A cultura de morte – Parte IV A mídia

A cultura de morte – Parte IV A mídia

“Vida longa eu lhe darei, e lhe mostrarei a minha salvação” (Salmos 91,16)

Seria extraordinário poder falar da Morte como algo inato ao ser humano e comum a todos que nascem, mas a morte é entendida como um grande sofrimento para a maioria de nós, principalmente se não desenvolvemos a nossa espiritualidade.

Fascinamos por inúmeros enredos de filmes e novelas e perplexos diante das notícias veiculadas nos Jornais, ficamos paralisados diante da televisão, muitas vezes adentramos as cenas que parecem reais e nos emocionamos: choramos, xingamos, brigamos, gargalhamos e somos juízes, convidados a discutir, justificar e condenar. O que poucas vezes percebemos é que a Morte é o tema principal das cenas que mais nos prende na frente da televisão.

Banalizada e descontextualizada a morte aparece transformada em Espetáculo, com ênfase no inusitado e naquilo que provoca atenção: fogo, resgate, tensão, drama, emoção, eutanásia, drogas, crime, violência, suicídio assistido, aborto, etc.

Um paradoxo bastante revelador é que somos uma sociedade, pós-moderna, que está permanentemente em busca da felicidade. Assim, ao entrar em contato com a morte em suas diversas facetas – seja pela televisão, jogos ou mídia – dissemina-se o ‘mito’ da imortalidade, ou seja, quem morre é somente o outro.

Nos últimos meses, um filme que se tornou febre nas telas da Tv e cinema, entre os jovens e adultos, o filme “Como eu era antes de você!”, protagoniza um amor entre um jovem tetraplégico e milionário e uma jovem com dificuldades financeiras e sem grandes aspirações na vida. No filme o personagem ‘Will’ decide pelo suicídio assistido e se desloca até a Suíça para realizar o procedimento, mas não é só na Suíça que essa prática é permitida. Na Holanda, Bélgica, alguns estados dos Estados Unidos e a Alemanha, a morte assistida também é realizada. No Brasil, tanto a eutanásia como o suicídio assistido não são só proibidos, mas também são considerados crimes, contudo já se abre um debate enérgico sobre esses assuntos como especulação a respeito da descriminalização.

O que chama a atenção é a forma romantizada de lidar com assuntos tão sérios e a emoção gerada em torno de uma decisão tão significativa. Uma das perguntas que surgem é, “Até que ponto temos o direito de decidir sobre dia, local e horário da nossa morte?”, ou “As dificuldades impostas pela vida seriam justificativas significativas para que decidamos pela morte?” e ainda, “O que seria poder morrer ou viver dignamente?”.

O enredo do filme sugere que a única opção para vítimas de traumatismos e lesões é a morte, e que muitos desafios da vida não precisam ser superados. Supõe também que pessoas que se sentem fracassadas, seja qual o motivo, podem morrer dignamente com o suicídio assistido.

O que poucas, para não dizer nenhuma, das pessoas das quais tive a oportunidade de conversar sobre as impressões tida com o filme, sequer falaram sobre o suicídio assistido. De forma geral, todos falam de uma linda história de amor que é interrompida pela morte do personagem principal.

Precisamos, contudo de estabelecer um senso crítico e honesto, seja com os filmes, novelas, jornais, jogos que são lançados na sociedade, para crianças, adolescentes e adultos, para que assim possamos ‘quebrar’ a Cultura de Morte.  A racionalização, a naturalização dos fatos sociais e as novas ideologias são formas de armadilhas perigosas que romantizam cenas de terror.

Autor:  Lú Cazaroto – Psicóloga – Comunidade Javé Nissi

 

Comunidade Javé Nissi

Deixe seu comentário
Captcha Clique na imagem para atualizar o captcha..