Comunidade, um despertar atual

Comunidade, um despertar atual

a) O fenômeno comunitário na Igreja Católica

“Comunidade” é um termo de uso corrente e conhecido, relativamente claro, embora polivalente; faz pensar em grupos, bastante homogêneos, que partilham muitas coisas e vivem valores fortes com acentuada intensidade.

O fenômeno comunitário assume grande visibilidade. O interesse pelo fenômeno comunitário entre os cristãos remonta aos anos 70 e ainda continua bem marcante nestes tempos.

Apesar de todo o desenvolvimento das comunidades e de formas comunitárias, algumas dificuldades têm aparecido. Não tanto por causa dos problemas que as comunidades costumam suscitar às formas institucionais bem estabelecidas da Igreja, mas sim porque o cristianismo, principalmente o católico, parece andar meio perdido diante do fenômeno comunitário.

As comunidades hoje existentes correspondem a acentuações ou estilos de fé que são bem peculiares. É o caso, por exemplo, das comunidades de base (CEBs), mais comprometidas com o aspecto sócio-político, das comunidades de vida e ou de aliança surgidas na Renovação Carismática, orientadas por uma experiência própria do Espírito (carisma fundante) e voltadas para o louvor a Deus e o anúncio explícito do Evangelho; ambas supõem uma vocação e uma solidariedade que não são exatamente as de todos os cristãos.

Daí a necessidade de que surjam comunidades mais diversificadas que respondam a busca e o desejo do povo cristão, de um modo geral. Ou seja, comunidades simples, acessíveis, que permitam partilhar a vida que se leva e a fé que se tem.

Existe a tentação de pensar que os cristãos nada esperam nesse campo, que são individualistas e não se interessam ou não vêm a necessidade de uma comunidade. Mas, depois de tantos anos de trabalho e de reflexão, temos a convicção que falta, no momento atual, um empenho a favor do florescimento de comunidades cristãs abertas a um maior número de pessoas. As comunidades atualmente existentes não respondem às necessidades que são ou deverão ser satisfeitas.

b) Necessidades de uma comunidade

Falamos de necessidades, mas por quê? Por dois motivos. O primeiro: uma Igreja demasiado anônima, onde a maioria dos cristãos não tem a possibilidade de viver uma experiência comunitária que permita perceber, de um modo diferente do que ocorre em grupos anônimos, o que é partilhar a fé.

O segundo motivo é que os cristãos anseiam por comunidades, se não no começo de sua trajetória eclesial, pelo menos na medida em que avançam. Quando descobrem ou redescobrem uma nova maneira de viver a fé evangélica e a pertença eclesial sentem muito claramente que a missa dominical não basta para alimentar sua fé. Eles sentem necessidade também de falar com outras pessoas acerca do que fazem e do que crêem, e que, aliás, descobriram graças aos meios que a Igreja lhes propiciou. Estariam eles como que impedidos de prosseguir numa perspectiva comunitária simplesmente porque isso é mais difícil ou menos habitual na Igreja de todos os dias? Precisamos refletir sobre o que poderia ser uma experiência normal de comunidade para cristãos comuns que o Espírito convoca para viver em Igreja.

Existem pressões e não basta fazer alarde do “comunitário” para enfrentar os desafios de nosso tempo e as relações sociais, nacionais e internacionais. A comunidade não é uma panaceia, nem tem resposta para tudo. Mas talvez seja um elemento precioso, e até mesmo vital, a levar em conta diante dos múltiplos desafios que tanto as Igrejas como as sociedades têm de enfrentar.

c) O que é comunidade?

São muitas as ocasiões de estar com os outros, e nem todas essas ocasiões dão origem, efetivamente, ao que chamamos de comunidade. Daí a utilidade de começar por explicitar não só a terminologia, mas também os diversos tipos de experiência que podemos fazer nesse campo.

Podemos dizer que uma comunidade tem a ver com o que hoje costumamos chamar de “mundo associativo, ou seja, as formas de encontro, comunicação e ação comum que resultam da livre iniciativa dos membros que as compõem, e que não pertencem — pelo menos quando começam — à rede de instituições da sociedade global (esferas da política, da administração, da comunicação etc.)”.[1]

Nesse sentido, uma comunidade (eclesial ou não) é um grupo livremente instituído (1) à margem do sistema social (ou eclesial) tomado em conjunto (2). Não são todos os grupos que possuem estas duas características, existindo grupos que são células da organização coletiva (câmaras de vereadores e, no que toca à Igreja, as paróquias).

A palavra “grupo” tem, portanto, um sentido mais amplo e mais neutro do que “comunidade”; um grupo tanto pode ser “informal” como pode estar ligado estatutariamente à organização social ou eclesial. Já uma comunidade corresponde a um tipo peculiar de grupo, que depende da livre iniciativa de seus membros e tem certa autonomia com relação à sociedade ou à Igreja. É uma associação.

Observamos que certas comunidades, considerando que a palavra “comunidade” tem uma conotação mais profunda preferem chamarem-se simplesmente de “grupo”.

Costumamos também falar de “comunidades naturais” para enfatizar o aspecto concreto de agrupamentos de forte base local (família, aldeia, bairro, redes de solidariedade ou de proximidade social). Lembramos que essa base natural sempre manifesta a vontade cultural de encontro com os outros.

Diante do exposto, “podemos dizer que uma comunidade resulta de um pacto entre seus membros, de uma aliança contratual livremente consentida, qualquer que seja sua forma, isto é, quer haja uma regra comunitária, quer não haja regulamentos e a comunidade prefira viver no dia-a-dia a fidelidade às orientações comuns”[2].

O termo “comunidade” pode ser empregado também em sentido amplo para designar certas instituições ou organizações que enfatizam ou valorizam, ao mesmo tempo, os relacionamentos internos e o estilo de convivência. Nesse sentido, pode-se falar de uma “comunidade urbana”, de uma “comunidade paroquial”.

Os documentos do Concílio Vaticano II utilizam a palavra “comunidade” de uma maneira mais ampla, podendo designar:

  • A Igreja em seu conjunto: Constituição pastoral Gaudium et spes 58; Decreto Ad gentes, 14 e 16; Constituição Sacrosanctum concilium 37;
  • A paróquia: Constituição pastoral Gaudium et spes 30; Decreto Ad gentes, 15, 16 e 37; Decreto Apostolicam actuositatem, 10; Constituição Sacrosanctum concilium, 42; Decreto Christus Dominus,30;
  • A diocese: Decreto Ad gentes, 20, 37;
  • Um tipo específico de comunidade, a chamada comunidade religiosa (ordens, congregações, institutos): Decreto Perfectae caritatis;
  • As Igrejas separadas: Decreto Unitatis redintegratio, 3, 4, 19; Decreto Optatam totius, 16.
  • A comunidade humana como um todo: Constituição dogmática Lumen gentium, 31, 42, 44; Constituição pastoral Gaudium et spes, 5, 9, 25, 65, 73-75, 84 e 86; Declaração Gravissimum educationis, , 3; Decreto Apostolicam actuositatem, 7.

d) As relações de partilha

Aprofundando a compreensão do que seja uma comunidade, percebemos um terceiro elemento constitutivo: a comunidade supõe e estimula relações intensas entre seus membros. Uma comunidade é um grupo onde o interpessoal tem grande importância. Os membros se conhecem, e não desejam que se introduza o germe do anonimato em seu meio; o grupo deve favorecer cada membro falar e dar-se a conhecer. Cada um pretende ser ouvido e, em troca, dispõe-se a ficar atento ao que os outros membros têm a dizer. Evidentemente, o número de membros que permite que o grupo se sinta em “escala humana” é variável.

Uma comunidade supõe uma partilha bastante profunda. Não é apenas um grupo de tarefas, ou um agrupamento constituído em vista de uma ação. Isso também, mas não é tudo. Os membros de uma comunidade cristã estão de acordo para referir-se às iniciativas do grupo em nome de uma experiência espiritual de “partilha”, de escuta e oração em comum. “Cada um assume arriscar algo que é seu, e disso nasce uma experiência de natureza diferente daquela a que cada um estava acostumado. Uma comunidade é da ordem do qualitativo, e de um qualitativo específico”.[3]

Falamos do “calor humano” do grupo, e muitas vezes receamos que os grupos calorosos acabem se “fechando” servindo de desculpa para evitar as dificuldades da vida na sociedade (mundo). Existe o risco, mas temos que impedir a experiência antes de tentar viver a ousadia do desafio comunitário? Queremos descobrir a vida e a fé sob uma nova forma, diferente, e para tanto o grupo se apresenta ao mesmo tempo como meio e expressão concreta, ou presença, dessa outra vida para a qual todos tendem. No cristianismo, pensamos na comunidade a partir do ideal de convivência apresentado nas Escrituras e nos exemplos apresentados ali.

e) Comunidade e comunidade

A definição geral de comunidade não é bastante. A comunidade cristã é, como qualquer outra comunidade, uma forma associativa de caráter opcional e autônoma e que visa estimular a partilha em seu seio. Mas o cristianismo acrescenta na ordenação desses grupos algumas particularidades que são, evidentemente, essenciais.

Acrescenta, sobretudo, as indicações clássicas e conhecidas: a comunidade deve ter algo de familiar e ser semelhante a uma fraternidade e supõe, como lemos nos Atos dos Apóstolos, a dimensão espiritual, a dimensão material, a confiança e os momentos intensos da experiência de Deus.

Uma comunidade supõe não apenas a dimensão associativa (livre decisão e autonomia), mas também a partilha propriamente dita (e, portanto, uma forma de relação mais exigente do que a requerida por uma associação não-comunitária).

Sob esse aspecto, a comunidade distingue-se da equipe. É certo que, nos dois casos, trata-se de efetivos restritos e há certa convivência; e, por ser livremente constituída, a equipe faz parte igualmente do gênero associativo. Todavia, a diferença está na concepção de partilha, isto é, do que é posto em comum, pois numa comunidade as relações entre as pessoas têm um estilo mais denso e um conteúdo mais amplo e mais pessoal do que numa equipe.

“Posto que Jesus Cristo é seu único fundamento, a comunidade cristã não é uma realidade de ordem psíquica, mas de ordem espiritual. E nisso ela se distingue de todas as outras formas de comunidade. ‘Espiritual’, segundo a Bíblia, é o que vem do Espírito Santo, que é quem nos faz reconhecer Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Por ‘psíquico ‘, a Bíblia entende, ao contrário, tudo aquilo que, em nossas almas, é a expressão de nossos desejos, de nossas virtudes e de nossas possibilidades naturais”.[4]

Existem fatores a serem considerados quando tomamos a comunidade em relação a conjuntos numericamente mais importantes e de estrutura menos delimitada. É o caso que ocorre com o povo (uma determinada etnia, ou o povo de Deus), que se exprime através de uma consciência de pertença e co-responsabilidade, de uma história comum que serve como referência, ou de uma língua comum; mas, como tal, o povo não chega a constituir propriamente uma comunidade, pois é por natureza muito numeroso e não pode ser fisicamente reunido.

Também o que chamamos de “público”, ou seja, um conjunto humano relativamente indeterminado cuja unificação se dá ou por interesses comuns ou pelas estratégias da mídia, (público de um filme ou de uma rede de televisão ou “o grande público”, ou ainda “público-alvo”) que é por natureza mais delimitado, não forma uma comunidade, embora em seu meio existam correntes de opinião e determinadas conivências.

Não podemos chamar de comunidades certas organizações sociais ou eclesiais que procuram suscitar e manter entre seus membros uma consciência comum e certa solidariedade (empresas, escolas, organizações não-governamentais etc), pois em geral são organismos de grandes dimensões, e as relações entre seus membros são principalmente de natureza funcional. Talvez possam ser consideradas como comunidades no sentido mais amplo.

Aliás, é o que costuma ocorrer quando uma comunidade se desenvolve e se dissemina, dando origem a outras comunidades e guardando a designação de comunidade para identificar o conjunto (esta forma é identificada como “rede”). É compreensível que se queira preservar uma linguagem comunitária, própria ao grande grupo (por exemplo: Igreja de “comunhão”). Mas uma rede de comunidades não é exatamente uma comunidade no sentido próprio, mesmo quando o que a anima é o espírito comunitário.

f) Comunidade paroquial

Necessariamente temos que citar, mesmo que sucintamente, o problema que é despertado pela paróquia. Alguns anos atrás, muitos cristãos sonhavam com “paróquias comunitárias”, e hoje em dia continua-se a ver a paróquia como uma comunidade. Mas, observando as coisas mais de perto, o que se percebe é que a paróquia, principalmente a urbana, não vai muito além daquela forma ampliada e genérica de comunidade de que já falamos. Por um tempo, é bem possível que se tenha sonhado reencontrar na cidade o tipo de relações que antes existia na paróquia rural, mas mesmo esta não era propriamente uma comunidade no sentido que hoje se dá à palavra.

“A paróquia atual não é, em sentido verdadeiro, uma comunidade. Ela não pode ser uma comunidade propriamente dita porque mesmo o número de seus membros, demasiado grande, serve de obstáculo e impede que eles realmente se conheçam, mantenham relações verdadeiramente humanas e, a fortiori, possam trocar idéias e experiências no nível da vida espiritual e da fé”.[5]

A Igreja local (paróquia) não é parcela da Igreja no sentido exato do termo; trata-se antes de modalidade organizatória da Igreja particular com o objetivo de melhor satisfazer às tarefas pastorais. Sob este prisma de sua origem, a paróquia cuidava de três encargos: administração do batismo, celebração da eucaristia e assistência aos indigentes. O âmbito de sua competência dependia da densidade populacional. Crescendo a influência do sistema feudal, a paróquia também adotava traços feudalistas expressos na circunscrição territorial de sua jurisdição, nos bens materiais e na administração dos bens espirituais necessários para a salvação (sacramentos e sacramentais).

“Um dos distintivos da paróquia é a centralização da administração dos sacramentos, a insistência sobre o múnus presbiteral e a sua jurisdição delegada da parte do bispo, pelo que o pároco funcionava como intermediário entre bispo e do povo, sendo este delimitado territorialmente a um só lugar de administração da salvação e da atividade religiosa, cabendo-lhe papel bastante passivo. A finalidade da organização era abarcar, em nome da religião, o Povo de Deus dentro da estrutura patriarcal e do sistema feudal de produção para santificar-lhe a vida apostolicamente. Esta finalidade era atingida realmente durante séculos em seguida”.[6]

Atualmente são muitos documentos oficiais e teólogos que abordam a grave crise deste modelo pastoral: “Em nossa pátria, por causa da vasta extensão das paróquias e escassez de clero e pouca influência da renovação eclesial, propiciada pelo Concílio de Trento, além de outros fatores tais como a originalidade da formação de nossas cidades e dos métodos de evangelização nelas empregados, a paróquia viu-se enfraquecida na eficácia da ação evangelizadora, apresentando deficiências que progressivamente foram se agravando, atingindo uma fase mais crítica no período da atual caminhada da Igreja… Este sistema tem funcionado com certa eficácia nas cidades pequenas e médias, segundo cada região. Entretanto, o atual fenômeno da urbanização com suas características próprias não deixa de questionar a estrutura e o sistema paroquiais”.[7]

O homem urbano já vive num ambiente social abrangente de todas as áreas de sua vida. As múltiplas implicâncias sociais asseguram ao indivíduo as mais variadas opções capazes de lhe estimular a liberdade pessoal. A paróquia tradicional, comprovada como instância controladora e totalitária, é rejeitada instintivamente. Em seu lugar, o homem busca outros agrupamentos e comunidades para fazer frente à quantidade das possíveis realizações. “Portanto precisamos prever para o futuro vários tipos de laços comunitários e vários tipos de pertença à Igreja por meio da pertença aos grupos. Cada pertença será limitada, cada comunidade será especializada e capacitada para responder a um tipo de necessidades cristãs. A harmonia na multiplicidade fará a configuração da Igreja de amanhã”.[8]

Os fatores concretos da transformação e da diferenciação da população, a dependência dos modelos de organização técnica e econômica, a discriminação dos cidadãos segundo a profissão, a cultura, a residência, os lazeres e as ideologias — arrastaram o homem ao isolamento até a marginalização, sugerindo, por outro lado, o desejo de solidariedade e participação ativa no processo sociológico. Esse comportamento reflete, na comunidade paroquial, o desejo de uma “comunidade mais humana” e possível aos fiéis. São estes mesmos fatores que põem em xeque a estrutura paroquial, que reclama “uma séria revisão do sistema paroquial com seu território, matriz e grupos atuantes”.[9]

O critério territorial conserva a sua legitimidade por ser a “igreja” o ponto de convergência das comunidades, dos líderes e dos ministros hierárquicos. Ao seu lado está surgindo o princípio pessoal que congrega uma comunidade paroquial portadora dos interesses e objetivos comuns, independentemente da residência de cada um (a paróquia por opção). A paróquia transforma-se então numa “rede de grupos organizados” que abriga espontaneamente aquelas pessoas cujas aspirações religiosas combinam com este ou aquele grupo. Estes agrupamentos (aqui vemos o sentido das “comunidades e Grupos de Oração”) necessitam da função integrante da paróquia, a fim de que seja renovadas a sua dimensão apostólica e missão missionária no seio da Igreja, e orientada em vista da vida total da Igreja. Sem essa precaução, os ditos grupos cairiam inevitavelmente no perigo do isolamento.

“Entre os encargos mais urgentes sobressai a promoção das comunidades no intuito da tarefa especial e do exercício de seus carismas, bem como da formação de lideranças idôneas e indispensáveis para um apostolado leigo harmonioso”[10].

“A paróquia reúne em si duas realidades eclesiais: unificada na tradição apostólica, ela cria comunidades que ostentam uma convivência fraternal no espírito evangélico, celebrando a presença salvífica de Deus em meio ao dia-a-dia (1). Ela alarga o horizonte do Povo de Deus universal, missionário e responsável pelo mundo, agregando-o ao ministério hierárquico do Povo de Deus, atribuindo-lhe segurança institucional, deduzida da filiação divina na morte e ressurreição de Jesus Cristo, superposta aos vínculos humanos da solidariedade (2)”.[11]

g) Grupo de Oração, Reunião de Oração e Comunidade.

  • Grupo de Oração

Aqui cabe uma distinção entre Grupo de Oração e Reunião de Oração. Nem toda Reunião de Oração é um Grupo de Oração.

O conceito GRUPO envolve dimensões comunitárias, ou seja, da formação de uma comunidade, como já vimos acima. As Reuniões de Oração (que nós chamamos de Grupos de Oração) são promovidas por este Grupo Comunitário ou pela Comunidade, sendo expressão de sua vida e “porta” para aqueles que querem participar desta experiência.

O conceito de Grupo “implica na consciência de interesses comuns (comunitários) e no reconhecimento da interdependência” e na solidariedade (co-responsabilidade) Estes elementos podem ser chamados de fraternidade. Ainda “grupo é um todo dinâmico, em movimento, por fazer-se, com relações de partilha e co-responsabilidade entre os seus membros.”[12]

Este mesmo conceito de Grupo como comunidade orienta toda a reflexão de Bert Ghezzi no livro “Se o Senhor não construir”, Edições Paulinas – 1976, onde na pág 75, afirma que “A reunião de oração é o coração do Grupo de Oração”. Portanto concluímos que o Grupo de Oração precisa ser uma expressão de comunidade, ou melhor, de uma experiência de vida de comunidade, sendo este seu objetivo. A mesma visão leva o Cardeal Paul Cordes a considerar os Grupo de Oração como uma forma de vida comunitária ao lado das “novas comunidades”.[13]

A reunião do Grupo de Oração (grupo no sentido afirmado acima) está fundamentada na promessa de nosso Senhor que “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt 18,20). Sua finalidade é proporcionar e aprofundar a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo que se faz pelo derramamento do Espírito Santo.

  • Reunião de Oração

As Reuniões de Oração são expressões de um Grupo de Oração e servem para manifestar a vida comunitária gerada pela experiência do Espírito Santo, sendo, ao mesmo tempo, uma oportunidade de inserção nesta mesma comunidade para todo participante.

Este Grupo de Oração, considerando suas relações internas, solidariedade (co-responsabilidade), empenho em tarefas e objetivos comuns e, sobretudo, participante de uma experiência religiosa – espiritual comum, pode ser chamado de “comunidade” ou ainda, o “princípio de uma comunidade”.

A reunião do Grupo de Oração é uma reunião semanal de uma comunidade que procura levar uma vida cristã intensa no mundo moderno. É no encontro de oração que esta comunidade se reúne para compartilhar suas experiências, dar e receber estímulos, e evangelizar e acolher os novos participantes. Tem características que a distinguem da maioria das reuniões de cristãos:

Jesus é o centro de atenção do encontro de oração. Tudo que se diz e tudo que se faz é dito e feito pela fé em Jesus como Senhor e com uma convicção profunda da sua presença. É um encontro onde há muita liberdade, cantos, gestos, ensinamento, louvor, oração espontânea, petição etc. Tudo tem o seu sentido.

Não é um acontecimento unilateral em que os homens fazem tudo. Deus age por seu Santo Espírito, comunicando seus dons e inspirando a oração e as atividades na reunião. Na reunião Deus fala aos homens: Sagrada Escritura, ensinamentos, acontecimentos da vida diária, e dons carismáticos. São estes dons especialmente que tornam nossos encontros de oração únicos.

  • Bert Ghezzi

A seguir um trecho do livro de Bert Ghezzi, pois que são bem oportunas suas considerações:

O cristianismo, por vontade de Deus, é um sistema de relacionamento entre irmãos do Senhor. Quando Jesus orou pela nossa unidade “a fim de que todos sejam um” ( Jo 17, 21 ) e nos mandou amar uns aos outros como ele nos amou “dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” ( Jo 13,34 ), ele não estava falando de algo invisível ou abstrato. Estava chamando-nos para formar um corpo que todas as pessoas pudessem ver. Era sua intenção que as pessoas viessem a acreditar que o Pai o tinha enviado, observando a qualidade de nosso relacionamento de uns com os outros. Os grupos de oração carismáticos estão vivendo uma renovação desta dimensão da vida da Igreja e prometem renová-la em todo o cristianismo.

Não é fácil construir um relacionamento fraterno, mas o Senhor nos deu recursos poderosos com os quais o podemos fazer. Os grupos de oração deverão despender o máximo de esforço para ajudar os membros a aprender s se amarem mutuamente, uma vez que o amor é a finalidade da vida cristã.

Os grupos de oração podem dar uma grande contribuição à renovação da Igreja empregando fielmente todos os meios possíveis de promover o relacionamento pessoal entre os seus membros.

Os grupos de oração são ambientes que ajudam as pessoas a amarem o Senhor e a amarem seus irmãos. Todas as reuniões e atividades do grupo devem destinar-se a levar as pessoas a progredir no amor. Os membros do grupo de oração nunca devem considerar as reuniões como obrigações, mas como oportunidades de aperfeiçoar o seu relacionamento pessoal. Assim as equipes de dirigentes devem considerar bem os esquemas dos encontros do grupo e das suas e das suas atividades para se certificar que o amor, não o encontro é a finalidade do grupo de oração. .[14]

[1] GONDAL, Marie-Louise – “Comunidades no cristianismo, um novo passo a ser dado”, Edições Paulinas, 1999

[2] Idem

[3] GONDAL, Marie-Louise, obra citada

[4] BONHEFFER, Dietrich – Sobre a vida comunitária.

[5] LÉGAUT, Marcel – “Mutation de l’Église et converion personelle”, Aubier, 1975, citado por Schillebeeckx, Edward, in “Por uma Igreja mais humana”, Edições Paulinas, 1989

[6] PIEPKE, Joaquim G. Svd, “A Igreja voltada para o homem”, Edições Paulinas, 1986

[7] COMBLIM, José, “Utopia da comunidade paroquial”, em Pastoral urbana, pp. 787-789); Pastor, “Crise da paróquia” em Paróquia, pp. 25-27.

[8] COMBLIN, José, “Pastoral urbana”, p. 792

[9] CNBB Sul I, Pastoral, p. 13

[10] PIEPKE, Joaquim G. svd, “A Igreja voltada para o homem”, Edições Paulinas, 1986

[11] idem

[12] SARTRE, Jean Paul (1978) – citado em  Liderança , aprenda a mudar em Grupo,de Maria Gayotto e Ideli Domingues, Editora Vozes, 1996, pág. 22.

[13] CORDES, Paul Josef Cardeal, Reflexões sobre a Renovação Carismática Católica, Edições Loyola, 1999

[14] GHEZZI, Bert, Se o Senhor não construir, Edições Paulinas, 1976, pag 147 e 148

 

Autor: Tácito Coutinho – Tatá – Moderador do Conselho da Comunidade Javé Nissi

Comunidade Javé Nissi

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