Beleza não se põe na mesa
Beleza é tudo? Se não é tudo, é um ingrediente que devemos considerar! Mas não fiquemos tristes, como nos ensina a sabedoria popular: a beleza está nos olhos de quem vê! Contudo, um bom relacionamento exige muito mais que beleza. Relacionamento, esta é palavra de ordem na construção de todos os seres humanos em todos os estágios de sua vida. Trata-se de um verbo, supõe uma ação mútua, que embora se dê através de realidades diversificadas, exige o mínimo de reciprocidade.
Feitas estas considerações, cabe-nos uma pergunta: existe a pessoa certa? O amor à primeira vista? No que tange a pessoa certa, já adiantamos aqui que amor à primeira vista é utopia alienante de contos ou telenovelas. Podemos sim, ter empatia ou antipatia, atração ou rejeição. A pessoa certa é aquela que nos faz crescer em todos os sentidos, está disposta a ficar conosco independente das circunstâncias, é aquela que não para em nossos defeitos, mas aposta em nosso potencial.
Interessante é observarmos que é comum nos depararmos com casais aparentemente discrepantes: “mulher bonita e homem feio e vice versa”! Quanto a essa análise será que para estes casais o critério era a beleza, ou melhor, a beleza física? Retomemos a sabedoria popular: “beleza está nos olhos de quem vê”. Será? Mais uma vez depende do ponto de vista! Analisemos esta frase sob duas óticas:
Primeiro: nos olhos de quem vê no sentido de que a pessoa está cega. Não são poucas as piadas que expressam bem isto, elenquemos algumas:
“Deus da asa para quem não sabe voar”; “Oh lá em casa”; “É muita esmola para um mendigo”, ou ainda, “Tanta carne e eu comendo arroz com feijão”.
Tais frases deixam entrever a falta de critério, a exacerbação das paixões e do egoísmo, demonstra uma vontade sem critério, e um critério da vontade. Não nos iludamos: beleza passa, as coisas caem, enrugam, mas o relacionamento quando é autêntico supera todas essas limitações e, quanto mais o tempo passa melhor fica! O bom relacionamento é um investimento para o futuro.
Segundo: a análise que verdadeiramente nos interessa, ou seja, a beleza nos olhos de quem vê é como o tesouro escondido no campo. Ela ou Ele viram o que os demais não veem! Isso é inteligência! (Intus legere = ler por dentro). O amante (aquele que ama) conheceu o outro por dentro, descobriu por trás da aparência, ou ainda, em complemento a aparência a complementaridade o encanto e deslumbramento.
Descobrir a verdadeira beleza é nosso maior desafio, ela gera autênticos relacionamentos, nos faz melhores, nos aponta para o céu! Contemplar a beleza é natural, sadio e bom! Mas corrompe-la pela cobiça é daninho, vê-la como via de usufruto é pecado e, ao contrário da vida gera morte.
Em suma: beleza não se põe na mesa, pois na mesa se põem nossos convivas, aqueles que amamos e respeitamos. O caminho da beleza é o relacionamento! Quanto melhor for nosso relacionamento, maior será o encantamento e mais extasiante será a beleza!
Autor: Carlinhos Faria – Teólogo – Membro da Comunidade Javé Nissi