Advento
Cristo vem. O Salvador está para nascer. A Igreja O espera, O deseja. Por Ele suspira. Então não podemos permanecer indiferentes em nossos sentimentos, passando os dias do Advento – tempo de alegria, de espera vibrante – com apatia, pouco dispostos a viver o espírito da Igreja.
Chegou o momento propício para elevar bem alto nosso coração, acolhendo o convite do Profeta e sentindo a alegria que procede de nosso Deus: “olha para o Oriente, Jerusalém, e vê a alegria que te vem da parte de Deus” (Baruc 4,36). Este é o objetivo para o qual deveríamos voltar a atenção de nosso espírito.
Podemos pensar, à primeira vista, que somente os santos estão em condições de esperar verdadeiramente com alegria a vinda de Cristo. Isso não é verdade. Pode-se dizer, em certo sentido que os pecadores estão em situação de se alegrar bem mais do que os próprios justos.
De fato, o Filho de Deus veio do céu para salvar o que estava perdido (Mt 18,11), pois Ele mesmo havia afirmado que veio em busca dos pecadores e não dos justos: “de fato não é a justos que vim chamar, mas a pecadores” (Mt 9,13). E o nome que assume ao se fazer homem – nome anunciado pelo ministério do Anjo e solenemente traduzido – é Jesus, isto é, Salvador, aquele que liberta seu povo dos pecados (Mt 1,21).
A nós pecadores, oprimidos pela escravidão de nossos pecados, é endereçada e anunciada a visita do Rei dos céus. Ele nos quer livrar com sua graça e enriquecer com seus preciosos dons. “Devemos, portanto, sentir com enorme alegria a aproximação do feliz e alegre dia que supera toda imaginação humana. A miséria que tanto nos confundia antigamente e nos levava quase ao desespero agora se torna motivo de renovada esperança. E aqueles que conheciam nossa antiga miséria admirarão a sabedoria e o poder de Deus que sabe dar vida às coisas que existem e às que não existem (Rm 4,17)” (Padre Gaspar Bertoni, 1777-1853) Ele escolhe o que é mais fraco aos olhos do mundo para confundir os mais fortes (1Cor 1, 27).
Neste tempo de Advento devemos repetir cada um de nós: para frente, pobre coração; alegre-se pela misericórdia do Senhor e Ele trará sua felicidade: “Põe no Senhor tuas delícias e ele te dará o que teu coração pede” (Sl 37 [36],4)
Parece um exagero o fato de que o Verbo de Deus tenha se encarnado por amor apaixonado de cada um de nós e quer atrair-nos por meio de convites afetuosos, para estar com Ele. Temos dificuldades de entender esse amor de Deus manifestado em Jesus, Verbo Encarnado.
O mistério é que o amor de Deus não é causado pelo bem que possa haver em nós, mas porque é Ele que o realiza em nós. É por isso que Deus ama até as coisas que não existem, afim de que elas possam vir a existir (São Tomás de Aquino). Assim nos ama apesar do pecado, para nos regenerar com sua graça. São Paulo diz a esse respeito: “outrora éreis trevas (por causa dos vícios e superstições), mas agora sois luz no Senhor” (Ef 5,8).
Já se aproxima o tempo favorável, já estão próximos os dias da Salvação (2Cor 6,2). Uma esperança já nasceu em nossos corações e sentimentos de alegria já nos envolvem.
Quem deseja correr ao encontro de Cristo, que se aproxima, deve unir, ao seu desejo o esforço, a atitude prática de abandonar e deixar totalmente os maus costumes, bem como a soberba de seus pensamentos. Além disso, deve converter-se e arrepender-se diante de Cristo reconhecendo, contrito, ser pecador. Advento, tempo de espera é também tempo de “faxina grossa” (São João Vianney, o Cura D’Ars).
Nosso Senhor Jesus Cristo nos conceda a graça de poder fazer isso no tempo do Advento, da melhor maneira possível. Ao vir para estar conosco, que Ele possa unir nossos corações ao Seu através da graça nesta vida. E por meio da glória, na outra, possamos, aqui na terra e lá no céu, festejar tal felicidade e juntos louvar sua misericórdia.
Autor: Tácito Coutinho – Tatá – Moderador do Conselho da Comunidade Javé Nissi