Há um só Senhor do mundo…
No Credo professamos: “Subiu ao céu; está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos e o eu Reino não terá fim”. O que significa afirmar que o Senhor Jesus subiu ao céu e está sentado à direita do Pai?
Ele não somente ressuscitou, mas, por sua cruz e ressurreição, foi glorificado e, na sua natureza humana, foi totalmente divinizado e constituído Senhor do céu e da terra, Senhor de todas as coisas: “Deus o constituiu Senhor e Cristo, este Jesus a quem vós crucificastes” (At 2,36). Afirmar que Jesus Cristo está na glória do Pai é afirmar que ele é Senhor de todo o universo, de toda a criação, da história humana e de nossas vidas. Ele, porque se fez homem, porque entrou no nosso mundo, porque entrou na história humana é, agora, glorificado, Cabeça e Juiz do nosso mundo e da nossa história.
Thomas Hobbes, filósofo inglês do século XVI, pensava que o Estado deveria ser todo-poderoso, um verdadeiro deus: era o único modo de salvar os indivíduos do caos, da barbárie, que seus interesses e desejos contraditórios e concorrentes provocariam. Para ele, o Estado nasce quando todos os homens de uma determinada sociedade conferem “o próprio poder e a própria força a um homem ou a uma assembléia de homens, que possa reduzir todas as suas vontades a uma só vontade (…) que possa fazer as coisas que dizem respeito à paz e à salvação comum”. Daí o Estado deve ter –segundo Hobbes – todos os poderes: “o direito de (…) fazer qualquer coisa que ele queira”.
O Estado é como um deus! Não é a toa que Hobbes intitulou seu livro sobre o papel do Estado de “Leviatã”, o monstro que aparece nos capítulos 40 e 41 do livro de Jó. Um Estado poderoso que alcança tudo e todos, que pode tudo, que se mete na vida das pessoas e as dirige, obriga, impõe… Tal idéia fez nascer o fascismo, o nazismo, o stalinismo… e todas as formas de absolutismos da História.
Mas por que esta alusão a Hobbes? Estamos vivendo um momento em que os regimes totalitários estão em crises: Egito, Líbia… Em que o populismo se mostra incapaz de solucionar o drama humano: Venezuela, Bolívia e porque não o Brasil… E o liberalismo gera insegurança, concorrências e pobreza. Não só os regimes ditatoriais, populistas e liberais vivem uma crise, mas o Estado como instrumento para conduzir a sociedade humana ao seu pleno desenvolvimento e felicidade vive esta crise. Vemos a violência, a corrupção, os desmandos, o desmanche das instituições fundamentais do poder: corrupção em todos os níveis…
Infelizmente o que constatamos cada vez mais, é que à medida que corre o tempo da história humana, e o homem toma a si mesmo como referência única e não se abre para o Transcendente, para Deus, tende a erigir-se em medida de todas as coisas e termina sendo lobo para si mesmo e para os outros, tiranizando-se a si e aos outros. Tantos tiranos temos, tantos deuses sanguessugas: o Estado, os meios de comunicação, o mercado globalizado, a cultura do prazer… E no entanto, nenhum Estado, nenhum poder – nem o religioso! – pode se sobrepor à consciência do indivíduo e à sua dignidade fundamental! Mas também nenhuma dignidade humana será respeitada por muito tempo sem o respeito por Deus e pela sua presença no coração humano! O homem sem Deus se devora a si mesmo!
A propósito, já que citamos um filósofo, Hobbes, é conveniente citar outro, do século XVII, o francês Blaise Pascal, que advertia: a fé cristã ensina “que há um Deus do qual os homens são capazes e que há uma corrupção da natureza que os torna indignos dele. Interessa aos homens conhecer igualmente tanto um como o outro ponto, pois é igualmente danoso para os homens conhecer Deus sem conhecer sua própria miséria e conhecer sua própria miséria sem conhecer o Deus que pode curá-los.
Um desses conhecimentos, isolado, gera a soberba dos filósofos, que conheceram Deus mas não sua própria miséria, ou o desespero dos ateus, que conhecem sua própria miséria sem conhecer o Redentor”. Segundo a linha de pensamento de Pascal, a fé em Deus é a melhor garantia de um verdadeiro respeito pelo homem e sua dignidade. Para Pascal somente abrindo-se para Deus em Jesus Cristo o homem pode se conhecer, conhecer o sentido da vida e da morte; fora disso, “nós não conhecemos nada e só vemos obscuridade e confusão”.
Repetindo o que dissemos no início: afirmar que Jesus Cristo está na glória do Pai é afirmar que ele é Senhor de todo o universo, de toda a criação, da história humana e de nossas vidas. Ele, porque se fez homem, porque entrou no nosso mundo, porque entrou na história humana é, agora, glorificado, Cabeça e Juiz do nosso mundo e da nossa história. Ele e somente Ele pode ser a resposta para os leviatãs da vida e da história
Em Cristo