Lideranças Comprometidas
Durante séculos, tem sido uma norma comum da Igreja e dos grupos cristãos traçar uma linha bem definida entre os dirigentes e os dirigidos. Os dirigentes eram os membros do clero que presidiam e tinham algo a dar. Os dirigidos eram os leigos que se sentavam “na assistência” e vinham receber. Na década passada houve uma grande mudança. Reconheceu-se a liderança que todos os membros do corpo de Cristo não somente podem, mas são obrigados a exercer em virtude da sua iniciação na Igreja.
A participação dos leigos no exercício da liderança, nas Paróquias, comunidade, movimentos e pastorais, é a chave para a grande renovação que se realiza na Igreja hoje. Isto foi possível por um novo entendimento do que é a liderança cristã. Diferentemente dos modelos seculares de liderança – autocratas e magnatas de negócios que dirigem organizações para interesse próprio, – o dirigente cristão, como Jesus, é o servo.
A liderança espiritual é serviço e podemos ser chamados “líderes” ou “dirigentes” porque temos um serviço único que nossos irmãos e irmãs necessitam. Esta verdade está sendo redescoberta em larga escala na Igreja de hoje. Um desejo de servir neste sentido parece ser um efeito comum da experiência pentecostal.
Neemias, líder da época pós-exílio, exemplifica a boa liderança. Ele planejou, organizou, motivou e exerceu a liderança sobre quem vivia em Jerusalém e nas redondezas. ( cf. Neemias, 1 – 3 ) e seu Livro pode ser visto como um manual de liderança.
A partir das situações, que ele viveu, eis alguns dos princípios da boa liderança:
- equilibrar o planejamento prático com a confiança em Deus
- conviver com as críticas não merecidas.
- resolver conflitos de personalidade e dificuldades no relacionamento humano.
- enfrentar sérias pressões financeiras
- lidar com líderes antigos e algumas vezes machucados.
Ao discutir a liderança de pessoas, devemos sempre ter em mente que a liderança cristã implica essencialmente servir Quando consideramos a Igreja e/ou as instituições ligadas a ela, somos capazes de entender o conceito de servir. A liderança cristã:
- Procura servir, em vez de dominar;
- Incentiva e inspira;
- Respeita em vez de explorar a personalidade alheia;
- Reflete, reza e age segundo as palavras de Jesus Cristo: “E quem quiser ser o primeiro dentre vós, será o vosso empregado, a exemplo do Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate pela multidão dos homens” (Mt 20,27).
O próprio Jesus sintetizou essa abordagem em relação à liderança. Mostrou aos Seus discípulos como liderar, segundo o Seu exemplo de serviço desinteressado. Ele exige o mesmo de todos aqueles que continuam Sua missão na terra hoje. Aplicando cuidadosamente os padrões de serviço desinteressado que nos foram ensinados por Cristo, poderemos testemunhar profundas mudanças dentro das estruturas de nossa própria organização e em nosso relacionamento com as pessoas.
“Tenho em mente o mesmo uso da palavra liderança que nosso Senhor sem dúvida tinha, quando disse: “E quem quiser ser o primeiro dentre vós, será o vosso empregado”. É liderança no sentido de dar o máximo em termos de servir; liderança no sentido do mais absoluto altruísmo; liderança no sentido da mais inflexível e incessante absorção na maior obra do mundo, a construção do Reino de nosso Senhor Jesus Cristo”.[1]
A liderança cristã comprometida tem como características :
- Orientação a um objetivo. O líder vê o quadro todo e compreende o propósito da vida e do trabalho do grupo ou da organização. Liderar (isto é, ir na frente) implica ter visão e sentido de direção.
A liderança concentra-se no propósito. Para os líderes cristãos, o propósito significa perseguir a mesma meta que Jesus: ajudar as pessoas a alcançar os seus objetivos, com a ajuda de Deus. Jesus disse: “Eu vim para que os homens tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10)
- Capacitação. Os líderes cristãos eficientes, como o seu Mestre, procuram capacitar outras pessoas a experimentar a vida em abundância. Os estilos de vida dos líderes e seus métodos de relacionamento com as outras pessoas podem ser vistos de muitas maneiras, mas sempre têm o propósito de ajudar os outros a crescer até o máximo de sua capacidade, “à medida da idade plena de Cristo” (Ef 4,13).
- Preocupação. Até a olhada mais casual sobre a vida de Jesus mostra a Sua preocupação com os seres humanos. As pessoas são o recurso mais importante de que dispõem os líderes. Sem elas, os recursos materiais e financeiros não valem nada. E, ao contrário dos demais recursos, os seres humanos têm necessidades e sentimentos, gostos e desgostos, e pensam por si mesmos. Essas mesmas características explicam as dificuldades enfrentadas pelas lideranças.
Temos de tratar os seres humanos com dignidade e ajudá-los a crescer na fé e na santidade, ao mesmo tempo em que eles contribuem para a missão da comunidade e na comunidade. Isso coloca o seu desenvolvimento pessoal total ao lado dos objetivos da comunidade.
Infelizmente, na Igreja, algumas vezes desenvolvemos programas à custa da exploração das pessoas. A consideração com os outros deve andar de mãos dadas com a missão da Igreja.
Como líderes cristãos, temos de manter os propósitos da missão na linha de frente de todas as atividades, por meio de funções como o estabelecimento de metas, planejamento, organização, programação, motivação, coordenação e avaliação.
- Crescimento pessoal. Ao mesmo tempo em que desenvolve outros seres humanos. o líder tem de crescer de uma maneira saudável, compreendendo suas limitações sem pessimismo, ultrapassando as barreiras sem desespero, amadurecendo no sofrimento, tendo a esperança como certeza. O líder cristão é um otimista.
Autor: Tácito Coutinho – Tatá – Moderador do Conselho da Comunidade Javé Nissi
[1] John R. Mott citado por Pe. Anthony de Souza em “Torne-se um Líder”, Edições Loyola