Pentecostes e missão
“…permanecei na cidade até serdes revestidos da força do alto”. – (Lucas 24,49)
- Pentecostes e Missão
Ao Espírito se deve a rápida propagação do Cristianismo. Através dos séculos ele foi sempre a salvaguarda, o propulsor, o “inventor” das grandes soluções, nos momentos de crise, em que a barca de Pedro ameaçava soçobrar.
Com o nascimento da Igreja, pela vinda do Espírito Santo, inauguram-se para sempre os fins dos tempos. Com isso iniciamos a última etapa do Plano do Senhor: completar a obra de Cristo, pelo Espírito Santo. Quem tem essa missão é a Igreja, através do amor e da profecia. Esse Pentecostes será anunciado a todos os povos. Todos serão convocados a receber o Espírito Santo e a serem por Ele consagrados a Cristo, para que haja um só Pastor e um só Rebanho… Somos o novo povo nascido no Pentecostes e na Páscoa do Senhor, que busca na Esperança e no Amor a Nova terra e o Novo Céu. Não mais nos guiam Moisés e nuvem pelo deserto da vida, mas Cristo Ressuscitado e o seu amor. Em Pentecostes a Igreja tornou-se peregrina missionária. – CANSI, Fr Bernardo, OFM/Cap – Curso de Preparação para Crisma, Editora Vozes, 1976
Vimos a Igreja dizer-nos que o Senhor Jesus e o Espírito Santo estão unidos na realização da Redenção. Evidentemente, em toda a história da Salvação a Trindade não se separa. Trabalham juntos para a efetivação do plano eterno concebido “antes da fundação do mundo… para louvor e glória da sua graça” (Ef 1, 4.6). Mas as coisas divinas não têm definição na nossa linguagem humana. Podemos apenas balbuciar.
Reunidos no sangue de Cristo, nosso irmão, iluminados e fortalecidos pelo Espírito Santificador, procuramos realizar pela nossa existência humana a glória do Pai, de modo que, na verdade, a nossa vida é Trinitária. Ainda nisso estamos vivendo o mistério da fé, a bem-aventurança dos que não viram e creram (Jo 20,29).
Porque a Igreja é assistida constantemente pelo divino Espírito, ela dá aos homens a resposta a todos os seus anseios, a todas as suas angústias è inseguranças.
Pois a Igreja sabe perfeitamente que sua mensagem concorda com as aspirações mais íntimas do coração humano, quando reivindica a dignidade da vocação humana, restituindo a esperança àqueles que desesperaram de seu destino mais alto. A sua mensagem, longe de diminuir o homem, derrama luz, vida e liberdade para o seu progresso. Nada além disto pode satisfazer o coração do homem: “Fizeste-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração permanece inquieto, enquanto em Vós não descansar”. – Gaudium et Spes 21
Sobretudo no dia de hoje, vemos em todo o mundo os efeitos admiráveis desse novo Pentecostes pedido por João XXIII, ao iniciar ò Concílio Vaticano II.
Só uma muralha forte de santidade pode rechaçar a ressaca do mal que tenta invadir o mundo. Na verdade, invade-o, mas não abala os alicerces da Igreja fundada sobre a rocha, que é Cristo (Mt 7,25). A palavra do Filho de Deus permanece eternamente:
Tu és Pedro, e sobre esta. pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela. (Mt 16,18)
A Bíblia de Jerusalém nos explica que essas “portas personificadas evocam as potências do Mal que, depois de ter arrastado os homens à morte do pecado, os encadeiam definitivamente na morte eterna”. Mas Cristo, na pessoa de Pedro, orou também por sua Igreja, para que sua fé não desfaleça (Lc 22,32).
Quem tem a missão do apostolado entre muitos, sabe quanta santidade oculta está resgatando o mundo. Vemo-la por toda parte: são os humildes, os que cumprem silenciosamente as suas tarefas diárias por amor, fazendo de tudo uma oração, num diálogo que toca o coração de Deus e liberta as torrentes de sua misericórdia sobre o mundo.
Vemos as multidões que buscam a verdade e que se reúnem para orar; os jovens que erguem os seus ideais e sustentam, mesmo no meio do mundo materializado e indiferente, ou sarcástico, uma vida de pureza e de perfeição; os “doutores” que se ajoelham e baixam humildemente a cabeça para falar ao Pai do Céu; os simples que conversam com Cristo como se o vissem a seu lado, e tantas, tantas, coisas sublimes que são o segredo de Deus e as maravilhas do “Espírito Santo educador” (Sab 1,5).
- Pentecostes hoje.
Seria difícil resumir tudo o que Deus está realizando no seu povo de hoje, nessa renovação prodigiosa a que se deu o nome de carismática, mas que é, em realidade, a renovação espiritual da Igreja — ela mesma a carismática por excelência — chamando os fiéis a uma adesão mais conscientizada ao Espírito do seu batismo e à sua ação santificadora. Pela graça divina, gente sem conta está atenta a esse apelo, está se compenetrando de sua responsabilidade de batizados, de renascidos “da água e do Espírito” (Jo 3,5), de seu dever de santificação e de utilização de seus inúmeros dons e carismas “para a edificação do Corpo de Cristo” (Ef 4,12).
Em meio à tempestuosa noite do mal, que ninguém pode deixar de reconhecer, novamente aparece a luminosa figura de Cristo, e sua voz ressoa mais forte que todos os ventos: “Tende confiança, sou eu, não tenhais medo” (Mt 14,27; Mc 6,50).
O meu Pentecostes também é perene. Tive-o muito sentido, talvez, um dia. For ocasião da minha Confirmação, dos meus compromissos sacerdotais ou religiosos, do meu casamento, da minha conversão, ou num dia qualquer, em que a ação da graça me chamou a uma doação maior. Senti, então, com Paulo, que a caridade de Cristo me compelia (2 Cor 5,14), me chamava a sair da mediocridade, a viver o “mais”, para a glória de Deus, a “maior consagração”, que é um dom do Espírito Santo, e que foi a meta dos santos.
Esse dia passou e talvez eu tenha caído na rotina, voltado ao ramerrão insignificante e à lei do menor esforço. No entanto, é a cada instante que o divino Espírito do meu batismo me fala dos seus sonhos de santidade em num. Quando estou atento, tenho um novo Pentecostes, uma nova efusão, um novo impulso, e vou permitindo que a imagem de Deus, que ele quer formar em mim, vá se tornando “sempre mais resplandecente” (2 Cor 3,18), para a glória do Pai e a extensão do Reino de Deus. Esse reino, de dimensão escatológica, cresce na medida em que eu deixo Cristo crescer em mim, portanto na medida em que me deixo diminuir para que ele cresça (Jo 3,30).
Para realizar essa missão, deu-nos a força do seu Espírito e a presença de seu Filho, como companheiro de peregrinação pela vida. Cada graça recebida é um sopro do Espírito, uma centelha de seu fogo, aquecendo o mundo por nosso intermédio. Como os cristãos na vigília pascal, devemos transmitir esse fogo de irmão em irmão, derretendo assim o gelo do mundo, prisioneiro da matéria, e arrancando-o “do poder das trevas” (Col 1,13).
O fogo do nosso Pentecostes perene é o mesmo que Cristo veio trazer à terra (Lc 12,49), e que deseja manter aceso até à parusia. Ë aquele mesmo fogo com que ele nos batiza no Espírito Santo (Mt 3,11; Lc 3,16). Melhor ainda, é o próprio Espírito do nosso batismo abrasando-nos no amor, e fazendo-nos, nesse amor, discípulos e testemunhas de Jesus (Jo 3,35; At 1,9), e clamando nos nossos corações: Abba, Papai! (Gl 4, 6).
Autor: Tácito Coutinho – Tatá – Moderador do Conselho da Comunidade Javé Nissi