Evangelizar: primeiro compromisso
A descristianização, cada dia mais ampla e mais profunda, da sociedade moderna, situa a evangelização no primeiro plano da atualidade. Assim surge a questão: como atingir os neopagãos que estão à nossa volta e constituem parcela significativa da sociedade? Como levar a mensagem de Cristo a multidão de incrédulos, de indiferentes, de cristãos “semibatizados”?
A Igreja é por essência uma comunidade missionária. Continua e prolonga a comunidade apostólica, instituída por Cristo para anunciar a Mensagem. Nascida da Palavra de Deus acha-se a serviço desta Palavra. Em sua qualidade de novo Israel, retoma e renova a missão do povo eleito em vista da salvação do mundo. A eleição não é sinônimo de privilégio; não se separa missão e de ministério: a eleição divina, criando uma proximidade particular em relação a Deus, implica na idéia de vocação e de responsabilidade perante Deus.
Pelo batismo e pela fé, o cristão se torna membro da comunidade apostólica, entra nos desígnios que Deus tem sobre o mundo, é chamado a abrir-se à vontade salvífica de Deus sobre a humanidade pecadora. Por isso nossa oração deve ser: “Venha o Vosso reino, cumpra-se a Vossa vontade”. Pertencer à Igreja de Cristo é simultaneamente uma graça e uma responsabilidade, havendo, para cada cristão, o dever de colaborar na sua missão. O Beato João Paulo II convidava-nos simplesmente a traduzir em atos a nossa vocação fundamental, “a nos tornarmos o que somos”, isto é, a desenvolvermos as consequências do nosso batismo.
É necessário reexaminar nossa concepção da missão. Mais do que nunca, é hora de um cristianismo irradiante, apostólico, missionário. É hora de organizar todas as forças cristãs em vista de uma missão evangelizadora direta, abrangente, incisiva, generosa, audaz à altura das necessidades. Falamos de “parresia”, o anúncio corajoso da Palavra de Deus que é acompanhado pelo testemunho de uma vida dedicada e se preciso acompanhada do martírio. (Atos 2,29)
“Nunca será possível haver evangelização sem a ação do Espírito Santo” que no batismo de Jesus, manifestava de maneira sensível a eleição e a missão do mesmo Jesus. Foi depois da vinda do Espírito Santo, em Pentecostes, que os apóstolos partiram para “os confins da terra” iniciando a obra da evangelização da Igreja. É o Espírito que impele Pedro, Paulo a falarem inspira-lhes as palavras que eles devem proferir e desce também “sobre todos os que ouviam a sua palavra”.
Repleta do “conforto do Espírito Santo”, a Igreja “ia crescendo”. Ele é aquele que ainda hoje ainda age em cada evangelizador que se deixa possuir e conduzir por Ele, e põe na sua boca e coração as palavras que ele não poderia encontrar sozinho; Ele que predispõe a alma daqueles que escutam a fim de acolherem a semente do Reino anunciado, a Boa Nova. (cf. E.N. 75)
“As técnicas da evangelização são boas, obviamente; mas, ainda as mais aperfeiçoadas não poderiam substituir a ação discreta do Espírito Santo”. A formação, a eloquência, o conhecimento intelectual nada faz sem Ele. “E, ainda, os mais bem elaborados esquemas com base sociológica e psicológica, sem Ele, em breve se demonstram desprovidos de valor”.
E a Igreja da América e Caribe reunida em Aparecida convoca: “Necessitamos de um novo Pentecostes! Necessitamos sair ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades e dos povos para lhes comunicar e compartilhar o dom do encontro com Cristo, que tem preenchido nossas vidas de “sentido”, de verdade e de amor, de alegria e de esperança! Não podemos ficar tranqüilos em espera passiva em nossos templos, mas é urgente ir em todas as direções para proclamar que o mal e a morte não têm a última palavra, que o amor é mais forte, que fomos libertos e salvos pela vitória pascal do Senhor da história, que Ele nos convoca em Igreja, e quer multiplicar o número de seus discípulos na construção do seu Reino em nosso Continente! Somos testemunhas e missionários: nas grandes cidades e nos campos, nas montanhas e florestas de nossa América, em todos os ambientes da convivência social, nos mais diversos “areópagos” da vida pública das nações, nas situações extremas da existência, assumindo ad gentes nossa solicitude pela missão universal da Igreja”. – Documento de Aparecida 548
A Igreja “em estado de missão”, quer dizer-se que a Igreja que tem o papel de, de ao mesmo tempo, unir os homens a Deus e levar Deus aos homens, aspectos complementares, igualmente necessários. Pode-se distinguir, mas não separar, a Igreja em estado de missão da Igreja em estado de oração. Uma atividade missionária que menosprezasse o lugar fundamental da vida interior (oração pessoal e comunitária) e da humildade básica (dependência total de Deus) – alma de toda missão – seria destituída de sua força e fracassaria com certeza.