Família: uma construção de amor!
Para entendermos a importância da família na sociedade, precisamos entender qual foi a evolução desta no decorrer dos anos e assim podermos juntos refletir como devemos viver enquanto tal.
A família medieval era constituída por um conjunto de pessoas que conviviam em uma mesma ‘casa’. Na modernidade, surge a família tradicional (pai, mãe e filhos), cujo objetivo era a transmissão do patrimônio para seus herdeiros. Vale ressaltar que em todas essas sociedades, havia o modelo patriarcal, onde o Homem era a figura principal responsável pela educação e renda familiar. Logo depois, surge a família moderna onde o amor romântico aparece através do casamento e da divisão de trabalho entre marido e mulher e estes depositam a responsabilidade pela educação dos filhos no Estado.
Após a década de 60 convivemos com a família contemporânea ou ‘pós-moderna’, onde o casamento tem duração relativa e o ponto central são as relações íntimas ou realização sexual. Neste modelo que é o atual, há uma mudança brusca nos papéis sociais que homem e mulher representam. A família pós-moderna é caracterizada pela descentralização do poder parental e deixa de ser Patriarcal cedendo lugar para um contexto onde a mulher tem bastante importância se não, de maior importância.
Se entendemos que nas famílias tradicionais dos anos medievais e da modernidade o modelo vivenciado era o Patriarcal, conseguimos perceber que toda a autoridade e educação advinha da figura Paterna – leis, regras, limites e ordens – e que, atualmente, na contemporaneidade toda essa configuração é desfeita havendo um deslocamento da figura de autoridade trazendo efeitos sociais e subjetivos.
Os pais não mais bancam a autoridade junto aos seus filhos, que muitas vezes nem mesmo se relacionam. Com isso, há uma crescente dificuldade dos jovens a lidarem com as leis, com os limites e com as regras de convivência social, dando maior abertura para os comportamentos opositor e desafiante como também para o uso de drogas e transgressão de regras.
O papel materno sofre uma mudança adaptativa que se por um lado as mães do século XVII e XVIII entregavam seus filhos para que as amas de leite o criassem, havendo um alto índice de mortalidade infantil, pois o ato de cuidar de um filho levavam a olhares de pouco refinamento social, com a instalação da família burguesa e moderna, a maternidade foi sendo construída com um novo significado social e assim as mulheres aspiravam por tal condição – ser mãe.
Com a chegada dos séculos XIX e XX, as mulheres passam a valorizar o lar e os filhos tornam-se o centro dos seus interesses.
No século XXI e com a pós-modernidade, a mulher assume ainda uma responsabilidade em que é responsável por instalar em seu filho o desejo pela paternidade e pelo laço conjugal, diferente dos séculos anteriores onde o homem detinha de total poder de intitular-se pai.
Sabemos que a função materna detém muita responsabilidade na estruturação da criança como sujeito, pois é através da sua relação, do seu apego que a criança constitui uma boa saúde mental.
Vivemos na pós-modernidade um impasse bastante doloroso para a sociedade que estamos constituímos: uma certa orfandade – estamos criando filhos de pais vivos, mas com um grande sentimento de afastamento e vazio em relação aos sentimentos dos pais.
Isso começa a acontecer após o crescente número de divórcios, separações e reproduções independentes, onde os filhos não conseguem vivenciar de forma plena, tranquila e afetiva as figuras familiares.
Como entendemos na psicanálise que a criança é um sintoma da neurose e dos conflitos dos pais, podemos pensar que o esvaziamento das funções familiares na vida dos filhos causa vários transtornos, orgânicos e psíquicos sendo vezes são irremediáveis.
E como podemos reverter toda essa situação em benefício das nossas crianças? Sendo adultos mais conscientes das suas demandas e mais conscientes das suas escolhas.
Temos, oferecido por Deus e pela própria sociedade o livre arbítrio e podemos viver e conviver de inúmeras maneiras. O que não temos percebido é a importância de sabermos viver de tal maneira a não prejudicar àqueles das quais dependemos ou que de nós dependem.
Estamos em uma sociedade pós-moderna que não estabelece uma relação entre passado, presente e futuro e que fica à mercê de prazeres imediatos, colocando os filhos neste papel – frutos de prazeres momentâneos.
Portanto, encontramos pais ausentes, pais jovens, pais desinteressados, pais usuários de drogas, pais que ainda não deixaram de ser filhos, pais imaturos e que não exercem sua função acarretando uma série de impasses e desordens na sociedade.
A família tradicional, onde a função de cada membro é mais marcada, assume uma relevância no sistema de crenças, social, afetivo e no processo de desenvolvimento humano frente a construção de uma identidade e do planejamento de vida futura.
Autor: Lú Cazaroto – Psicóloga – Comunidade Javé Nissi