A Terceirização da Infância – parte II

A Terceirização da Infância – parte II

“Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar” (Deuteronômio 6,6-7)

Na edição de dezembro da Revista Javé Nissi, apresentamos o assunto: “A terceirização da infância” com a intenção de causar uma reflexão acerca do caminho que, nós pais, temos percorrido na educação dos nossos filhos.

Atentos a essa problemática, proponho a vocês uma nova reflexão trazendo algumas colocações imprescindíveis na educação infantil orientada pelos dados científicos e psicológicos que corroboram para nos orientar sobre consequências desastrosas no processo de terceirização da infância:

1 – A quebra dos vínculos: o bebê nasce desejando ardentemente o contato com a mãe, aquela da qual ele já conhece a voz e os batimentos cardíacos e que leva consigo o cheiro do acalento. Mesmo que a mãe precise trabalhar, é importante que ela consiga estabelecer uma rotina da qual possa passar o maior tempo possível com seu filho, isso o ajudará adquirir segurança suficiente para desenvolver-se sadiamente. Saber das nossas prioridades é um dever.

Lembre-se: o vínculo maior que o bebê estabelece é com seu cuidador principal, principalmente no primeiro ano de vida, portanto, se o bebê passa 90% do seu dia com a avó, babá, tia, é com ela que estabelecerá seu vínculo mais forte.

2 – A escola é um auxiliar na educação dos filhos e sem essa consciência muitos pais acabam transferindo para a escola o papel de principal educador, confundindo a educação com a escolarização. Os pais que devem estabelecer uma rotina coerente desde o nascimento (mamadas, desfralde, chupeta, boas maneiras), bem como ser afetivo e comunicativo.

Sob este enfoque, as escolas “gritam” por socorro ante as barbáries cometidas por seus alunos frente a falta de educação já decadente em casa.

A falta de amparo dos pais diante desta realidade é o mais grave e mesmo com um Estatuto (ECA) que prevê a participação efetiva dos pais na vida escolar dos filhos, estamos vivenciando a fragilidade onde deveres e direitos são corrompidos e os novos seres em formação são colocados em risco dia-a-dia.

3 – Saber impor disciplina: regras, limites e rotina são ensinadas em casa para que seja colocado em prática na escola e em todos os meios sociais frequentado pela criança. As crianças terceirizadas, em sua maioria, tem dificuldades em respeitar limites, pois os pais cansados ao retornar da sua jornada de trabalho acabam cedendo aos pedidos insalubres dos filhos para que se evite uma discussão ou choros/birras.

4 – Como a maioria dos pais ainda decidem pela maternidade/paternidade mais velhos, traçando sua carreira e segurança financeira como prioridade, ao adentrar a este mundo, acabam sentindo certa limitação em abrir mão do conforto (festas, viagens, reuniões, etc.) que tinham antes dos filhos.

Neste ponto começa um impasse entre reorganizar a vida para a entrada de uma criança ou terceirizar os cuidados para que se tenha a mesma vida de ‘solteiro’.

5 – Para que haja respeito entre as pessoas é necessário vivenciar o respeito nas nossas relações desde tenra infância. O abandono afetivo é dilacerante para uma criança e temos, em grande quantidade, crianças sentindo-se solitárias, sem vínculos fortes e razoáveis, à mercê do que a sociedade oferece. Nossas crianças precisam ser respeitadas e compreendidas para que possam sair da delinquência e introjetar o Respeito pelo outro.

6 – Como há uma confusão de papéis, as crianças terceirizadas constroem vínculos enfraquecidos com seus pais, sentindo de perto a dificuldade com as figuras de autoridade. Talvez isso explique o aumento considerável de casos de Transtorno Opositor e Desafiar e Psicoses na infância.

 7 – A participação efetiva na vida dos filhos, como em eventos escolares, reuniões com professores, apresentações, jogos, traz um forte sentimento de segurança, conforto e confiança, por outro lado, a ausência dos pais na rotina dos filhos causa uma baixa autoestima que pode ser enfrentado como dificuldade de socialização, baixo desempenho escolar e tristeza.

 8 – Crianças que apresentam problemas comportamentais podem usar desse artificio para uma autoproteção de questões profundas de abandono e medo.

 9 – Comum em tempos pós-modernos, muitos pais estão fisicamente próximos de seus filhos, mas afetivamente indisponíveis a eles, evitando o diálogo, as brincadeiras, a colaboração. É certo que as crianças necessitam de sentir-se amadas e ter com quem contar sempre. A sensação de falta de afeto influencia visivelmente o emocional, o comportamental e todas as relações que estabelecemos.

 Conscientes de toda a demanda exigida por uma criança, precisamos ser mais atenciosos e eficazes enquanto pais. A decisão sobre a terceirização da infância começa mesmo antes do nascimento do bebê, enquanto os pais ainda programam sua chegada. Precisamos como uma medida protetiva tomar posse sobre o que nos pertence, pois, quanto mais vulnerável este vínculo familiar, maiores serão as inconveniências: vulgarização da família, confusão em relação ao gênero e sexualidade, doutrinação política entre outros.

Autor:  Lú Cazaroto – Psicóloga – Comunidade Javé Nissi

 

Comunidade Javé Nissi

Deixe seu comentário
Captcha Clique na imagem para atualizar o captcha..