A dignidade dos fiéis leigos na Igreja
A CNBB declarou o ano de 2018 o “Ano do Leigo”. Adotando como lema “sal da terra e luz do mundo”, a Igreja no Brasil deixa clara a vocação secular dos leigos. “É específico dos leigos, por sua própria vocação, procurar o reino de Deus exercendo funções temporais e ordenando-as segundo Deus. Vivem no mundo, isto é, em todos e em cada um dos ofícios e trabalhos do mundo. Vivem nas condições ordinárias de vida familiar e social, pelas quais sua existência é como que tecida. Lá são chamados por Deus para que, exercendo seu próprio ofício guiados pelo espírito evangélico, a modo de fermentar de dentro, contribuam para a santificação do mundo. E assim manifestem Cristo aos outros, especialmente pelo testemunho de sua vida resplandecente em fé, esperança e caridade” – Lumen Gentium 31.
O Concílio Vaticano II compreende por leigos “todos os cristãos, exceto os membros de ordem sacra e do estado religioso aprovado na Igreja. Estes fiéis, pelo batismo, foram incorporados a Cristo, constituídos no povo de Deus e a seu modo feitos partícipes do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, pelo que exercem sua parte na missão de todo o povo cristão na Igreja e no mundo” – LG 31.
Todos os cristãos, pelo batismo e confirmação, são igualmente sujeitos ativos e representantes do povo de Deus, da Igreja e de sua missão – LG 33, de tal sorte que também os leigos cumprem sua vocação como cristãos corresponsavelmente na Igreja e não só nos campos da vida “secular” distintos da Igreja; “os leigos, ao realizarem essa missão da Igreja, exercem o apostolado tanto na Igreja como no mundo, tanto na ordem espiritual como na temporal” – AA 5.
Ao responder à pergunta “quem são os fiéis leigos”, o Concílio, abriu-se a uma visão decididamente positiva e manifestou o seu propósito fundamental ao afirmar a plena pertença dos fiéis leigos à Igreja e ao seu mistério e a índole peculiar da sua vocação, a qual tem como específico “procurar o Reino de Deus tratando das coisas temporais e ordenando-as segundo Deus”. “Por leigos – assim os descreve a Constituição Lumen Gentium – entendem-se aqui todos os cristãos que não são membros da sagrada Ordem ou do estado religioso reconhecido pela Igreja, isto é, os fiéis que, incorporados em Cristo pelo Batismo, constituídos em Povo de Deus e tomados participantes, a seu modo, do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo, exercem pela parte que lhes toca, na Igreja e no mundo, a missão de todo o Povo cristão”.
Segundo a imagem bíblica da vinha, os fiéis leigos, como todos os outros membros da Igreja, são vides radicadas em Cristo, a verdadeira videira, que torna as vides vivas e vivificantes. A inserção em Cristo através da fé e dos sacramentos da iniciação cristã é a raiz primeira que dá origem à nova condição do cristão no mistério da Igreja, que constitui a sua mais profunda “fisionomia” e que está na base de todas as vocações e do dinamismo da vida cristã dos fiéis leigos: em Jesus Cristo morto e ressuscitado o batizado torna-se uma “nova criatura” – Gl 6,15, uma criatura purificada do pecado e vivificada pela graça.
Toda a existência do fiel leigo tem por finalidade leva-lo a descobrir a radical novidade cristã que provém do Batismo, sacramento da fé; a fim de poder viver as suas exigências segundo a vocação que recebeu de Deus. Para descrever a “figura” do fiel leigo, vamos agora considerar de forma explicita e mais direta, entre outras, estes três aspectos fundamentais: o Batismo regenera-nos para a vida dos filhos de Deus, une-nos a Jesus Cristo e ao seu Corpo que é a Igreja, unge-nos no Espírito Santo, constituindo-nos templos espirituais.
Que este “Ano dos Leigos” possa produzir frutos de empenho, valorização e consciência de nosso papel no projeto de Deus.