leis e que não considera a moral como valor. Para não dizer, uma cultura pagã onde o amor a Deus e ao próximo não são referências.
Outra pergunta: aqueles que criticam os políticos estariam aptos a comportar-se de forma diferente se exercessem os mesmos cargos? Seja ele consumidor ou empresário, seja servidor público ou empregado da iniciativa privada, seja jovem ou idoso, adotaria comportamento mais ético? Ou se aproveitaria também…
A ciência e a tecnologia se desenvolvem muito mais do que os valores da existência humana. As importantes e inegáveis conquistas do homem não proporcionam igual evolução no campo da ética e da moral. A grande disputa de espaços e a perene luta pelo poder brutalizam o homem, que passa a ver o seu semelhante como um oponente, um competidor. A sociedade é dividida entre os que “possuem” e os “despossuídos” — colocando pessoas iguais em planos diferentes — os que detêm o poder irão conduzir o destino de seus semelhantes. Os detentores de influência, fruto do poder econômico, social e ideológico conduzem as preferências da sociedade.
Vivemos uma crise de legitimidade do modelo político, por não corresponder às necessidades de participação e de mudança da sociedade civil; vivemos uma crise de representatividade dos partidos políticos tradicionais, vinculados as oligarquias regionais e as grandes burguesias nacionais, assim como dos partidos de esquerda que se adaptaram velozmente ao status quo e as práticas políticas tradicionais. Antes da crise econômica ou política, vivemos no Brasil uma profunda crise moral, que, entre outras razões, decorre da fragilidade na nossa formação. A esperança de enriquecer facilmente e a certeza da impunidade são maiores do que o medo de ser punido, razão pela qual vale a pena arriscar.
Para mudarmos essa cultura – “cultura da morte” nas palavras de S. João Paulo II – é preciso entender que o único caminho é a mudança de mentalidade. Em outras palavras, uma conversão para o bem. Por isso que nós, os cristãos, temos a responsabilidade de propor e viver o Evangelho como resposta ao caos que está se estabelecendo. E isso não é uma utopia, ou discurso alienante. Tudo que se refere ao homem é de interesse da fé! A mudança está em cada um de nós!