Para a minha remissão, perdão!
“Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34).
Contrários do que nosso Papa pediu para o Ano Santo da Misericórdia, temos vivido em uma sociedade que demanda exclusivamente seus próprios interesses e a busca intensa por prazeres imediatos: sexo, riqueza, holofotes, hipocrisia e maledicência.
Para viver de tal forma é descartado o sentimento de amor ao próximo, compaixão e solidariedade.
Não tarde, fomos convocados a praticar a misericórdia, que no sentido restrito da palavra quer dizer: sentimento de dor e solidariedade com relação a alguém que sofre uma tragédia pessoal ou que caiu em desgraça; dó, compaixão, piedade. Ato concreto de manifestação desse sentimento, como o perdão; indulgência, graça, clemência, ou seja, fomos convidados a refletir e praticar a misericórdia para com todos aqueles que de alguma forma pratica injúrias contra seu próximo.
Somos seres Humanos, dotados de corpo e alma e sentimentos de amor e ódio. Vivenciamos cada situação de maneira a agir e reagir, conforme o que nos foi apresentado. Essas ações e reações em sua maioria mexem com o nosso emocional oferecendo sentimentos de humilhação, rancor, tristeza e raiva e as consequências são árduas, para quem sofre e para quem pratica – a justiça.
Diante de toda essa parafernália afetiva, espiritual e social, somos convocados a deixar a justiça terrena e a olhar para àquele que nos ofende com Perdão, que sugere remissão de pena ou de ofensa ou de dívida; desculpa, indulto, pois, o ato de perdoar envolve Amor.
Elisabeth Kubler-Ross, uma renomada psiquiatra suíça que se dedicou a estudar pacientes hospitalizados em fases terminais ou em situações dramáticas e autora de um modelo seguido mundialmente que expõe como as pessoas reagem psiquicamente a lutos, tragédias e ofensas, relata que todas essas situações as pessoas vivenciam algo em comum – o luto – e nos oferece para melhor compreensão desde mecanismo os “cinco estágios do luto”. Após vivenciar todos estes estágios, as pessoas que sentem-se injuriadas conseguem chegar ao tão difícil perdão:
Primeiramente, com uma atitude de AUTODEFESA, as pessoas atingidas negam o que está acontecendo (por soberba ou dificuldade causada pela própria situação).
No segundo estágio, vivência a fase da IRA. A pessoa atingida passa a procurar um ‘bode expiatório’, ou seja, alguém que ela possa descarregar toda sua raiva. Esse culpado pode ser real ou imaginário.
No terceiro estágio, a pessoa atingida entra em uma espécie de DEPRESSÃO, por conta de um sentimento de culpa. Esta culpa só pode ser eliminada pelo perdão.
No quarto estágio, a pessoa tenta a BARGANHA, pois tomado pelas paixões coloca condições para que haja o perdão. Para que se chega na quinta fase, a ACEITAÇÃO, onde a pessoa concede o perdão gratuitamente, ela precisa deixar todas as outras fases de lado.
É interessante pensarmos que ambos estágios acontecem quando fazemos o Luto de um ente que faleceu, uma tragédia vivenciada ou uma ofensa sofrida, isso sugere muito sofrimento, muita cautela, muito silêncio por parte daquele que sofre.O perdão se tornou tão escasso na vida pós-moderna, pois aqui reina a dificuldade do AMOR incondicional, aquele amor que nada se recebe em troca.Transpassar todas essas fases e chegar no verdadeiro perdão é uma verdadeira luta espiritual e emocional, que deveria começar na oração e terminar se curvando diante da vontade Divina.
Referências: “Sobre a morte e o morrer” – Elisabeth Kubler-Ross; [tradução de Paulo Menezes] – 8ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 1998.
Autor: Lú Cazaroto – Psicóloga – Comunidade Javé Nissi