SEXUALIDADE – CELEBRAÇÃO DA VIDA

SEXUALIDADE – CELEBRAÇÃO DA VIDA

Se numa perspectiva histórica podemos ver como aspecto negativo a inferência religiosa feita sobre a sexualidade, vista como prática pecaminosa, no momento atual caminhamos no outro extremo, onde vigora a lei da não lei, ou seja, da banalização. Em nome da autonomia da pessoa e em detrimento (desconsiderando) à doutrinação religiosa, o culto ao corpo expressou não somente um narcisismo, como também um “quase platonismo”, pois se na filosofia platônica e também na tradição teológica cristã, o corpo deve ser menosprezado, por ser inferior a alma, ou espírito se assim quisermos, vale salientar que em nome da autonomia moderna, onde o corpo se tornou via irresponsável da realização dos desejos, esse mesmo corpo é tão sucateado quanto à filosofia platônica e estoicista que adentrou a Igreja.

Basta que saibamos e nos conscientizemos que tanto o tradicionalismo quanto o modernismo, no que se refere a sexualidade, não beneficiaram o ser humano. Tal autonomia deveria caminhar para a integração da pessoa com suas paixões, de modo que no amor a autonomia e o desejo fossem motivo de festa, de celebração, levando a maior estabilidade matrimonial ou mesmo nos relacionamentos que não galgaram os altares da sacralidade. Com isso, precisamos nos perguntar: onde erramos? Que caminhos traçar?

Podemos afirmar com veemência que erramos por não buscarmos o necessário aprendizado com a história, com os testemunhos ou mesmo as próprias experiencias que já tenhamos tido. O caminho, como vimos acima, não está no moralismo, nem no laxismo, mas na maneira como nos vemos e nos entendemos. Em termos técnicos podemos dizer que nossa antropologia está desalinhada (errada), ontologicamente (do profundo do nosso ser) somos tendentes ao prazer e a felicidade, contudo, também somos tendentes ao desvio nessas querências.

Adentremos a ênfase simbólica de nosso título, quando nos referimos a sexualidade como celebração e vida, tentamos situá-la no tempo e no espaço, isto é, pela celebração cabe-nos acolher os ritos que adornam e embelezam a sexualidade, pela vida percebemos que estamos em construção. Logo, a sexualidade precisa ser vivida na expectativa, como anseio profundo de um casal que se ama, onde o amor é a chama que alimenta o desejo e não o oposto, justamente na inversão dessas dimensões é que dessacralizamos a sexualidade, maculamos sua história e, por conseguinte, fechamo-nos à vida.

Fazer da sexualidade a celebração da vida é ir além de uma sustentação cujo fim último é a prole (ter filhos), claro está que a prole (filho/a) é a coroação dessa celebração de amor, contudo um dos principais problemas da relação matrimonial está na dissociação do amor com o desejo. Se afirmamos que o amor precisa ser cuidado, cultivado, para sempre florescer, esse cuidado/cultivo deve se interligar em ambas as dimensões.

Depois de tentarmos situar a sexualidade na vida e apontar seu ambiente/circunstância propício, nossa exortação se encaminha ao seu público primeiro, a juventude, não simplesmente por questão de idade, antes como nota preventiva aos que desejam viver sua sexualidade, minimizando sempre que possível seus traumas e frustrações, que ela quase sempre acarreta. Aos que já vivem sua sexualidade e nela experimentaram seus dissabores, fica uma exortação curativa, levando em consideração que a dinâmica de nossa vida não nos permite, pelo menos sadiamente, que fiquemos amarrados em nossos traumas e nem mesmo iludidos em mero saudosismo.

É sabedoria zelar e aprender sobre a sexualidade para bem vivê-la e consequentemente disfrutar de todos os prazeres que ela pode nos proporcionar, mas também é sabido que podemos vivê-la como bem entendermos, claro, porém, cientes, que uma conduta impensada e sem escrúpulos sempre cobra seu preço.

No projeto de Deus a sexualidade é celebração (alegria) e é vida (contentamento e responsabilidade). Celebremos a vida e nela uma sexualidade bem vivida, consciente, harmoniosa, recheada de desejos que realmente nos realizem, tornando-nos pessoas capazes de amar e imbuídas desse amor puro e verdadeiro.

Autor: José Carlos Faria – Carlinhos – Teólogo – Comunidade Javé Nissi

Comunidade Javé Nissi

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