Cristão e Política: contraditórios?
O ano de 2017 se finda e o de 2018 se apresenta. Se no campo da fé, nossa Comunidade Javé Nissi levou-nos a “voltar ao primeiro amor”, no campo da política, o sentimento que muitos de nós nutrimos foi de indignação, desprezo e desesperança para o futuro.
Se tradicionalmente o assunto “política” em nosso meio já era um “terreno difícil de se embrenhar”, imagina nos tempos atuais com tanta “lama saindo pelo ralo”, tantos políticos envolvidos nos esquemas desvendados pela Operação Lava Jato, tantas notícias de barganhas no mais alto escalão do Governo em troca de proteção nas votações no Congresso Nacional.
Realmente falar de política e se envolver na política, sendo um membro consagrado da Comunidade Javé Nissi parece ser uma contradição com o Evangelho, com o anunciar a Boa Nova, enfim, ser cristão e ser político parece cada vez mais antagônico.
Mas daí nos deparamos com a célebre mensagem de nosso Pontífice, o Papa Francisco, ao afirmar que “envolver-se na política é uma obrigação para um cristão”. E que “nós, cristãos, não podemos nos fazer de Pilatos e lavar as mãos. Não podemos! Devemos nos envolver na política porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, porque ela procura o bem comum.”
A preocupação de Francisco é tamanha a este respeito que, recentemente ele enviou uma mensagem aos participantes de um encontro promovido pela Comissão para a América Latina (CAL) e pelo Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) na cidade de Bogotá, Colômbia, cujo tema foi a “Participação dos Leigos católicos na vida política”.
Na mensagem enviada, Papa Francisco afirma que “a política é, antes de tudo, serviço”, não de ambições e interesses pessoais ou de prepotência de facções nem de autocracia e totalitarismos. Sabemos – recordou – que “Jesus veio para servir e não para ser servido”. Seu exemplo deve ser seguido também pelos políticos.
Na matéria publicada no site da Rádio Vaticana[1], o Papa foi enfático em afirmar que “sentimos a necessidade de reabilitar a dignidade da política”. Aqui, referindo-se à América Latina, o Papa recordou o grande descrédito popular em relação à política e aos partidos políticos, por causa da corrupção, como também a falta de formação e inclusão de novas gerações políticas, para prestar, com paixão, serviço aos povos. Há necessidade – insistiu o Papa – de novas forças políticas, que brilhem pela sua ética e cultura; que façam uso do diálogo democrático; que conjuguem a justiça com a misericórdia e a reconciliação; que sejam solidárias com os sofrimentos e esperanças dos povos latino-americanos.
Então concluímos que o cristão e a política não são antagônicos. O cristão (e especificamente nós da Javé Nissi), que buscamos levar as pessoas a um encontro pessoal com Jesus através da promoção da conversão madura e contínua, temos como meta o bem-estar dessas pessoas para com Deus e, por consequência, viver com sabedoria e dignidade no mundo em que vivem. A política também tem como meta propiciar ao cidadão uma vida digna.
Assim nosso envolvimento na política, como Comunidade Javé Nissi, é uma forma de evangelizar e cumprir os objetivos presentes em nossos Estatutos (vide Art. 2° do Estatuto).
A partir daí, chegamos ao ponto principal desta reflexão: sabedouros da necessidade de sermos agentes ativos na vida política da sociedade em que vivemos, qual ou quais vão ser nossas atitudes diante das eleições que se avizinham? Vamos ser, como disse o papa Francisco, como Pilatos e lavar nossas mãos, ou nos comprometeremos a ter um papel mais ativo em nossas comunidades e, de forma organizada, agir com o mesmo desejo do Sumo Pontífice à “reabilitar a dignidade da política?”
Autor: Caio Diego Pereira Nogueira – Ministério Matias – Comunidade Javé Nissi
[1] http://br.radiovaticana.va/news/2017/12/01/v%C3%ADdeo-mensagem_do_papa_a_pol%C3%ADtica_%C3%A9_servi%C3%A7o/1352413