Perseverança
Queridos irmãos e irmãs
Graça e Paz
A tentação do desânimo é uma das mais frequentes na vida espiritual; e sem exagero a consideramos uma das mais sutis e perigosas. Muitos são atingidos por esse mal podendo chegar até ao abandono da fé e da Comunidade, ao se verem envolvido em uma realidade que o é ABC da vida cristã.
Na nossa situação terrena de peregrinos em direção ao Senhor, os altos e baixos se sucedem. Algumas vezes nos encontramos aquecidos no amor de Deus, aumentando a nossa fé; disponíveis para entregar-nos, sem preço nem medida, até ao martírio. Outras vezes nos sentimos como afastados Dele, insensíveis ao divino, entorpecidos e preguiçosos para o bem, sem gosto algum pelo Senhor e seus dons… é o reverso da medalha.
No entanto temos que saber que este contraste é próprio de nossa vida espiritual; que seremos submetidos a este processo contrastante, que caminharemos, com intermitências na luz e na escuridão da fé. A tentação do desânimo, que os autores clássicos classificam como “desolação”, é onde pode instalar-se o jogo sutil do “inimigo” para nos fazer desistir.
O nome “tentação do desânimo” é genérico. Nele se incluem aspectos tão variados como: as decepções com o próximo, e também consigo mesmo, das dificuldades com a Comunidade, líderes e ainda com Deus mesmo. Também se incluem: a experiência dos próprios limites; as falsas interpretações da vontade de Deus, o cansaço de praticar o bem, o sentimento de fracasso, etc.
Quando se está sob o peso do desânimo tende-se a criar uma atitude de afastamento e rejeição da Comunidade. Mais ou menos conscientemente, raciocinando ou não, encontramos, com grande facilidade, pretextos ou desculpas que parecem autênticos impedimentos. Aos sacrifícios que as vezes temos que fazer para estar presente, une-se a situação interna de afastamento psicológico que o desânimo converte em algo espiritual. Fatos que, na realidade, não passariam de acontecimentos corriqueiros: um simples resfriado, um afazer sem urgência, uma chamada imprevista, mas adiável… tendemos a convertê-los em causas reais, que nos impedem o empenho e comparecimento. Essas dificuldades, que são imensas nos momentos de desolação se mostram ridículas e desprezíveis fora desse clima de perturbação interior. O desânimo nos introduz num clima de frieza, de separação, de afastamento.
Para vencer o desânimo é fundamental a convicção. Esta convicção, depositada nas mãos do Senhor, nos fará viver pacificamente preparados para superar as desolações.
Na expressão de Santa Tereza: “Basta que se tenha uma grande e decidida determinação de não parar até chegar a ela (a santidade), venha o que vier, aconteça o que acontecer, trabalhe-se no que seja, murmure quem quiser, chegue-se ou não lá, mesmo que se morra no caminho ou não se tenha coragem para os trabalhos que sobrevenham mesmo que o mundo se afunde. Ela nos faz compreender que se haverá de passar o túnel escuro e luminoso ao mesmo tempo, doloroso e fonte de gozo indescritível”. Isto é aplicável especialmente a nós.
A carta aos Hebreus nos (10,32-39) exorta: devemos nos lembrar de nossa iluminação (batismo no Espírito), não abandonar a coragem, perseverar até o fim pois só assim agradaremos a Deus. O texto termina com uma grave admoestação: “Nós não somos desertores, para nossa perdição. Perseveramos na fé, para nossa salvação”.
Ânimo, força, coragem, não podemos desejar a morte, como o profeta Elias, mas impulsionados pela “leve brisa” caminhar mais “40 dias” (1Rs 19,7).
Que a Virgem de Aparecida nos abençoe e nos proteja.
Em Cristo
Tatá