Saúde mental e contemporaneidade – parte II
“De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados, ficamos perplexos, mas não desesperados, somos perseguidos, mas não abandonados, abatidos, mas não destruídos” (2 Cor 4, 8-9)
Intitulado como “Saúde mental e contemporaneidade”, na edição anterior da Revista Javé Nissi, o tema em pauta “janeiro Branco”, campanha que trouxe à tona a problemática da saúde mental, falamos sobre a situação atual da sociedade e o aumento dos transtornos mentais.
Neste artigo, com o objetivo de compreender e desmistificar o suicídio, proponho aos leitores a compreensão acerca desse assunto, para que possamos desenvolver atitudes que levem a colaborar para a prevenção do suicídio.
Segundo os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 40 segundos uma pessoa se mata no mundo. Com um aumento de 60% nas taxas de suicídio, quase um milhão de pessoas resolvem acabar com a própria vida todos os anos, somando um universo de até 20 vezes mais com as tentativas mal sucedidas. Essas são estatísticas que alarmam e deixam os profissionais de saúde mental em alerta.
Sempre quando entramos em contato com algum caso de suicídio, seja de um conhecido ou membro da nossa família, ficamos o tempo todo procurando motivos reais e plausíveis para tal ato, mas o que sabemos é que os suicidas ao longo do tempo constroem sua vida de modo a achar mais sacrificante continuar vivendo que morrer.
Nunca há uma regra, mas é chamado de causa uma série de fatores cumulativos: fatores sociais, biológicos, psicológicos, familiares entre outros.
De modo geral, a dor que o sujeito carrega consigo está repleto de estados emocionais negativos, entre eles a culpa, vergonha, angústia e solidão, que são cercadas de ideias de morte com o objetivo de colocar fim nas suas emoções que chegam a ser insuportáveis.
A vida do suicida é permeada pela ambivalência: ele vai atrás da sua morte, mas existe a ideia e desejo de intervenção e socorro. Geralmente são inúmeras as tentativas de resolução de seus conflitos e de transmitir que algo está errado.
A tentativa e o suicídio podem ser consideradas fugas de um sofrimento intenso e insuportável, aliviando a tensão e consequentemente, aliviando o sofrimento.
Atualmente, a realidade em que estamos inseridos, os sentimentos de abandono, solidão, o mundo capitalista que produz muitas exigências, geram desespero, o que culmina com o fim da existência humana de milhares e milhares de pessoas.
É certo que o aumento considerável do número de suicídio no mundo faz uma relação com a entrada da tecnologia e, as redes sociais na maioria das famílias. Portanto, podemos culpar somente a tecnologia por esse aumento considerável do número de suicídios?
Não, talvez com a entrada da nova tecnologia, o mundo pós-moderno vem acompanhado de um afrouxamento dos laços relacionais. Não encontramos mais tempo para sofrer, para conviver, para viver de forma plena e saudável. Procuramos incessantemente a felicidade, como se ela fosse uma mercadoria, deixando de usufruir de pequenos detalhes e momentos prazerosos, substituindo rapidamente todos os laços afetivos dos quais achamos não mais necessitar. O vazio, a solidão e o tédio passa a aumentar ainda mais o nível de angústia, ansiedade e incompletude.
O capitalismo retira o espaço das relações e nos cobra com o empobrecimento de toda experiência humana e espiritual, assim, o desamparo é sentido (pois não temos mais o outro nas relações e sim um objeto – celular, computador, tablet, televisão), sentindo-nos desprotegidos e ameaçados e impossibilitados de encontrar fontes de verdadeiro prazer.
Diante dessas questões, uma das formas de prevenção do suicídio deve ser feita através do diálogo e a desmistificação de que a única solução para um problema e uma dor insuportável é a morte, além de passarmos a reconhecer o outro como uma pessoa passível de sofrimento, colocando-nos em sintonia com as suas questões, abertos a ouvir e ajudar. A empatia (capacidade de entender, se identificar emocionalmente com alguém ou objeto) indispensável para a saúde mental de cada Ser Humano, deve ser instigada, já que somos os únicos seres BIO-PSICO-SÓCIO-ESPIRITUAL, contemplados com Alma e racionalidade, capacitados aos relacionamentos saudáveis e amor ao próximo.