A cultura de morte – parte III – As drogas na sociedade contemporânea
“Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente” (Gênesis 2,7)
As drogas na sociedade contemporânea
O uso indiscriminado de drogas atualmente chama a atenção, pois tornou-se um problema de saúde pública – por um lado houve um aumento drástico da criminalidade e por outro, a morte psíquica, moral e espiritual do usuário, além de afetar todos os que se encontram a sua volta: família, amigos, colegas de trabalho.
A cultura de morte almeja provocar ataques explosivos, que tem objetivo de desestabilizar, chocar a população e assim, em meio a alardes – debates – as situações defendidas ganha o respaldo ou aceitação da sociedade, como o caso da descriminalização das drogas. Há indícios e especulações que mostram interesse na liberação das drogas, aqui a morte seria incentivada, seja ela sendo o viciado que destrói seu organismo chegando a morte, ao suicídio ou assassinado por algum traficante.
Os profissionais – médicos, educadores, assistentes sociais, psicólogos – são quase que diariamente convocados a tratar desse tema, visto que a cada dia mais ganha visibilidade na sociedade ocidental capitalista contemporânea.
Este assunto pode ser tratado em vários aspectos: a questão da dependência, da política da descriminalização, dos tratamentos, do enriquecimento ilícito na sociedade moderna, enfim, ficaremos com uma reflexão acerca da problemática e da cultura de morte.
O recurso a droga é entendido como uma resposta possível do sujeito ao mal-estar que é inerente tanto ao processo de formação da sociedade e culturas como também à própria constituição psíquica do ser humano.
Para maior compreensão, a sociedade atual encontra nas substâncias tóxicas o método mais ‘interessante’ de evitar o sofrimento, dessa forma agem sobre a química do corpo humano e os torna insensíveis à própria desgraça, camuflando e anestesiando toda espécie de sofrimento.
Em um mundo tão agitado, na era da instantaneidade e individualismo, a droga é capaz de proporcionar a obtenção rápida e fácil de prazer e agem como válvulas de escape em pessoas que levam vidas dolorosas, monótonas, pobres e limitadas, cheias de problemas e dificuldades. Nestes, há uma necessidade de transcender a si mesmo, porém, essa fuga causa danos muitas vezes irreversíveis.
A cultura de morte é atual, mas a história nos mostra que o álcool já era encontrado até 1200D.C. em bebidas fermentadas com baixo teor alcoólico. No Brasil, as bebidas alcoólicas tiveram origem com a chegada dos portugueses (vinho e cerveja) e na sua interação com os índios descobriram que eles produziam uma bebida, fermentada a partir da mandioca, usada em festas e rituais típicos. Depois os portugueses descobriram que a ‘cagaça’ da cana de açúcar (o que sobra do processo de fabricação do açúcar) poderiam fabricar a cachaça.
O uso da maconha para fins medicinais, data de 2700 A.C. muito utilizada na Europa, chega no Brasil pelos escravos africanos e foi difundida entre os índios também para fins medicinais.
As drogas têm oficialmente origem na época dos descobrimentos e por causa das grandes navegações houve o contato entre os continentes trocando drogas e dando início ao ‘tráfico’.
À medida que houve a evolução científica, o Homem foi produzindo drogas mais potentes, a exemplo do Ópio e Coca, que vieram da China e que foram apurados, sendo transformados em heroína e cocaína.
Nesta época os povos eram alienados quanto as consequências e a dependência dos usuários. Em meio a todos os avanços foram alcançados números cada vez maiores de pessoas viciadas e o que era visto somente do ponto de vista da ‘cura medicinal’ ganha visibilidade e preocupações. Nas abstinências os usuários apresentavam ‘problemas psiquiátricos e psicológicos’ surgindo a necessidade de pesquisas sobre o assunto.
Essa preocupação dominou muitos países na década de 60 e 70, quando o problema das drogas invade de forma violenta várias áreas – social, escolar, familiar e trabalho.
Atualmente o problema das drogas lícitas e ilícitas provocam os setores públicos e privados e o setor da saúde tem uma grande questão a ser tratada, pois as drogas continuam em evolução quanto aos seus sintomas e consequências, bem como todas as dificuldades relacionadas aos tratamentos, que são difíceis e do ponto de vista psicológico, dolorosos.
Talvez tenhamos chegado em um momento em que viver a realidade confrontada as utopias tão desejadas e as crises – moral, religiosa, social, política, econômica e familiar – tem-se tornado árdua e penosa demais e as drogas são um alívio de todas as angustias e a fonte de prazer possível.
Precisamos construir um debate que leve as pessoas, sejam eles jovens ou adultos que também se enquadram como usuários, principalmente de cigarro e álcool, no começou ou mesmo antes do início do uso sobre fatores de risco e proteção. Ajudá-los a identificar e refletir sobre a relação que se estabelece com as drogas, ponto de fundamental importância.
Por fim, resgatar o direito à vida (Artigo 5º da Constituição Federal de 1988) e a dignidade humana que as drogas privam seus dependentes, ou seja, ‘a dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida’.
A cultura de morte é a proclamação universal dos direitos utilitaristas, materialistas e egoístas: é uma norma de vida, ou melhor, uma norma de morte para muitos e carrega-las a passos lentos fará de nós uma sociedade falida. Precisamos resgatar o valor à vida que nos é dada e vivermos longe do individualismo impregnado na sociedade contemporânea. Ajudar e compreender o outro é regra que leva-nos a vivencias de amor, de qualidade, de carinho ao dom da vida.
Assim, estarmos atentos ao que acontece com aqueles que estão ao nosso redor e principalmente com cada um de nossos filhos e sua forma de encarar as dificuldades e vicissitudes da vida, acolhê-los diante de seus sofrimentos e das questões que permeiam sua vida é um trabalho de prevenção ao uso de drogas e claro, de VALORIZAÇÃO DA VIDA.
Autor: Lú Cazaroto – Psicóloga – Comunidade Javé Nissi